editorial |
O Estado de S. Paulo |
28/11/2006 |
A reunião do Diretório Nacional do PT, no último fim de semana, deixou patentes duas realidades. Uma, a confissão tácita dos ilícitos a que se entregou o partido desde a sua ascensão ao Planalto. Outra, a reafirmação do domínio incontrastável do presidente Lula sobre a legenda da qual tomou profilática distância ao irromper o escândalo do mensalão. Reeleito essencialmente graças a si próprio, pouco ou nada devendo aos companheiros, estava à vontade no evento para repreendê-los pelas práticas dos últimos anos - com a vantagem adicional de mais uma vez se dissociar delas por completo. O sabão desmanchou implicitamente a falsidade, amplamente difundida no petismo, de que as suas malfeitorias não passaram de uma ficção fabricada pela mídia mancomunada com as elites. Indo tão longe quanto dele se poderia esperar na matéria, admitiu, tacitamente, que a corrupção afetou duramente a imagem da sigla e dela retirou, em conseqüência, recursos de poder. “Se não tivéssemos cometido os erros que foram cometidos, chegaríamos muito mais fortes até aqui.” Só faltou acrescentar que, nessa eventualidade, não teria ido com tanta ênfase ao topo da agenda política para o segundo mandato a idéia da despetização do governo (da qual se fala, reclamou o irado presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, como se fosse uma “desratização”). No mesmo tom, pela primeira vez Lula admitiu que os escândalos causaram “sofrimento” ao povo mais humilde, desmentindo a tese de que essa parcela do eleitorado ignorou o problema. “Mesmo assim, não nos abandonou”, emendou, como quem diz, “não fosse eu…” O fato é que, embora o partido tenha recebido para a Câmara dos Deputados menos de 1/3 dos 46,7 milhões de votos dados ao presidente no primeiro turno, os seus 13,9 milhões de sufrágios (dos quais mais de 2 milhões na legenda) o tornaram o mais votado do País. Para “voltar a ser exemplo”, como exortou Lula, e confirmando o reconhecimento dos “erros”, o ministro Luiz Dulci,chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, propôs a elaboração de um código de ética. “Pode ser muito útil à renovação necessária ao PT.” A iniciativa não deixa de ser irônica quando se recorda que durante 25 anos, até o primeiro escândalo federal da série, a agremiação se gabava de ser o partido da ética. Seja como for, o sinal mais incisivo do relutante mea-culpa petista não veio à tona por palavras, mas por uma decisão que atinge em cheio o presidente licenciado Ricardo Berzoini, cujos subordinados no comitê da reeleição atolaram no dossiê Vedoin. Diferentemente do que se divulgou, a Polícia Federal “não tem elementos para concluir que Berzoini foi o mandante da operação”, esclarece o superintendente do órgão em Cuiabá, Daniel Lorenz. Mas, ainda que esta venha a ser a palavra final da investigação, a reabilitação política do ex-ministro é improvável. Tanto que o Diretório Nacional petista resolveu antecipar de setembro para julho do próximo ano o 3º congresso da história da agremiação. Nele se deverá abreviar de 3 para 2 anos o mandato da cúpula, com novas eleições já em 2007 - um casuísmo para amputar em um ano a presidência Berzoini. Convém lembrar, a propósito, a sonora ausência de Lula na eleição direta de que ele saiu vencedor, em fins de 2005. E é claro que a antecipação do congresso não foi aprovada à revelia, muito menos contra a vontade do seu líder máximo. A autoridade de Lula é plena. Os petistas não escondem o seu azedume com a “desratização” criticada pelo assessor presidencial Marco Aurélio Garcia, mas, descontada a retórica, sabem que terão de digerir o governo de coalizão em que se empenha o presidente, com a ampliação do número de Ministérios a serem encampados - desta vez no regime de “porteira fechada” exigido pelos aliados. Estes se queixam de que os seus ministros, no esquema original, eram “rainhas da Inglaterra”, dado o controle do PT sobre a máquina ministerial. Ao término da reunião do partido, o Diretório endossou formalmente a coligação não só “com todas as forças que construíram o caminho da vitória”, mas também “com todos aqueles que estejam de acordo com o programa defendido durante a campanha”. Para guardar um semblante de influência nos rumos da segunda gestão, o PT criou com o PSB e o PC do B um núcleo destinado a coordenar as ações da esquerda no governo. Na verdade, o partido só voltará a falar com voz própria se o presidente não conseguir “destravar” a economia. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, novembro 28, 2006
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