Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 29, 2005

Villas Boas Lula está sempre atrasado

jb


Da comédia aos pastelão, desde os tempos do rádio, do cinema mudo e dos primeiros passos da televisão, sempre arrancou gargalhadas e garantiu a popularidade de atores que exploram o humor direto para o agrado do povão, o tipo clássico do desatento que parece estar no mundo da lua, desligado e ausente e que demora o tempo exato para despertar o público para entender a piada e soltar a gargalhada no descompasso que pontua a hilaridade.

Entre os mais recentes expoentes do gênero, que certamente está na saudade da maioria, inclui-se com o merecido destaque o Seu Obturado, que ganhou vida na criação irrepreensível do extraordinário comediante Walter D'Ávila, com longa atuação no programa de Chico Anísio, até ser convocado para distrair a platéia de São Pedro.

Com todo o respeito, sem nenhuma intenção de fazer graça ou forçar semelhanças caricatas, as tardias reações do presidente Lula nos solenes temas políticos e administrativos do seu notório desagrado lembram o desligamento de Seu Obturado. Tal como agora, ante as encrencas que atormentam o governo e o enrolam nos escândalos do mensalão e da corrupção que se infiltra por todas as brechas oficiais.

Nas hesitações, na dança das dúvidas para sair do imobilismo e efetivar a reforma para valer do cortiço ministerial, com 35 ou 36 ministros e secretários, o presidente não apenas despertou depois da metade do mandato como ensaia um passo à frente, encolhe a perna e escora o rosto na mão fechada, na pose do pensador mergulhado em profundas elucubrações. No exemplo didático o erro é de raiz. Para agasalhar os companheiros derrotados pelo voto, distribuiu ministérios como quem atira balas às crianças no dia de São Comes e Damião. Só não batemos o recorde mundial porque a Índia ganha por pouco com 40 ministros.

Pois quando o bom senso e a necessidade o convenceram da urgência do emagrecimento do obeso indolente, que quase nada faz porque não tem o que fazer, sem projetos nem verbas, o presidente amanhece a cada dia com uma firme decisão que morre na praia. Não sabe se desocupa os cômodos entupidos para reduzir o número de ilustres anônimos e abrir vagas para o PMDB ou se empurra com o umbigo a chateação para o amanhã de cada dia.

A barafunda complicou-se com a urgência em tamponar os rombos na base parlamentar em frangalhos. Para tais emergências pensa-se logo no PMDB, uma legenda dividida em fatias, como bolo em festa de aniversário. E aí a negociação encaroça. O melífluo presidente, Michel Temer, esbofa-se em consultas, articulações, conversas para tentar arrancar a impossível decisão consensual: os governadores desaconselham a barganha do apoio por mais dois ou quatro ministérios, A bancada de senadores, com a sabedoria dos anos, lembra que não se deve recusar nada que o governo ofereça: o que cair na rede é peixe.

Diante de tais dificuldades, a reforma vai sendo adiada, o que não é uma má saída. O PMDB está pedindo alto e sem oferecer a garantia de entregar a mercadoria. Seis ministérios e a liberação de R$ 6,29 bilhões para o atendimento de demandas dos estados, é caro. O PMDB não vale tanto.

Depois do constrangedor reconhecimento da omissão do Ministério dos Transportes na reparação da rede rodoviária com 75 mil km de estradas em pandarecos, Lula anuncia a boa nova da agilização do processo de licitação das obras de julho a setembro. O que significa que estradas sem buracos só para o fim do governo.

No mesmo rumo do descalabro, o desmatamento da Amazônia baterá este ano o recorde histórico. Em compensação o projeto de R$ 4 bilhões para a transposição do Rio São Francisco deverá iniciar as obras em agosto, concluídas as licitações em julho. Portanto, a um ano e cinco meses do fim do mandato: um anunciado milagre do velho Chico.

Obra de bilhões confessadamente eleitoreira, a toque de caixa, em fim de mandato costuma patrocinar um festival de escândalos. Depois do mensalão, das denúncias de corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguro e das suas CPIs, o governo esgotou a sua cota de escândalos. Não necessita de mais um para fechar o mandato na aventura da reeleição.

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