Os veículos a hidrogênio não poluem,
mas produzir o combustível é caro
Denise Dweck
Fotos divulgação |
A moto ENV e, à direita, a célula de combustível destacável, que pode ser usada como um gerador portátil: custará menos de 10 000 dólares |
Na busca por um substituto limpo para os derivados de petróleo, o hidrogênio é um forte candidato. Existe em abundância na natureza e seu uso como combustível não emite nenhum poluente, apenas vapor d'água. Há, no momento, uma corrida entre os fabricantes de carros para ver quem consegue colocar primeiro no mercado um modelo movido a hidrogênio. A alemã BMW apresentou este mês o Hydrogen 7, um sedã bicombustível (gasolina e hidrogênio líquido em tanques separados) que começará a ser distribuído em março, inicialmente com a produção limitada a 100 veículos. O FCX Concept, da Honda, está previsto para 2008, mas será movido por uma tecnologia diferente, a das células de combustível alimentadas por hidrogênio em estado gasoso. Nesse sistema, o gás passa por uma reação eletroquímica para gerar a energia que aciona o motor elétrico do veículo.
Nir Elias/Reuters | Divulgação |
À esquerda, o H-Racer, brinquedo movido a hidrogênio que pode ser produzido em casa. À direita, o Hydrogen 7, da BMW, em posto de abastecimento em Berlim: para ser armazenado, o combustível precisa ser mantido a 253 graus negativos |
Um dos argumentos da BMW para a opção pelo hidrogênio líquido é o de que o Hydrogen 7 (cujo preço não foi divulgado) será mais barato em comparação aos concorrentes, pois funciona com motor convencional de combustão interna. O sistema a gás é mais caro, em parte, porque a célula de combustível consiste em uma caixa com placas de platina, metal de preço elevado. O Hydrogen 7 será mais barato, mas também menos eficiente. "A eficiência é medida pela quantidade de energia contida em um combustível que é de fato utilizada pelo motor", diz Ennio Peres da Silva, coordenador do Laboratório de Hidrogênio da Unicamp. "Nos motores de combustão interna, o aproveitamento está abaixo de 25%." Em comparação, o FCX Concept terá aproveitamento de quase 60%. A segunda desvantagem do carro movido a hidrogênio líquido é o custo de armazenagem. Enquanto o combustível no estado gasoso pode ser facilmente colocado em cilindros de alta pressão, o hidrogênio líquido nos postos de abastecimento precisa ser mantido à temperatura de 253 graus negativos. Ou seja, gasta-se uma quantidade enorme de energia só para mantê-lo liquefeito.
A facilidade de armazenamento e a eficiência do consumo permitem que a célula de combustível seja utilizada em veículos menores, como a moto ENV, criada pela empresa inglesa Intelligent Energy. Por enquanto é apenas um protótipo, sem previsão de fabricação em série e com preço presumível em torno de 10.000 dólares. "Já temos a tecnologia para substituir os veículos atuais por outros movidos a hidrogênio. Falta apenas produzir em grande escala para reduzir o preço", disse a VEJA Andy Eggleston, vice-presidente da Intelligent Energy. Além da célula de combustível, a ENV tem uma bateria elétrica que serve de reforço para os momentos em que a moto precisa de maior potência (quando sobe uma rampa, por exemplo). A energia armazenada nessa bateria também é alimentada pela célula de combustível. A velocidade é modesta – 80 quilômetros por hora –, e a autonomia tampouco é lá essas coisas: apenas 160 quilômetros.
O hidrogênio, em estado líquido ou gasoso, esbarra em um paradoxo: a dificuldade de ser produzido em grandes quantidades sem gerar poluição. O elemento não é encontrado em forma pura na natureza. Para ser processado, precisa ser retirado da água, de material orgânico ou de combustíveis fósseis. O método exige alto gasto de energia, o que encarece a produção. Atualmente, o hidrogênio é gerado sobretudo pela decomposição do gás natural e do carvão, processo que libera dióxido de carbono, um dos gases do efeito estufa. Na ponta do lápis, para produzir hidrogênio suficiente para encher um tanque de combustível, libera-se uma quantidade maior de gás carbônico do que a que resultaria se o automóvel rodasse com gasolina. Uma opção mais limpa para fabricar hidrogênio é por meio da quebra de moléculas de água por eletrólise. Como esse processo demanda elevado consumo de energia, a utilização em massa do combustível exigiria aumentar a estrutura existente de fontes não-poluentes de energia elétrica, como a eólica, a solar e a nuclear. Por isso, a médio prazo, é inviável produzir hidrogênio em escala industrial por eletrólise. A empresa chinesa Horizon Fuel Cell resolveu, pelo menos em pequena dimensão, esse problema: criou um carrinho de brinquedo com célula de combustível que vem acompanhado de sua própria estação de produção de hidrogênio, acoplada a um minipainel solar. Nos Estados Unidos, por 115 dólares dá para comprar um desses carrinhos e brincar de forma ecologicamente responsável.