Carta ao Diogo Mainardi
De Glauco Fonseca
Diogo, por favor, e por enquanto, "menos". A impressão que dá é de que não adianta mais. Neste momento, nada é suficiente, nada os atinge, nada é tão forte quanto eles hoje por aqui. O ideal é respirar, pensar e, sobretudo, rever tudo que vivemos nos últimos anos. Diminui, meu estimado Diogo Mainardi. É muito ruim ler ataques pessoais a teu filho, aumenta muito a minha dor, a minha indignação, o meu descrédito na sabedoria humana. Agora é hora de deixar o mundo dar suas voltinhas. Por enquanto, não há crime para eles que não seja altamente compensatório, não inventaram ainda o delito que os ponha a ferros. Eles têm a força, eles têm a grana, eles têm a tão necessária falta de caráter para seguir em frente como bem quiserem. Por enquanto.
Eu estou também diminuindo o ritmo, Diogo. O cansaço não é por conta da derrota mas por conta da infeliz escolha que nossos não menos infelizes compatriotas fizeram nas urnas. De certa forma, estou tentando transformar minha fadiga e minha melancolia em tempo para pensar. Posso até chegar a descobrir, quem sabe, que eu não esteja compreendendo direito a situação. Talvez deva estar errado em alguma avaliação crucial, pois me oponho, como tu, ao modelo conspiratório medonho e maniqueísta que hoje se opera no território nacional. Sou contra mensalão, sou contra corrupção, sou contra tráfico de drogas e de influência, me oponho à roubalheira de dinheiro público, sou contrário às aproximações políticas espúrias e bastardas, também fico indignado com gente que deveria estar presa e sequer será indiciada. Só que devemos, eu, tu e outros tantos, estar errados, não é mesmo? Afinal, as coisas se afastam diariamente daquilo que imaginávamos ser o certo.
Dia desses, fui dar uma palestra para uma turma de 200 alunos de jornalismo e comunicação numa universidade aqui do RS. Falei a eles, primeiro, das enormes oportunidades que as novas mídias ofertarão nos próximos anos. Rádios e TVs digitais, a IPTV, os canais interativos, além dos enormes espaços profissionais ainda a serem descobertos, tanto quanto a serem preenchidos por bons talentos no futuro breve. Discorri, em seguida, a respeito das dificuldades do mercado de trabalho para jornalistas, publicitários e comunicadores. Não gosto de falar em adversidades, mas é papel de qualquer palestrante falar a verdade, não é mesmo? Durante a palestra, contudo, fui ficando angustiado, tenso e não consegui me conter. Encerrei com um insight que surgiu ali mesmo, enquanto eu falava aos gentis assistentes que o grande desafio da comunicação era conseguir fazer com que a informação não só encontrasse novos caminhos em direção à maioria de um povo tão alienado e solitário em sua secular ignorância, mas que fizesse com que a mensagem fosse realmente lida, ouvida, processada e realmente compreendida pelas pessoas que hoje se submetem à pilhagem por conta de um simples prato de comida. Fiquei horrorizado com a descoberta de que, em pleno século XXI, nem Globo, nem Grupo Abril, nem Diogo Mainardi são capazes, em mídia ou em multimídia, juntos ou separados, de serem compreendidos por mais de 75% de brasileiros, que são analfabetos funcionais, incapazes de elucidar tanto a mensagem quanto a verdade.
Não quero me alongar. Concluo com a minha declaração de enorme admiração, com um forte abraço em ti e em tua esposa, afetuosos beijos em teus queridos filhos e com a garantia de que continuarei lendo o que escreves enquanto tu o fizeres. Já discordei algumas (poucas) vezes do teu ponto de vista, mas acredito que nunca discordarei de teu ponto de afeto, com a tua família, com o teu público, sobretudo com o teu país.
Do Diogomainardista,
(*) Glauco Fonseca - é jornalista e escritor