Panorama Político |
O Globo |
29/6/2005 |
Anda em falta a malícia política de um velho "partido burguês" que o PT desconhece, o PSD, que só fazia reuniões quando o resultado estava garantido. Seus próceres ensinavam que só se escreve carta política quando se conhece a resposta. O convite do presidente Lula ao PMDB para uma nova e reforçada aliança, sem sondagem prévia, criou situação embaraçosa para os dois lados e terminou em fiasco. Ontem o presidente do partido, Michel Temer, reconheceu que será impossível um acordo com o partido inteiro. Isso todos já sabem desde dezembro do ano passado, quando a convenção contestada determinou a saída do partido do governo. Se naquele tempo o racha era já tão claro, imagine-se agora, com o governo enfrentando uma crise e com o PT, potencial aliado, na boca do povo. Mas teve o partido, desta vez, a sobriedade para reconhecer logo suas dificuldades e não ficar cozinhando o presidente, retardando a reforma ministerial concebida para enfrentar a nova situação. Lula dará seguimento a ela, com a disposição anterior de mudar profundamente o rosto do governo. Com o PMDB, ficará tudo como antes: uma ala continuará apoiando o governo e preservará seus dois ministérios. Silas Rondeau deve ser nomeado para Minas e Energia, atendendo ao grupo liderado pelo senador Sarney. O ministro da Previdência, Romero Jucá, sairá na leva dos que serão candidatos a 2006, poupado de uma demissão por conta de seus problemas judiciais. O que Lula ainda não sabe é se manterá Eunício Oliveira em Comunicações. Tentará escolher peemedebistas que agreguem o maior número de apoios nas bancadas. Ontem ele começou a fazer consultas a todos os ministros sobre seus projetos para 2006. Ao final, saberá quantos teria de mudar agora. Se forem muitos, talvez mantenha alguns até abril, mas está determinado a fazer a reforma ampla, incorporando inclusive alguns nomes não-partidários, mas portadores de reconhecida competência ou conceito. As críticas à "articulação tagarela", como disse o deputado Paulo Delgado em relação à forma do convite ao PMDB, são endereçadas ao líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, que levou Renan e Michel ao Planalto na sexta-feira. Mas seria diferente se Lula já tivesse decidido o que fazer com a Coordenação Política. Vizinhos de porta e amigos, os ministros Jaques Wagner e Aldo Rebelo tiveram uma conversa franca, por iniciativa do último. Wagner admitiu que foi sondado para o cargo, Aldo que pediu demissão mas Lula o mandou continuar trabalhando. Até que o assunto se resolva, acertaram de não dar ouvidos a intrigas. Mas, estivesse a situação definida, o coordenador teria sido o intermediário junto ao PMDB, evitando o constrangimento da recusa e a perda de tempo. Mas também esta demora é explicada por auxiliares do presidente. Desta vez, pretende ele mesmo conduzir a reforma, sem intermediários, num sinal de que daqui para a frente delegará menos em matéria de articulação política e relação com tão complicados aliados. Lula quer trocar também os presidentes de estatais que tenham planos eleitorais para 2006. José Eduardo Dutra, da Petrobras, pretende concorrer ao Senado. Assim como Jorge Sameck, presidente de Itaipu. José Dirceu sempre encarnou o antitucanismo do PT. Era no governo o maior óbice a uma aproximação com o PSDB. Ela não acontecerá agora, nem no ano que vem mas os sonhos de convergência no futuro voltaram a ser mencionados na conversa que o presidente Lula teve anteontem com o governador de Minas, Aécio Neves, levado ao Planalto pelo ministro Antonio Palocci. Falou-se da crise mas também da dependência que os dois partidos polares terão das forças políticas mais atrasadas enquanto estiverem de lados opostos. Buscando reconstruir a ponte com os tucanos que funcionou na fase das reformas de 2003, Lula teria admitido um afastamento causado pelas disputas eleitorais e também pelas divergências sobre a reforma tributária. Mas ambos teriam concordado que o problema é São Paulo, onde disputam voto a voto. De seus paulistas brigões, Lula queixou-se à larga. Em relatos que fez a colegas tucanos, Aécio disse tê-lo achado extremamente consciente da gravidade da crise, mas determinado a levar adiante tanto a apuração das denúncias como seu compromisso com a reforma política. Ela não produzirá um sistema perfeito, concordaram, mas pode reduzir bastante as distorções e os desvios. — Quero tudo isso em pratos limpos, não me importa quem esteja envolvido — teria repetido Lula. De objetivo, ouviu a promessa de que o PSDB será exigente mas não apostará no impasse, na ingovernabilidade. Para o segundo semestre, poderiam retomar uma agenda comum e positiva, em torno das reformas política e tributária. PEDE o ministro Luiz Gushiken que se esclareça melhor a natureza de seu relacionamento com o publicitário Marcos Valério, que teria ficado pouco clara em reportagem de ontem: "Eu só o conheço pela imprensa, nunca o recebi em audiência nem tive qualquer contato pessoal com ele". |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, junho 29, 2005
Tereza Cruvinel - Reforma, apesar da recusa do PMDB
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