Em busca de saídas
Enquanto o agora deputado federal José Dirceu, que reassume hoje seu mandato, trabalha no PT para reaproximar o governo dos chamados movimentos sociais, na pressuposição de que assim agindo está montando uma proteção, não apenas ao governo, mas a si próprio, no Palácio do Planalto há quem esteja vendo a reforma política como uma das saídas para a crise, como já havia sido indicado anteriormente pelo presidente Lula. O projeto "Brasil em Três Tempos", do Núcleo de Assuntos Estratégicos, coordenado pelo ministro Luiz Gushiken, no trabalho de formular cenários para um planejamento estratégico para 2007, 2015 e 2022, acaba de tabular uma pesquisa com mais de dois mil questionários.
Distribuídos entre entidades empresariais, sindicais, organizações não-governamentais, e instâncias dos três poderes nos níveis municipal, estadual e federal, sobre temas que vão de economia a cultura, de tecnologia a aspectos institucionais, e nesses incluiu a reforma política.
Ao serem perguntados sobre a importância da reforma política, os consultados tiveram que dar uma nota de zero a dez, com o seguinte resultado:
De fundamental importância —
Muito importante —
Importante —
Pouco importante e não tem importância —
Mas mostraram-se céticos quanto à probabilidade de ela acontecer, a não ser que nos vejamos em um quadro "de pressão e ruptura". Essa pesquisa foi enviada aos deputados Alexandre Cardoso e Ronaldo Caiado, os primeiros responsáveis pela comissão especial da Câmara que tratou do assunto, que estiveram em audiência no Núcleo de Assuntos Estratégicos, com o ministro Gushiken, na sexta-feira passada.
Quanto à qualidade, 69,5% dos entrevistados consideram a reforma política "muito boa";
24,3% consideram "boa";
4,6% são "indiferentes";
0,34% a consideram "ruim" e 0,61% "péssima".
A urgência da reforma política, no entanto, não encontra eco no Congresso, mesmo diante da imensa crise de credibilidade que os políticos estão enfrentando. Nem mesmo o PL, partido envolvido até o pescoço nas acusações do mensalão, abrandou sua posição contrária à reforma. Tanto que hoje a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara que trata do assunto vai votar o requerimento apresentado pelo deputado Inaldo Leitão (PL-PB), que propõe simplesmente a retirada de pauta da reforma política.
Esse requerimento, completamente na contramão do anseio da sociedade e da maioria política, quase certamente não será aprovado. Mas o parecer do deputado petista Rubens Otoni, que deverá ser votado, surpreendeu a todos, com a retirada das chamadas cláusulas de barreira, que exigem que um partido, para ter representação no Congresso, deve ter pelo menos 5% dos votos nacionais, sendo que 3% em pelo menos nove Estados.
PFL e PSDB, que contavam com o PT para aprovar a reforma política, pretendem votar contra o relatório, se não for encontrada uma maneira de reincluir essas exigências de desempenho. Vê-se, portanto, que não há um consenso fácil entre os políticos, mesmo pressionados pelas críticas ao sistema atual. O motivo maior de discórdia é o voto em lista fechada, que possibilitaria o financiamento público de campanha.
O deputado federal Miro Teixeira, do PT do Rio, é um dos mais ferrenhos adversários das listas fechadas e considera que as direções partidárias passarão a ter mais um elemento de controle dos filiados. Ele defende a tese de que a execução das cláusulas de barreira, previstas na lei para entrar em vigor já nas próximas eleições, traria um enxugamento natural ao quadro partidário, que ficaria restrito e seis ou sete partidos. A partir daí, diz Miro, seria possível reorganizar o sistema partidário com uma base mais homogênea.
A vereadora Aspásia Camargo, do PV do Rio, reflete uma posição comum no eleitorado perguntando: "Será que vamos aceitar a eleição apenas por lista partidária, transferindo a essas velhas carcaças que andam por aí, e que se chamam partidos políticos, a força do nosso voto? Partidos, no Brasil, têm dono. São, em geral, oligárquicos e personalistas. Não existe democracia interna". Aspásia sugere, entre outras coisas, que a legislação permita mais democracia partidária e limite o poder do dinheiro "em campanhas eleitorais mais curtas, de trinta dias, com programas de televisão mais baratos".
Já o secretário municipal Alfredo Sirkis, do mesmo Partido Verde de Aspásia, tem outra posição. Embora concorde que o sistema de lista fechada "não é uma panacéia", argumenta que a corrupção "migraria para a disputa no interior dos partidos na elaboração da ordem de entrada das listas", e seu grau de abrangência "cairia na mesma proporção da queda do custo das campanhas". Alega também Sirkis que "se os severinos e valdemares manipulam e vendem suas convenções, e isso fica claro, o eleitor punirá a lista partidária como um todo".
Alfredo Sirkis acredita que "assim como não há sistema eleitoral bom (muito menos perfeito) se a democracia é o pior regime com exceção de todos os outros, o voto proporcional por lista, ou o distrital misto alemão, são os piores com exceção de todos os outros". Para ele, "o voto proporcional personalizado, à brasileira — raro, por sinal — produz pulverização e o majoritário puro (EUA, Inglaterra) esmaga as minorias e produz um bipartidarismo opressivo".
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
junho
(405)
- Governo de coalizão ou monopólio político?
