Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 21, 2006

Sinas e sinais Miriam Leitão

Nada mais desalentador que olhar os números de crescimento dos emergentes neste ano. Numa lista de 14 países selecionados pelo Banco Dresdner, o Brasil está lá, na lanterna, com um crescimento que não deve chegar aos 3%, segundo previsão do banco. A média de crescimento entre o grupo é de 5,7%, e nós com os nossos 2,9%. Para 2007, o Dresdner prevê crescimento um pouco menor no mundo, mas o cenário deve continuar parecido.

Logo no início, está escrito no relatório de mercados emergentes que “o mundo muda, mas os parâmetros permanecem intactos: baixa inflação nos países do G7, alto crescimento e forte solvência dos emergentes, preponderância do pragmatismo sobre a ideologia”. Na visão deles, os governantes estão agora preferindo “políticas macroeconômicas prudentes, ainda que isso signifique diminuir a velocidade do crescimento (...), que resultam em grande acúmulo de reservas e redução dos compromissos financeiros”. O Dresdner demonstra otimismo para o próximo ano, que, por enquanto, ainda é uma incógnita para muita gente do mercado.

Quanto a 2006, que está praticamente acabado, o Brasil, definitivamente, não viveu o proclamado crescimento. Mais perto dos nossos prováveis 2,9% de aumento do PIB, está apenas a Hungria, que deve crescer 3,6%. Enquanto isso, a China vai lá longe, com 10,4% de previsão. Aliás, segundo os cálculos do banco, apenas três países da lista de 14 emergentes devem aumentar seu ritmo de crescimento no ano que vem: a China, como não poderia deixar de ser, a Polônia, e, salve, o Brasil. Porém ninguém consegue se animar muito porque, nos últimos anos, estamos sempre começando com uma boa expectativa de crescimento e, com exceção de 2004, tendo que rever para baixo o número ao longo dos 12 meses.

Ainda que alguns países venham a crescer menos em 2007, o bom momento deverá continuar, principalmente nos emergentes. Já os países desenvolvidos, não devem ter o mesmo bom resultado que o dos últimos anos. Mas nada que sinalize que o mundo esteja entrando em recessão, como se temia até recentemente.

Um dos pontos a que o relatório do Dresdner se atém é ao fato de que alguns países continuam pagando alto — talvez muito alto — por sua insolvência de outrora. Uma espécie de “sina original” que faria com que, diante de qualquer sinal contrário, os preços fossem rapidamente ajustados, as pessoas corressem para a moeda estrangeira. A falta de credibilidade faria com que os países emergentes precisassem aplicar medidas pró-cíclicas, enquanto os países desenvolvidos fazem uso de políticas anticíclicas. Os emergentes, mesmo quando estão com suas contas todas indo bem, com grande volume de reservas, superávit na conta corrente, como é o caso do Brasil, continuam tendo problemas para garantir sua solvência: têm que mostrar e comprovar sempre que são responsáveis nos seus compromissos. Países mais ricos, mesmo que tenham enormes déficits, como é o caso-emblema dos Estados Unidos, não encontram os mesmos problemas.

Os EUA devem crescer este ano em torno de 3,2%. É parecido com o número brasileiro mas, lá, é uma economia madura; é normal que cresça menos. Porém, em 2007, a previsão do banco é de que o número caia para 1,9%. Muito tem se falado desta freada da economia americana, mas não há um consenso entre os analistas sobre o que acontecerá: se a redução será gradual ou se haverá uma parada brusca. “O país é, ao mesmo tempo, o mais rico do mundo e o maior devedor líquido”, diz o relatório. Os americanos se endividam com a ajuda do capital que vem do crescimento dos mercados emergentes. Os chineses são hoje os segundos maiores compradores dos títulos do Tesouro americano.

O gráfico abaixo mostra como os emergentes têm acumulado reservas. Quem mais tem se saído bem na tarefa são os asiáticos, mas tanto o grupo dos europeus, mais Turquia e África do Sul e até mesmo a América Latina aumentaram ano a ano a suas reservas. “Os emergentes estão agindo melhor que nunca em garantir seu superávit em conta corrente por meio da acumulação de reservas, desenvolver mercados e manter sua poupança. O que é melhor que emitir dívida em moeda estrangeira”, diz o relatório.

Mesmo com o dólar no nível em que está no Brasil, o banco continua apostando no real e, junto com ele, nas moedas turca e sul-africana. Esperam que o dólar chegue a R$ 2,10 até dezembro. É tanta confiança que, para o fim de 2007, apostam num Brasil com grau de investimento.

Nas últimas semanas, diz o banco, houve um considerável aumento no apetite mundial para o risco. Na hora de investir, acreditam que o importante é “escolher emergentes menos expostos aos riscos — economias grandes, com grande mercado doméstico, reservas em dólar e superávit no balanço de pagamentos”. Retrato falado do Brasil; sendo assim, faz todo sentido apostar no país.

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