Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 30, 2005

Miriam Leitão :Melhor em 50

o globo

O Brasil pode terminar o ano com a menor dívida externa líquida/exportações dos últimos 50 anos. No ano passado, essa forma de medir a dívida chegou a 1,54 vez, ou seja, a dívida externa do país significou em 2004 uma vez e meia tudo o que o Brasil exportou no ano. Em 2005, a relação deve cair mais um pouco ficando abaixo do que foi registrado no distante ano de 1956.

Caiu a dívida ou aumentou a exportação? Ambos. A dívida externa, pública e privada, tem diminuído e o Brasil anda batendo recordes sucessivos na exportação, mesmo com o dólar chegando a níveis impensáveis. A cada mês, a taxa de rolagem da dívida privada tem diminuído. Se o empresário endividado rola menos, é porque está pagando a dívida.

Por outro lado, a exportação só faz crescer nos últimos tempos. Com os dados de junho, o saldo comercial brasileiro acumulado é de mais de US$ 19 bilhões. Isso apesar do crescimento das importações, que registram, também no acumulado até este mês, um aumento de 20% sobre o mesmo período de 2004.

Há várias explicações para esse desempenho, mas, em geral, são constatações posteriores. O último Boletim do Ipea lista as explicações possíveis para esse resultado: preços aumentaram, há uma defasagem entre queda do câmbio e o seu efeito nas exportações, a desvalorização do dólar foi um fenômeno geral. Descontando-se tudo isso, continua sendo impressionante o resultado de US$ 38 bilhões de superávit nos últimos 12 meses num contexto de moeda se apreciando e aumento das importações. Mas, em algum momento, a exportação sentirá o peso da queda do dólar. Alguns setores vão reduzir suas exportações durante o último semestre.

— Fico preocupado com o que pode estar acontecendo neste segundo trimestre. No primeiro, ainda se trabalhava com um dólar na média acima de R$ 2,60, mas agora ele está muito mais baixo. Grandes mudanças podem demorar a vir; mas vão acontecer mudanças em algum momento — comenta Bruno Levacov, da Investidor Profissional.

O setor de celulose não tem motivos, pelo menos por enquanto, para se preocupar. Está vivendo um ano de demanda aquecida e forte aumento no preço que, só em 2005, já subiu 20%. Desta vez, explica Rogerio Ziviani, diretor de Negócios Internacionais da Suzano, a razão não é a China, que este ano comprou bem menos, mas, sim, Europa e Estados Unidos, que estão demandando uma celulose barata e de melhor qualidade. Além disso, a China vai repor seus estoques no segundo semestre e a Finlândia, importante produtora, vive uma greve que paralisou as fábricas.

— Sazonalmente, o segundo semestre é melhor. Mas este ano pode ser ainda melhor que nos anos anteriores -— avalia Ziviani.

A Suzano Papel e Celulose exporta 80% de sua produção, 70% dessa celulose são negociados em contratos de longo prazo, de 2, 3, 5 anos. Ou seja, exporta-se de qualquer maneira e, com os preços altos, exporta-se com qualquer câmbio.

O setor de calçados está, sim, sentindo bastante a questão cambial. Nos cinco primeiros meses do ano, foram vendidos 10 milhões de pares a menos para o exterior que no mesmo período de 2004, quando 99 milhões de pares foram exportados. Apesar desta queda considerável de 10% no volume de vendas, o faturamento continua positivo pois, na troca de estações, alguns conseguiram reajustar seus preços médios.

— No nosso caso, tivemos uma queda nas exportações de 40% no primeiro trimestre, isso com um dólar com queda de 8% — conta Marcos Peixoto, diretor financeiro da Grendene.

O Rio Grande do Sul vende para outros países 70% do que é exportado pelo Brasil. Em muitos casos, a produção é feita por pequenas fábricas. Segundo a Abicalçados, por causa sobretudo da questão cambial, que diminuiu a competitividade, 11 mil pessoas já foram demitidas na região do Vale dos Sinos.

Os setores que estão com problemas são menos numerosos que os que continuam aumentando a exportação. E o fato a comemorar é a extraordinária redução da dívida externa/exportação. Em 99, o indicador registrava quatro; agora, ficará abaixo de 1,4. Mas não é hora de pendurar as chuteiras, porque o Brasil perde nesse indicador para vários países emergentes. Ganha, com certeza, apenas da Argentina. Também nesse campo.

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