Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 22, 2005

Lucia Hippolito : O risco da marcha da insensatez

blog Ricardo Noblat
"Revendo a participação do deputado Roberto Jefferson no programa Roda Viva, na noite de anteontem, e comparando com o desempenho do agora deputado José Dirceu na transmissão do cargo de chefe da Casa Civil, uma constatação salta aos olhos: estão ambos muito cansados.
Dois lutadores poderosos envolveram-se numa luta sem quartel, que periga levar os dois à destruição recíproca.
José Dirceu sai do governo derrotado, sentindo-se evidentemente fracassado, com gosto de missão não cumprida. Nadou, nadou, lutou tanto para levar o presidente Lula ao Palácio do Planalto. E morreu na praia.
Deixou o governo debaixo de acusações pesadíssimas e vai ter que enfrentar uma Câmara dos Deputados majoritariamente hostil. Afinal, José Dirceu colecionou muitos desafetos durante o período em que ocupou a Casa Civil.
Seu estilo incisivo e desabrido quando no exercício do poder encontrou, talvez pela primeira vez, um adversário que, como ele, está disposto a ir às últimas conseqüências.
José Dirceu afirma que volta à Câmara para defender a si, ao PT e ao governo Lula. Roberto Jefferson, por sua vez, age como quem não tem mais nada a perder.
Por mais que se procure minimizar o papel das personalidades nos processos históricos, é certo que em momentos de crise as características pessoais dos atores envolvidos podem determinar o curso dos acontecimentos.
Não é fácil esperar que esses dois formidáveis antagonistas sublimem as divergências que os separam em nome do interesse nacional. Não parece fazer parte do perfil psicológico de nenhum dos dois.
Mas neste duelo de titãs, muita gente e muita coisa podem sair prejudicadas. Não estou me referindo a quem recebia mensalão ou se apoderou de direito público.
Também não estou me referindo às pretensões éticas do PT ou à lisura dos procedimentos do governo Lula.
É que tanto José Dirceu quanto Roberto Jefferson, cegos pelo combate, podem despertar para esta guerra forças cuja participação, uma vez orquestrada, pode desencadear aquilo que já se chamou "a marcha da insensatez" e nos arrastar a todos.
Nessas horas, a platéia pode funcionar como um elemento de moderação e bom-senso. Sobretudo aquela parte da platéia que não quer ver o circo pegar fogo, porque já sabe quanto custa o incêndio."

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