Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 24, 2005

Clóvis Rossi - Vergonha




Folha de S. Paulo
24/6/2005

SÃO PAULO - Quer dizer então que o deputado José Dirceu "não tem vergonha" das alianças que fez quando era chefe da Casa Civil? Informação relevante essa. Se não tem vergonha das alianças, também não pode ter vergonha de Roberto Jefferson, aliado tão íntimo que o presidente da República chamou-o de "parceiro".
Se Dirceu não tem vergonha de Jefferson, também não pode ter vergonha de ser chamado de chefe do maior esquema de corrupção dos últimos anos, como o "parceiro" Jefferson -do qual Dirceu diz não ter vergonha- fez dias atrás. Aliás, é tamanha a despreocupação de Dirceu pela parceria que ele tem feito o que Jefferson manda. O então presidente do PTB gritou: "Zé, sai daí". E o "Zé" saiu correndo "dali" (o Palácio do Planalto), sem direito nem sequer a discurso de despedida de seu chefe.
Jefferson também mandou Dirceu não negar as acusações que fez, e Dirceu calou-se no discurso de reestréia, reservando-se para "responder na Justiça", como se a questão não fosse eminentemente política.
Se Dirceu não tem vergonha de suas alianças, não pode envergonhar-se de ver o "seu" governo ser tratado como saco de lixo por um fascistóide como o deputado Jair Bolsonaro. Afinal, Bolsonaro é do PP, uma das alianças da qual Dirceu diz não ter vergonha.
É de supor que Dirceu só tenha vergonha do próprio PT. Ou, pelo menos, de uma fatia do partido, já que a cacofonia interna é tão violenta que ninguém sabe direito o que pensa o PT. Afinal, uma figura emblemática do partido, caso do ministro Olívio Dutra (Cidades), culpa pela crise as "más companhias" das quais Dirceu não se envergonha.
Se esse é o melhor quadro que o PT pode oferecer na hora da crise, se esse é o herói do partido, então é tarde para evitar um tiro no próprio pé, como pretende o presidente Lula. O tiro já foi dado.
E não acertou propriamente o pé.

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