Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, novembro 27, 2006

Tentação autoritária FERNANDO DE BARROS E SILVA

FOLHA

SÃO PAULO - A idéia ventilada pelo petismo de que a reeleição de Lula representou a vitória das forças populares e progressistas contra os senhores do atraso e os guardiões do conservadorismo é de um simplismo ofensivo à inteligência.
Seria preciso ignorar quem são os parceiros políticos de Lula; seria preciso ignorar no que se transformou o próprio PT (uma máquina burocrática a serviço do novo patrimonialismo sindical, um instrumento para conferir vantagens a seus membros); seria preciso ainda ignorar o que foi o primeiro governo Lula e sua infinita capacidade de acomodar interesses sem resolver conflitos, tudo resultando num jogo de soma zero, sem crescimento ou distribuição de renda.
Se não desobstruiu a economia, a reeleição de Lula voltou a destravar o pendor autoritário do petismo e de amplos setores do governo. Notória em várias passagens deste mandato, essa tentação se viu obrigada a hibernar depois do mensalão, por força dos fatos. Ela voltou, com grau inédito de excitação.
O próprio Lula dá sua contribuição ao clima despótico quando pede aos governadores eleitos que não lhe façam oposição até 2010. Ou quando lista a legislação ambiental, os órgãos encarregados de fiscalizar os atos do Executivo e a própria oposição como entraves "naturais da democracia" para seu sonho tardio de crescer. Alguns dirão que o presidente não falava a sério -embora o assunto e o cargo exigissem.
Lula brinca, mas não seus áulicos. É famosa a frase do vice-presidente Pedro Aleixo, quando, na reunião que decretou o AI-5, discorria sozinho contra a medida e foi interrompido por Gama e Silva, então ministro da Justiça: "Dr. Pedro, o sr. desconfia das mãos honradas do presidente, aqui presente?" E a resposta: "Não ministro, eu desconfio é do guarda da esquina".
Guardemos estas palavras, ao lado do que disseram na semana passada -sobre e para jornalistas- o presidente da Petrobras e o presidente do PT. Serão eles comissários do povo ou guardas da esquina?

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