Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 30, 2006

Celso Ming - No crédito, o juro não cai




O Estado de S. Paulo
30/11/2006

Como previsto, o Copom cortou os juros básicos (Selic) em mais meio ponto porcentual, para 13,25% ao ano. De setembro de 2004 até hoje foi uma queda de 6,5 pontos porcentuais ou, calculada de outra forma, de 32,9% no período.

Surpreendentemente ou não, na ponta do tomador de crédito os juros não caem no mesmo ritmo. A tabela ao lado mostra isso. Os números não incluem a queda da Selic ontem decidida e são levantados pelo Banco Central.

É inevitável concluir que o crédito é mau transmissor da política monetária. O impacto da política de juros é exercido quase somente sobre o volume de moeda que gira na economia. Isso tira eficácia da política monetária.

Essa tabela reflete algumas distorções. Começa pelo que ficou de fora dela, porque não é alcançado pelo crivo do Banco Central. Em muitos casos, o principal negócio do comércio varejista não é distribuição e venda de mercadorias, mas é o lucro no crédito informal. Quando você vai a uma loja e lá eles dizem que pode pagar uma compra com três ou quatro prestações "sem juros", fique sabendo que os juros já estão embutidos no preço à vista. Como em geral o lojista não aceita dar desconto para pagamento no ato, até quem paga à vista está pagando juros. O Banco Central não tem elementos para avaliar esse segmento que, nessas condições, está informalmente exercendo funções de instituição financeira não supervisionada.

Outra distorção refletida pela tabela é a de que o segmento do crédito coberto pelos bancos brasileiros é mínimo. Estudo do presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, mostra que, em 2005, as operações de crédito no Brasil não passavam de 31% do PIB. Nos Estados Unidos atingiam 284%; na China, 157%; no Japão, 154%; na Europa do Euro, 148%; na Tailândia, 101%; no Chile, 67%. Uma das razões para esse raquitismo é a de que, ao menos nos últimos 20 anos, os bancos preferiram emprestar dinheiro para o governo (operações de tesouraria) e relegaram o crédito para produção e consumo a linhas secundárias de operação.

Como o retorno dos títulos públicos vem caindo, os bancos sentiram necessidade de retomar as operações de crédito e a competição começou a crescer. Os juros no crédito pessoal apontados na tabela são os que mostram maior queda (20,6%), porque o crédito consignado (descontado do salário ou da aposentadoria) atraiu o maior interesse dos bancos. Como os bancos ainda competem pouco, os juros no crédito não caíram o que poderiam cair.

O economista André Loes, diretor setorial de Economia da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), dá três motivos para a baixa queda dos juros no crédito.

O primeiro é metodológico: o levantamento do Banco Central se concentra sobre o crédito às empresas de pequeno ou médio porte. As grandes (Petrobrás, Vale, Volkswagen, CSN, Embraer, etc.), que conseguem levantar recursos a custos baixos, são pouco representativas na tabela.

Um fator que reduz a velocidade da queda dos juros no crédito é o alongamento dos prazos dos empréstimos, tanto para empresas como para pessoas físicas, vantagem para o tomador que em parte é compensada com juros mais altos. Além disso, o crescimento do crédito consignado, segmento normalmente ocupado por clientes melhores, aumentou o risco de crédito para o segmento que se serve do cheque especial, o que levou os bancos a aumentar os juros nessa faixa.

São razões respeitáveis que, no entanto, não justificam o alto custo do crédito.

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