Algo estranho acontece no ar
“O único avião que sai na hora (com deslumbrados convivas) é o Aerolula”, constatou o jornalista Elio Gaspari. E na hora escolhida pelo Primeiríssimo Piloto, pode-se acrescentar. Enquanto o rebanho nacional de passageiros espera, amontoado nas salas de embarque, pousos e decolagens que só existem na cabeça do ministro Waldir Pires, o presidente governa partidas e chegadas pontualíssimas.
O desfrute desses requintes a bordo do grande pássaro da pátria tem seu preço, começa a desconfiar o resto do Brasil. Para milhões de flagelados do apagão aéreo, o anúncio de atrasos de uma hora já ecoa como graça alcançada. Reagem com o sorriso dos vitoriosos. Vida que segue, começa a resignar-se a nação dos conformados. Estranhamente, quem anda sofrendo alterações de comportamento é a turma que viaja no avião presidencial.
Lula, por exemplo, vem apresentando sintomas de uma forma não catalogada de jet lag, mal que afeta quem passa horas no ar e sofre a mudança do fuso horário. O relógio biológico se desconecta do que mede o tempo externo.
No caso de Lula, pouco importa a duração da viagem, o efeito é o mesmo: ele fica sem saber direito o que é. Às vezes, desembarca como presidente no pleno exercício do cargo. Outras, desce como presidente eleito, absorvido pela montagem do novo governo enquanto aguarda o dia da posse.
Freqüentemente, incorpora o eterno candidato louco por um palanque. Em dias de especial inspiração, encarna as três versões numa única viagem. Isoladamente ou fundidos no mesmo corpo, todos os personagens parecem muito confusos. Falam demais. Colecionam gafes e disparates.
Na recente visita a Mato Grosso, desembarcaram por lá todos os Lulas. “Já que tem microfone e tem gente, vamos falar”, decidiu o candidato. O presidente em exercício brindou com 14 quilômetros de estrada o governador Blairo Maggi, a quem se referiu como “Magri” e “Bagre”.
Ainda tripulando o chefe de governo, produziu as gabolices de praxe. “Houve um tempo em que disseram que o presidente Lula não gostava da agricultura”, homenageou-se o maior dos governantes, que há meses preside o colapso de numerosas atividades rurais. E então emergiu o presidente eleito, pronto para roubar a cena em Mato Grosso.
“Vou destravar o Brasil”, repetiu. Como assim? Quando? De que modo? Tais enigmas podem esperar um pouco mais. “Não me pergunte o que é ainda, que eu não sei”, ressalvou. “E não me pergunte a solução, que eu não tenho, mas vou encontrar porque o Brasil precisa crescer”. Não há motivos para inquietação, garantiu. Até 1º de janeiro, Lula haverá de desmatar as trilhas que nem sequer enxergou em quatro anos no poder.
Por falta de tempo, certamente: só agora o país está deixando o homem trabalhar. Mas é preciso que a oposição deixe de fazer oposição, condicionou. Com todo mundo a favor, o espetáculo do crescimento enfim poderá começar. Será bonito contemplá-lo da janelinha do Aerolula..
Cabôco Perguntadô
O Cabôco se prontifica a recepcionar a bolada em sua conta no Banco do Brasil.
Mesquinhez sobre rodas
Ex-presidentes da República têm direito ao uso de um Ômega blindado, cedido pelo Palácio do Planalto. Pelo menos Fernando Henrique Cardoso deixou de tê-lo. O governo atual acaba de informar ao antecessor de
Lula que, com a renovação da frota, vai receber um Ômega sem blindagem.
FH não é conhecido pela intemperança. Mas já resolveu que, caso a mesquinharia seja consumada, abrirá mão do carro e providenciará algum outro com o próprio dinheiro. Com blindagem.
Governar é escolher
O jornalista Janio Soares conta um caso protagonizado por Waldir Pires quando o ministro da Defesa era governador da Bahia. Depois de seis meses de espera, a cidade de Glória ganhou um novo delegado de polícia, escolhido pelo próprio Pires. Era o pai de um candidato a vereador que, apesar do apoio do chefe, não se elegera.
O xerife estreou com a colocação de uma placa na entrada do mercado que abrigava o forró semanal: “A partir de hoje, é terminantemente proibido dançar fumando”.
O campeão da auto-suficiência
José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, esbanja a auto-suficiência que a empresa só alcançou graças a muitos governos (e a sucessivas gerações de contribuintes). Irritado com o jornalista Chico Otávio, de O Globo, deu-lhe o aviso: “Você não é bem-vindo aqui”.
Aqui é a sede da Petrobras. Não é uma empresa pertencente à família do seu presidente. Nem é a casa de Gabrielli. Às vezes lembra a casa da mãe Joana, mas é uma estatal cujo dono é o povo brasileiro.
Yolhesman Crisbelles
As expectativas de inflação na nossa sociedade, como um todo, estão mais ancoradas agora que no passado recente.
Os jurados do Yolhesman Crisbelles ficaram muito impressionados com a sopa de letras criada por Meirelles. E aprovaram por unanimidade a indicação do vigilante leitor do Jornal do Brasil.