24/06/2005
Marcos Coimbra, 54 anos, sociólogo, cientista político e diretor de pesquisas do Instituto Vox Populi:
1. A mais grave crise política do governo Lula está com o jeito da crise que resultou na queda do ex-presidente Fernando Collor de Melo?
Coimbra - Não, nem "até agora" e nem nunca ao que tudo indica. Esta crise não é igual a que derrubou Collor, como não foi igual nenhuma das que ocorreram nos oito anos de FHC (e foram muitas), e nenhuma das que ocorreram nos governos Sarney e Itamar (e também foram muitas e importantes). E isso por uma razão fundamental: na crise de Collor estava em questão, aos olhos do povo, a honra pessoal do Presidente da Republica, o que não se discute hoje, nem se discutiu, a serio, em nenhuma outra crise de governos passados.
No sentimento popular, pilantragens na política e no governo, gente comprando e vendendo, fazem parte de nossa paisagem. Totalmente diferente é a suspeita de que o presidente é ladrão.
Quem derrubou Fernando Collor foi o motorista Eriberto, não Pedro Collor, irmão do presidente.
2. Ao enfrentar a crise, o governo Lula está acertando mais ou errando mais?
Coimbra - Errando muito mais do que acertando. Os erros mais graves, paradoxalmente, decorrem do que sempre foi considerado até "virtudes" no PT: a democracia interna e a solidariedade entre seus membros. A primeira, quando foi para o governo, virou falta de disciplina, falas desencontradas, um ministro desautorizando outro, líderes que não lideram.Virou falta de estratégia e de ação concertada. A segunda virou sobrevida para cadáveres políticos que assombraram e continuam assombrando, desnecessariamente, o partido e o Brasil.
3. A crise pode custar a reeleição de Lula?
Coimbra - Não creio. A reeleição de Lula depende da resposta a uma pergunta essencial que o eleitorado se fará em 2006: está na hora, já, de chamar o pessoal do PSDB de volta ou Lula deve continuar, pois "ainda é cedo" para saber se ele já "deu o que tinha que dar"? A maioria das pessoas, hoje, acha que o PSDB teve "seus oito anos" e não tem muita saudade deles. Acha, também, que o patrimônio biográfico e pessoal de Lula basta para justificar a renovação da aposta feita em 2002.
4. E ao PT, o que a crise custará em 2006?
Coimbra - O PT sofrerá com a crise que está atravessando por perder ou, na hipótese mais amena, ver diminuir a vantagem com que largava nas eleições: a do partido "diferente e melhor" de sua propaganda. Com essa imagem, seus candidatos tinham um "algo mais" que podia ajuda-los, especialmente em eleições proporcionais.
É claro que isso nunca bastou, pois o eleitor brasileiro típico vota em pessoas e não em partidos. Ou seja, era preciso ser "bom candidato" aos olhos de muita gente. A diferença é que, agora, é preciso ser ainda "melhor candidato". Os "bons candidatos" petistas, seja para o Parlamento, seja para os Governos Estaduais, ano que vem serão votados pelo que são e deixam de ser, sem a "ajuda" do "algo mais".
Onde a perda, ao que parece, será maior (e grande) é no voto propriamente partidário, ou seja, no voto de legenda.Com esse, o PT não poderá contar como no passado.
Ainda assim, é preciso ter claro que esse voto não vai migrar para outros partidos. Crises como a que estamos vivendo não beneficiam ninguém no sistema político, ao contrário do que pensam alguns. Em outras palavras, o que o PT está perde não vira voto para ninguém.
5. Qual poderá vir a ser o nome mais forte para tentar barrar a reeleição de Lula?
Coimbra - Não há qualquer nome viável fora do PSDB, o que simplifica a resposta. Os outros possíveis, como César Maia e Garotinho, pouco mais são que hipotéticos "candidatos de primeiro turno", se é que até lá chegarão.
No PSDB, quem tem mais possibilidade de ser candidato é Alckmin. Nas pesquisas de hoje, tem pouca intenção de voto, pois só é conhecido em São Paulo. Se levarmos em conta apenas as intenções de voto daqueles que o conhecem, Alckmin cresce se igualando a Lula.
O problema dele é que não existe nada que possa ser feito de agora até o ano que vem para que um eleitor de Mossoró, no Rio Grande do Norte, por exemplo, o conheça tanto como um eleitor de Pindamonhangaba no interior paulista. Além disso, o eleitor de Mossoró provavelmente se perguntaria se não seria prematuro mandar Lula embora com "apenas" quatro anos, e chamar os tucanos "de volta" depois dos oito anos de FHC. A tendência do eleitor que pouco conhece Alckmin é de concluir que seria prematuro, sim.
Aécio Neves, governador de Minas Gerais, é o outro nome viável - mas, para ele, o calendário é amigo: só precisa aparecer como candidato na hora boa.
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