Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 25, 2006

Diogo Mainardi A imprensa lubrificada

Diogo Mainardi

"Dudu Godoy é sócio da agência que
atende a Petrobras. Hamilton Lacerda
recebeu uma chamada do celular de Dudu.
O que ele disse a Hamilton? Propôs um
pacote publicitário para a
IstoÉ?"

Quando a IstoÉ publicou a entrevista com o chefe dos sanguessugas, sugeri que ela poderia ser recompensada com anúncios da Petrobras. Ninguém deu bola para o assunto. Na ocasião, indiquei o nome dos intermediários: Hamilton Lacerda, assessor de Aloizio Mercadante, e Wilson Santarosa, diretor de marketing da Petrobras. Agora a CPI dos Sanguessugas revelou que os dois trocaram dezenas de telefonemas no período de negociação do dossiê contra os tucanos. A CPI quer saber se o dinheiro para comprar o dossiê saiu da Petrobras. É perda de tempo. O que a CPI deveria investigar é se o dinheiro da Petrobras foi usado para comprar a cumplicidade da IstoÉ.

Na última quarta-feira, encontrei mais um dado comprometedor para a Petrobras. Analisando os telefonemas de Hamilton Lacerda, em poder da CPI, descobri que ele recebeu uma chamada do celular de Dudu Godoy. Dudu Godoy é um dos sócios da Quê, a agência de propaganda que atende a Petrobras e controla a verba publicitária da empresa. O telefonema de Dudu Godoy para Hamilton Lacerda ocorreu em 5 de setembro, às 15h33. Dois dias depois, em pleno feriado de 7 de setembro, Hamilton Lacerda foi à IstoÉ para combinar a entrevista com o chefe dos sanguessugas. Dudu Godoy fez carreira em Campinas, assim como Wilson Santarosa, que presidiu o sindicato dos petroleiros local. Em 1998, ele foi um dos marqueteiros da campanha de Lula à Presidência. A seguir, passou a trabalhar para Marta Suplicy e Zeca do PT. O que é que Dudu Godoy disse a Hamilton Lacerda? Ele propôs um pacote publicitário para a IstoÉ?

Um dos articuladores da entrevista com o chefe dos sanguessugas disse que a IstoÉ foi escolhida para publicá-la porque os petistas "estavam em guerra" com o resto da imprensa. Quem também está em guerra com o resto da imprensa é o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Na semana passada, ele acusou o Globo e a Folha de praticar "jornalismo marrom". Isso porque os jornais ousaram publicar reportagens mostrando o favorecimento da estatal a ONGs e empreiteiras ligadas ao PT. O Globo, em editorial, atacou: "Nunca como no governo Lula a Petrobras foi tão usada como aparelho partidário e instrumento de propaganda".

O fato é que a Petrobras não favorece apenas ONGs e empreiteiras ligadas ao PT. Ela favorece também a imprensa caudatária do governo. De maio a setembro de 2006, segundo o levantamento de Reinaldo Azevedo, a IstoÉ veiculou 58 páginas de anúncios da Petrobras. Neste ano, pelos dados do Ibope Monitor, foram 2,6 milhões de reais investidos pela estatal na IstoÉ. Carta Capital lucrou ainda mais, proporcionalmente à sua tiragem. Foram 789.000 reais. Na TV aconteceu algo semelhante. A Bandeirantes, depois de ceder um canal ao filho de Lula, tornou-se a segunda maior arrecadadora de comerciais da Petrobras, na frente do SBT e da Record, faturando mais de 20% do total destinado pela empresa às emissoras de TV. Detalhe: o diretor de marketing da Petrobras, Wilson Santarosa, é também o presidente do conselho deliberativo da Petros, o fundo de pensão da Petrobras. Um de seus colegas na diretoria da Petros, Jacó Bittar, é o pai dos sócios do filho de Lula.

O petismo está em guerra com a imprensa. Esse negócio vai acabar mal.

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