- Augusto Nunes - Especialista em retiradas
- Miriam Leitão :Melhor em 50
- Merval Pereira :Radicalizações
- Sai daí, Henrique, rápido!-PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
- LUÍS NASSIF:O ajuste fiscal da Fiesp
- Lula lança pacote anticorrupção "velho"
- JANIO DE FREITAS :Um escândalo no escândalo
- ELIANE CANTANHÊDE:ELIANE CANTANHÊDE
- CLÓVIS ROSSI:O Pinóquio da estrela vermelha
- A CADA DIA MAIS GRAVE editorial da folha
- Caixa dois de Furnas engorda propinas do PT, diz J...
- Lucia Hippolitto: Quem manda na República
- Cunhado de Gushiken fatura mais com estatais
- Guilherme Fiuza:Dilma, uma miragem
- Lucia Hippolitto:PMDB nada tem a ganhar se unindo ...
- Villas Boas Lula está sempre atrasado
- DESASTRE POLÍTICO editorial da folha de s paulo
- Fernando Rodrigues - Descontrole quase total
- Merval Pereira - Quadro instável
- Míriam Leitão - Déficit zero
- Tereza Cruvinel - Reforma, apesar da recusa do PMDB
- Luís Nassif - O Grupo "Máquinas e Planilhas"
- Dora Kramer - Publicidade na Câmara
- CLÓVIS ROSSI: O velho morreu, viva quem?
- Tereza Cruvinel - A CPI decola
- Dora Kramer - Casa, comida e roupa lavada
- Lucia Hippolito:"O mistério é pai e mãe da corrupção"
- Um original criador de bois
- LUÍS NASSIF: O tsunami e a economia
- O despertar da militância
- ELIANE CANTANHÊDE:Cadê a mentira?
- CLÓVIS ROSSI: Desânimo continental
- QUEBRA DE PATENTE editorial da folha de s paulo
- AUGUSTO NUNES :Governar é decidir, presidente
- O Congresso não enxerga o abismo -AUGUSTO NUNES
- Luiz Garcia :Falemos mal dos outros
- Arnaldo Jabor :Houve mais uma revolução fracassada
- Miriam Leitão :No descompasso
- Merval Pereira:Normas para a Polícia Federal
- Crise pode afetar a governabilidade
- O dicionário da crise
- A aula magna da corrupção
- O assalto ao Estado
- O homem do dinheiro vivo
- Muito barulho por nada
- Os cofrões do "Freddy Krueger" A ex-mulher de Vald...
- Irresponsabilidade aprovada
- Diogo Mainardi:Dois conselhos ao leitor
- André Petry:Os cafajefferson
- GESNER OLIVEIRA:Agenda mínima para 2005/06
- SERGIO TORRES :Quem sabe?
- FERNANDO RODRIGUES:Gasto inútil
- CLÓVIS ROSSI :A culpa que Genoino não tem
- LULA NA TV editorial da folha de s paulo
- JOÃO UBALDO RIBEIRO :Já não está mais aqui quem falou
- ELIO GASPARI:Circo
- Miriam Leitão :Cenário pior
- O PT e o deslumbramento do poder
- Luiz Carlos Mendonça de Barros : vitória sobre a i...
- Merval Pereira :Controles frouxos
- Ricardo Kotscho:Navegar é preciso
- Villas-Bôas Corrêa:Com CPI não se brinca
- Merval Pereira - Traição e ingratidão
- Míriam Leitão - Diagnósticos
- Luiz Garcia - Onze varas para onze mil virgens
- Celso Ming - Você é rendeiro?
- Tereza Cruvinel - Uma brisa
- Luís Nassif - Te direi quem és!
- Clóvis Rossi - Vergonha
- Eliane Cantanhede - Ao rei, quase tudo
- Dora Kramer - O sabor do prato servido a frio
- entrevista Marcos Coimbra - blg noblat
- Lucia Hippolito :Crise? Que crise?
- augusto nunes Palavrório na estratosfera
- Lucia Hippolito : A face mais bonita da esquerda
- JANIO DE FREITAS: Palavras em falta
- DEMÉTRIO MAGNOLI:Fim de jogo
- CLÓVIS ROSSI :Bravata ontem, bravata hoje
- Miriam Leitão :Estilo direto
- Merval Pereira :Contradições
- Dora Kramer - Aposta no país partido
- Lucia Hippolito : O risco da marcha da insensatez
- Fim de mandato?-PAULO RABELLO DE CASTRO
- ANTONIO DELFIM NETTO:Coragem política
- PLÍNIO FRAGA :O super-homem e a mulher-macho
- FERNANDO RODRIGUES:A utilidade de Roberto Jefferson
- CLÓVIS ROSSI :O torturador venceu
- ABUSOS DA PF folha editorial
- zuenir ventura Haja conselhos
- ELIO GASPARI:Ser direito dá cadeia
- Merval Pereira :Em busca de saídas
- Miriam Leitão : Reações do governo
- Zuenir Ventura:Choque de decência
- Lula:"Os que torciam pelo desastre do governo teme...
- Dora Kramer - A repetição do erro na crise
- LUÍS NASSIF:Os conselhos fatais
- JANIO DE FREITAS :Cortina de fumaça
- ELIANE CANTANHÊDE:Direto de Marte
- CLÓVIS ROSSI:Olhando além do pântano
-
▼
junho
(405)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário