"O que intriga é que os dois Michéis
Têmeres poderiam vir a público revelar
sua dupla existência. Qual o problema?
Gêmeos não podem ser políticos?"
Estão fazendo uma injustiça tremenda com o deputado Michel Temer, o presidente do PMDB. E tudo porque ele apoiou o tucano Geraldo Alckmin até o último minuto da campanha presidencial e acaba de declarar apoio ao petista Luiz Inácio Lula da Silva antes de começar o primeiro minuto de seu segundo mandato. É uma injustiça porque, nos bastidores da política em Brasília, se comenta abertamente que Michel Temer não é um só. Pois é: existem dois Michéis Têmeres. Ambos têm 66 anos, ambos presidem o PMDB, ambos se elegeram agora para deputado federal com 99 000 votos – mas são dois.
No peito de um Michel Temer sempre bateu um coração meio petista. Há um Michel Temer que sempre quis integrar o governo de Lula. Sempre. No início do primeiro mandato, quando o então todo-poderoso José Dirceu negociava a adesão do PMDB ao governo, um entusiasta da negociação era justamente Michel Temer, o petista. E na semana passada quem se sentou à mesa com Lula e anunciou a adesão do PMDB ao governo foi o mesmo Michel Temer, o petista. Não se deve confundi-lo com o outro Michel Temer, em cujo peito sempre bateu um coração meio tucano. Esse outro Michel Temer é que subiu no palanque de Geraldo Alckmin. São dois. São gêmeos.
O que intriga a política brasiliense é que os Michéis Têmeres poderiam vir a público revelar sua dupla existência. Qual o problema? Gêmeos não podem ser políticos? Gêmeos não podem ter preferências políticas diferentes? Em vez disso, os dois Michéis Têmeres insistem em tentar enganar a platéia como se fossem um só. Não se dão conta de que é esse disfarce que gera a injustiça. Agora mesmo, antes de ser chamado para conversar com Lula no Palácio do Planalto, Michel Temer andava irritado. Irritado porque o presidente não o chamava nunca. Alguém lembrou: "Ele também não pode querer que o Lula esqueça que menos de um mês atrás ele estava com Alckmin no Vale do Anhangabaú". Injustiça. Quem estava lá era Michel Temer, o tucano. Quem andava irritado com a demora de Lula era outro Michel Temer, o petista.
Um dos mandamentos básicos para esconder a existência de dois Michéis Têmeres é nunca, jamais, dizer qualquer coisa que seja muito clara. Assim, um Michel Temer não compromete o outro Michel Temer. Confira no seguinte diálogo:
Veja – Por que o senhor apoiou Alckmin?
Temer – Eu ouvia dizer que o partido inteiro estava com Lula. Como não era assim, resolvi restabelecer a verdade. O PMDB ficou dividido e declarei o meu apoio ao Geraldo Alckmin, a quem eu sempre fui mais ligado.
Veja – Por que o senhor agora apóia Lula?
Temer – Agora, identifiquei que a grande maioria gostaria de atender aos apelos do presidente para que o PMDB ingressasse no governo. O que eu fiz foi ser coerente com a decisão do PMDB de apoiar o governo.
Os dois Michéis Têmeres estão sempre a serviço de evidenciar a vontade partidária: vira tucano para mostrar a divisão, vira petista para mostrar a união.
Não é um disfarce perfeito?