Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 22, 2006

Míriam Leitão - Proposta de aço


Panorama Econômico
O Globo
22/11/2006

Para evitar ficar muito endividada na possível compra da Corus, a CSN já tem um plano: abrir o capital da mina Casa de Pedra e dividir a companhia em vários negócios, também abrindo capital. "Não correremos risco; o plano para desalavancar a companhia já está pronto", diz o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, que está em Londres há duas semanas montando a operação de compra da siderúrgica inglesa. Se der certo, juntas elas serão a quinta maior siderúrgica do mundo.

A due diligence - ou seja, a auditoria - que antecede a proposta formal começou ontem, e a CSN terá que correr bastante porque a Corus terá uma assembléia extraordinária no dia 4 de dezembro para avaliar a proposta de compra da Tata Steel. A proposta da empresa brasileira ainda é condicional: a Tata já havia feito sua oferta quando a CSN decidiu também que queria adquirir a Corus.

O que está levando empresas brasileiras a comprar companhias estrangeiras? O embaixador Sérgio Amaral, que está em Londres na equipe de Steinbruch, aponta como possíveis motivos o lucro das empresas brasileiras, a liquidez no mercado internacional e a taxa de câmbio.

Recentemente outros grupos brasileiros deram passos ousados em países desenvolvidos. A Gerdau comprou ativos em diversos países, principalmente nos Estados Unidos, onde se transformou na quarta maior siderúrgica. Esta semana, através da espanhola Sidernor, adquiriu a GSB Acero, na Espanha. Na semana passada, a Gerdau havia feito outro movimento no mercado internacional ao aumentar de 52% para 83% sua participação na Siderperú, com investimento de US$40,5 milhões. A empresa já está hoje em oito países no exterior e continuará investindo para aumentar sua capacidade de produção mundial.

A operação mais alta feita por grupos brasileiros foi a compra da canadense Inco pela Vale do Rio Doce. Agora, a CSN entrou na disputa pela Corus. Há poucos anos, a Corus tentou comprar a CSN. A inglesa continua sendo maior que a brasileira, que agora tem ainda de enfrentar a rival indiana: a Tata. A oferta da CSN é 4,25% maior e em dinheiro, mas há rumores de que a empresa indiana deve aumentar sua proposta.

- Esse será o maior investimento industrial brasileiro no exterior - diz Sérgio Amaral.

A compra feita pela Vale foi de US$18 bilhões, mas na área da mineração.

CSN e Corus, juntas, têm várias vantagens. Primeiro, a CSN é dona da cobiçada mina da Casa de Pedra, que produz um minério de alta qualidade, com 65% de pureza. Segundo, as duas empresas têm portfólio complementar de produtos e de áreas de atuação no mundo. Terceiro, a CSN quer aumentar sua participação nos Estados Unidos, pois há vários tipos de aço que o Brasil não pode exportar para lá, a Corus já tem uma base maior nos EUA, o que ajudaria em muito o fortalecimento da empresa brasileira no mercado americano. Juntas, seriam a quinta maior siderúrgica do mundo, com produção anual de 24 milhões de toneladas. Mesmo assim, há o temor de que a siderúrgica brasileira fique muito endividada porque estará comprando um ativo maior que ela própria, isso considerando que a CSN já carrega uma dívida alta. Até setembro, o lucro líquido da Companhia caiu 34%, ficando em R$1,084 bilhão no ano.

- Nós não faríamos nada que não fizesse sentido, nem colocaríamos a empresa em risco. Claro que não será fácil, mas estamos acostumados. A indústria brasileira como um todo está preparada e capitalizada, e agora tem que crescer comprando ativos fora do país. Para nós, entre as várias vantagens da Corus, está o seu grande avanço tecnológico. Ela tem um centro de pesquisa com 500 engenheiros; temos muito a aprender com eles. Outra vantagem é a diversificação de produtos, mais de três quartos dos produtos da Corus são de outros tipos de aço que não produzimos - afirma Steinbruch.

Por enquanto, a CSN declarou apenas uma intenção de compra. Apenas depois da auditoria é que será feita a proposta formal. Enquanto vai fazendo a auditoria, paralelamente, organiza a engenharia financeira.

O que a empresa está explicando é que a modalidade do financiamento é o que permite que os ativos da companhia comprada, a Corus, sejam dados em garantia. Neste momento, a direção da CSN está em Londres levantando a estrutura financeira para o crédito de US$10 bilhões e, ao mesmo tempo, fazendo a due diligence da siderúrgica inglesa. A Corus é maior que a CSN, produz três vezes mais aço (18 milhões de toneladas, contra seis milhões de toneladas) e a oferta de compra de US$10 bilhões é maior que os ativos da Companhia Siderúrgica, que são de US$8,5 bilhões. A proposta será de comprar 100% das ações da empresa inglesa.

O mercado está um pouco desconfiado do excesso de confiança da CSN. Isso acontece porque muitos acreditam que o aço está no topo do seu preço. A produção da China atualmente é tão grande que o país já se tornou hoje um exportador líquido; a produção lá cresce mais que a demanda. E muitas indústrias estão cortando produção para manter o preço.

Essa caminhada para fora de empresas brasileiras tem várias vantagens e está sendo facilitada pela valorização do real. Neste momento, grandes países emergentes estão mesmo comprando ativos nos países desenvolvidos. Isso torna as empresas brasileiras mais capazes de enfrentar a competição em mercados mais globalizados. Mas o temor é de que a operação da CSN deixe a empresa muito alavancada. Benjamin Steinbruch acha que o mercado vai se tranqüilizar assim que conhecer todos os detalhes da operação.

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