Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 04, 2006

Uma explicação para a morte súbita de bebês

Resposta para um pesadelo

Pesquisadores encontram uma explicação
para a síndrome da morte súbita em bebês


Anna Paula Buchalla

Elyse Lewin/Getty Images
Sono tranqüilo: de barriga para cima, os riscos são menores

A possibilidade de que seu bebê recém-nascido possa morrer enquanto dorme, vítima da síndrome da morte súbita, é um pesadelo que atormenta muitos pais. Nos casos estudados, a maioria das crianças estava de bruços no momento em que deixou de respirar. O dado intrigante é que elas eram aparentemente saudáveis, capazes de reagir instintivamente à ameaça de sufocamento – ou mudando de posição ou chorando. Na semana passada, pesquisadores do Hospital das Crianças de Boston e da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, encontraram uma explicação para a síndrome da morte súbita em bebês. Em estudo publicado na última edição da revista científica Journal of the American Medical Association, eles relacionam a morte no berço a falhas na produção e no fluxo do neurotransmissor serotonina numa região específica do cérebro, o tronco cerebral. Nessa área, a substância é responsável pelo controle de funções vitais como a respiração, o despertar, a sensibilidade ao gás carbônico, a percepção da dor, a freqüência cardíaca, a temperatura corporal e a pressão arterial, entre outras.

Quando uma criança dorme com o rosto voltado para o travesseiro, ela reinala o gás carbônico exalado na respiração e, com isso, inspira menos oxigênio. Normalmente, o aumento dos níveis de gás carbônico ativa o fluxo de serotonina, fazendo com que o bebê desperte, respire mais rápido e de alguma forma evite a asfixia. Em bebês com a síndrome, as falhas no sistema de liberação de serotonina impedem esses reflexos. O estudo americano baseou-se na comparação da necropsia do cérebro de 31 bebês fulminados pela morte no berço com a de dez bebês vítimas de outros tipos de morte.

O risco de morte súbita entre bebês que dormem de bruços é até nove vezes maior. É por isso que se recomenda que eles sejam colocados de barriga para cima. Devem-se evitar também travesseiros fofos e altos e o excesso de cobertas. Essas medidas, além de ajudar a evitar o risco de sufocamento, impedem a hipertermia. Como o sistema de regulação da temperatura corporal do bebê não está totalmente formado, pode ocorrer um desajuste que leva a uma diminuição dos batimentos cardíacos e do ritmo respiratório. O controle de sistemas vitais das crianças só está completamente maduro ao fim do primeiro ano de vida.

A incidência da síndrome da morte súbita é maior entre bebês de 2 a 5 meses, e o mal afeta mais meninos do que meninas. Os pediatras acreditam que a descoberta das causas da morte no berço possa levar a exames preventivos. "O mais provável é que se crie um teste capaz de medir a quantidade de serotonina no cérebro dos bebês", diz a neuropediatra Marcia Pradella Hallinan, do Instituto do Sono, da Universidade Federal de São Paulo. Calcula-se que isso deva levar dez anos para acontecer. Mas só o fato de haver uma explicação para a morte súbita já é um grande passo – para a medicina e para os pais ansiosos.

Montagem sobre foto Photodisc

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