Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 21, 2006

Clóvis Rossi - A "coalizão" e o banquete

Clóvis Rossi - A "coalizão" e o banquete


Folha de S. Paulo
21/11/2006

Como diria o presidente Lula, "nunca neste país" ficou tão transparente que a chamada "coalizão" que o governo pretende formar não envolve nada além do tradicional butim de cargos públicos. É verdade que um ou outro político finge que está em questão algum projeto de país. Mas ninguém acredita.
Nem pode acreditar. Alguém aí tem a mais remota noção de qual é o projeto de país do PMDB, o parceiro mais desejado pelo governo? É possível haver um projeto de país em um partido que tem, numa ponta, o governador Roberto Requião (Paraná), e, na outra, o deputado Delfim Netto?
Poderia citar uma pilha de outros pares tão incompatíveis como os dois, unidos apenas pelo apetite pelo poder. Mais: qual é o projeto de país do próprio PT? Seria o grito de "acabou a era Palocci", disparado pelo articulador político Tarso Genro?
Não pode ser, porque o articulador foi desautorizado pelo presidente da República, levou um pito, calou a boca, enfiou a viola no saco e ainda elogiou quem lhe passou o pito, em cena explícita de submissão, raramente vista.
Como é possível levar a sério qualquer articulação tocada por quem diz enfaticamente uma coisa, é desmentido com a mesma ênfase, mas continua articulando?
Se não vale o "acabou a era Palocci", vale então o "viva a era Palocci"? Também não, porque o presidente vive cobrando "propostas concretas" para um crescimento mais acelerado, o oposto do que ocorreu no período Palocci, que, aliás, não era período Palocci, mas período Lula, como o próprio presidente deixou claro ao desautorizar Tarso Genro.
Tudo somado, tem-se que nem Lula sabe que "propostas concretas" poderiam servir de cimento para a "coalizão".
Resta, pois, o butim, o grande banquete do mundo político.

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