O Estado de S. Paulo |
22/11/2006 |
Os americanos se comportam como se o novo inimigo dos Estados Unidos seja agora o capitalismo global. É a conclusão a que chegou Robert B. Reich (foto), ex-secretário do Trabalho na administração Clinton, depois de examinar as enormes pressões do Congresso americano para que sejam tomadas decisões protecionistas contra os países que aderiram ao comércio global. Em curto artigo publicado pela revista The American Prospect e pelo site Yale Global (veja http://yaleglobal.yale.edu), Reich faz uma reflexão inquietante. Ele lembra que os Estados Unidos se engajaram na sangrenta Guerra do Vietnã (1964 a 1975), onde perderam 60 mil soldados e queimaram US$ 250 bilhões, para impedir o cumprimento do que os presidentes John Kennedy e Lyndon Johnson chamaram então de teoria do dominó, formulada por George Keenan, membro do Conselho de Relações Exteriores na época, e primeiramente propalada pelo presidente Harry Truman. Era a ameaça de que a incorporação do Vietnã do Sul pelo Vietnã do Norte, então sob domínio comunista, empurrasse um a um os países do Sudeste Asiático e, em seguida, os do resto da Ásia a aderir ao sistema comunista liderado pela então União Soviética. Ironia das ironias, os Estados Unidos foram vencidos (e humilhados) pelo Vietnã do Norte, mas a unificação do Vietnã que se seguiu depois produziu a teoria do dominó ao contrário. O Vietnã aderiu ao sistema capitalista e é hoje um tigre asiático que cresce a um invejável ritmo de 7% ao ano. Seu sistema produtivo bombeia mercadorias para o mercado global, a uma proporção de US$ 35 bilhões por ano, o equivalente a 24% das exportações brasileiras. No mais, o império soviético ruiu, como todos sabemos, e a China é o que é: o emergente que mais respira e produz capitalismo global. Há duas semanas, o Vietnã tornou-se o 149º membro da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Rússia acaba de fechar um acordo com o governo americano também para ser recebida como membro da OMC. O fato de ser grande potência petrolífera está facilitando a entrada da Rússia nos mercados globais e atraindo capitais. Gradativamente, o governo russo está reformando sua economia e integrando seu sistema produtivo ao capitalismo global. Em troca, vai recebendo cada vez mais capitais, como empréstimo e como investimento. "O dominó real não foi a transformação da Ásia em bloco comunista, mas em capitalista", é o paradoxo observado por Reich. Assim como um abismo atrai outro abismo, como diz o salmo 41, um paradoxo também puxa outro. Agora que a Ásia em peso opera dentro das regras do capitalismo globalizado, eis que o Congresso americano se sente ameaçado não só pela China, mas agora também pelo Vietnã. A coluna de ontem já chamava a atenção para o fato de que há em andamento no Congresso americano nada menos que 27 projetos de lei que impõem barreiras comerciais à entrada de produtos chineses no mercado americano. O Vietnã também é alvo preferencial. As lideranças republicanas do Congresso dos Estados Unidos acabam de reconhecer que um projeto de lei que normaliza as relações comerciais entre Estados Unidos e Vietnã não tem respaldo político para ser aprovado. Os lobbies da indústria argumentam agora que os vietnamitas estão fazendo concorrência desleal, sob dois fundamentos: (1) na medida em que não adotam os padrões trabalhistas equivalentes aos vigentes nos Estados Unidos; e (2) na medida em que usam mão-de-obra de baixo custo e, assim, tendem a despachar produtos baratos para o mercado americano. O próprio Reich conclui que o Congresso americano não está apenas retaliando comercialmente um antigo inimigo comunista. Está assumindo abertamente posições contra o livre-comércio, uma das mais importantes bandeiras capitalistas. O protecionismo americano não aponta seus canhões apenas contra as novas potências comerciais asiáticas, mas também contra as da América Latina e da África. "Os Estados Unidos estão à beira de uma nova guerra fria, desta vez não contra o comunismo, mas contra o capitalismo", conclui Reich. Enfim, a nova administração Lula que se cuide. Assim como "viver é perigoso" (Guimarães Rosa), exportar está se tornando cada vez mais perigoso. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, novembro 22, 2006
Celso Ming - Exportar é perigoso
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