Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 22, 2006

Lula pede "apoio total" e volta a atacar FHC

Para petista, que diz não saber se manterá proposta de conselho de ex-presidentes, país era pensado a curto prazo por antecessores

Na inauguração de usina de biodiesel em MT, presidente afirma que, passada a "pirraça eleitoral", precisará do apoio dos governadores
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A BARRA DO BUGRES (MT)

No momento em que sinaliza buscar uma aproximação com a oposição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou ontem de retomar os ataques ao governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Afirmou que os tucanos "mentiram" aos brasileiros sobre a questão cambial, disse que a indústria do álcool sempre foi tratada como "prostituta" em governos anteriores e que o Brasil vinha sendo "pensado a curto prazo".
Em Barra do Bugres (190 km de Cuiabá), onde foi inaugurar uma usina de biodiesel, Lula foi questionado em entrevista se fará um convite para uma conversa com FHC. "Eu não vou nominar com quem eu vou conversar", respondeu o presidente Lula.
A aliados FHC tem repetido que aguarda o convite de Lula para tratar de agenda política. Mas o tucano tende a recusá-lo.
Ontem, Lula também disse que não sabe ainda se manterá a proposta de criação de um conselho de ex-presidentes para a discussão de uma agenda para o país, tratada como factóide pelos tucanos: "Eu não sei [se haverá proposta para o conselho]. Me deixe trabalhar que eu vou pensar direitinho no que eu vou fazer".
O presidente participou ontem de três eventos em Mato Grosso, sendo dois oficiais (inauguração de uma rodovia, em Sapezal, e a usina de biodiesel) e um outro improvisado, na pista do aeroporto de Barra do Bugres. Antes de deixar a cidade, Lula discursou num carro de som estacionado ao lado da pista, invadida por cerca de mil pessoas que o aguardavam no local.

Apoio para governar
Na usina, de improviso, Lula falou por meia hora. Alternou ataques a seus antecessores e pedidos de apoio para seu segundo mandato. Disse que, passada a "pirraça eleitoral", precisará do apoio de todos os governadores e de todo o Congresso.
"Certamente vamos precisar do apoio dos 27 governadores, vamos precisar do apoio dos 81 senadores, dos 513 deputados. Não é que eu não quero que as pessoas votem contra, pode votar. O dado concreto é que a gente tem que medir quando é o Brasil que está em jogo ou quando é a eleição que está em jogo. Quando é o Brasil que está em jogo ou quando é a pirraça eleitoral que está em jogo. Essas coisas incomodam", disse, citando o Fundeb como exemplo. "Vamos ter de trabalhar em harmonia."
Lula falou ao lado do governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS). Ao citá-lo, errou duas vezes o nome dele. Primeiro o chamou de "Magri". A seguir, falou em "governador Bagre", levando ao riso os presentes. Além de Maggi e de alguns ministros, Lula também dividiu o palanque com a senadora petista Serys Slhessarenko, acusada de envolvimento na máfia dos sanguessugas.
A crítica direta aos tucanos ocorreu ao tratar da questão cambial. "Os agricultores sabem o que foi o dólar um por um neste país. Sabe o que foi, quando mentiram para o povo brasileiro dizendo que o real valia mais do que um dólar e que o peso argentino valia mais do que um dólar, nunca valeu. Porque, quando as coisas se ajustaram, muita gente foi dormir rico e acordou quebrado."
Depois, em entrevista no aeroporto, prometeu conversar com todas as forças políticas do país, sem distinção de partidos. Lula inaugurou ontem a primeira usina do mundo a produzir biodiesel, açúcar e álcool de forma integrada. Ela pertence a empresários do Estado.

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