Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 23, 2006

ELIANE CANTANHÊDE Nem oito nem 80

BRASÍLIA - Já tentaram incendiar os pilotos americanos do Legacy, depois o sistema de comunicação do espaço aéreo brasileiro e, agora, o sistema de tráfego aéreo, jogando a culpa nos controladores.
Calma lá! Cabeça fria para acompanhar culpas e responsabilidades, desde a autorização de vôo para o Legacy em São José dos Campos até a falta de alerta para o Boeing da GOL, passando pela inação dos pilotos ao sobrevoarem Brasília, pela imperícia de um jovem controlador do Cindacta-1, pela inoperância do transponder e por 27 tentativas frustradas de contato entre o centro e o Legacy.
Agora se sabe também que o nível habitual do vôo 1907 era 41 mil pés, mas, justamente naquele 29 de setembro, o Boeing estava em 37 mil, mesma altitude em que o Legacy viajava na "contramão".
Um dos muitos pilotos experientes que têm procurado informar, orientar, corrigir, alertou em e-mail: "Se não houver tráfego em sentido contrário, você pode voar na "contramão". Não é comum, mas acontece com razoável freqüência". Desde que... o piloto seja autorizado pelo controle.
A torre de São José deu o "clearance" para o Legacy voar para Manaus e citou apenas 37 mil pés. Os pilotos seguiram a orientação, sem checar em Brasília se deveriam ou não descer para 36 mil.
Enfim, já há indícios de culpas em várias pontas, mas não há ainda como culpar nenhuma delas sozinha. Já pedimos para não incendiarem os pilotos americanos em nome de uma "patriotada". Agora é a vez de pedir o contrário: que não incendeiem os controladores por baixa auto-estima nacional (porque "tudo neste país é uma droga").
Acidentes são traumáticos e geram grandes reações passionais, mas isso não ajuda. O que ajuda é a transparência de quem tem de dar explicações e a seriedade de quem as repassa às famílias e à opinião pública. Sem incêndios, por favor.

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