FHC: proposta para encontrar Lula "é uma bobagem"
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso repreendeu ontem o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, por ter revelado à imprensa um presumido futuro convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu antecessor para uma conversa no Palácio do Planalto. A informação, publicada domingo com exclusividade pelo Estado, irritou FHC. Ontem, o tucano comentou em São Paulo com amigos que Lula está perplexo, 'sem agenda' e 'sem capacidade de articulação' para montar o seu futuro governo. A proposta feita por Lula a Virgílio causou muitas reações na base oposicionista. O governador reeleito Aécio Neves (MG) disse em Belo Horizonteque não se negará a conversar com Lula sobre o crescimento do País, mas deixou claro que o gesto 'não se trata de conciliação'. O governador eleito José Serra (SP) afirmou que, se for convidado, irá, mas a agenda da conversa deve ser proposta por Lula. A governadora também eleita Yeda Crusius (RS) disse que aceita discutir a reforma tributária 'desde que o governo federal mostre antes qual é a contribuição que vai dar'. 'Isso (o convite) é uma bobagem', disse FHC a amigos ontem, ao justificar a repreensão feita a Virgílio por telefone. FHC julgou uma impropriedade que o eventual convite tenha sido divulgado antes que o convidado fosse informado e que o anfitrião divulgasse a agenda do encontro. O ex-presidente relatou a amigos que, apesar da vitória retumbante em outubro, Lula tem mostrado sinais de desorientação porque, aparentemente, não está sabendo elaborar uma agenda de alto nível para seu segundo governo nem mostrar consistência na articulação política. Ele comentou que o petista falha ao organizar a sua base política e não consegue sequer harmonizar a sua base original. FHC julgou que a proposta de Lula para conversas no palácio tem a aparência de um factóide, cortina de fumaça para encobrir a sua incapacidade de construir uma agenda e de montar uma sólida base política de apoio. Ele disse a amigos que não tem nada a conversar com o atual presidente antes de receber um convite formal e ver anunciada a pauta da conversa.”
FHC está em outra
Fernando Henrique Cardoso não gostou nada da desenvoltura do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) ao tentar agendar um encontro seu com Lula e torce para que a disposição do presidente não passe de um factóide. O barulho de Virgílio já provocou o que o petista queria. Se o convite for mesmo feito, cria-se um constrangimento — ou dois: o primeiro é ter de ir contra a vontade; o segundo é não ter o que dizer a Lula. De qualquer modo, o senador já serviu de inocente útil. Ficou parecendo que está em curso um grande entendimento nacional. Mais esdrúxula ainda é a proposta de criação do tal conselho de ex-presidentes. FHC, definitivamente, está em outra.
O ex-presidente acha que seu partido deve mesmo é ir ao encontro dos milhões de eleitores que votaram nos tucanos. Por isso tem conversado muito nos últimos dias. Quer reunir massa crítica — sobretudo economistas — para pensar um projeto para o Brasil que conjugue estabilidade e crescimento. E não precisa ser nada que tenha a marca da urgência. Será ainda melhor se este esforço tiver uma marca que vá além do partido.
O ex-presidente acha que seu partido deve mesmo é ir ao encontro dos milhões de eleitores que votaram nos tucanos. Por isso tem conversado muito nos últimos dias. Quer reunir massa crítica — sobretudo economistas — para pensar um projeto para o Brasil que conjugue estabilidade e crescimento. E não precisa ser nada que tenha a marca da urgência. Será ainda melhor se este esforço tiver uma marca que vá além do partido.