Panorama Econômico |
O Globo |
28/11/2006 |
A última reunião do Copom do ano deve reduzir de novo a taxa de juros em mais meio ponto percentual, para 13,25%. Isso representa uma vitória num país com a história do Brasil. Os juros caíram durante todo o ano; inclusive no período mais quente do debate eleitoral. A má notícia está prevista para chegar quinta-feira, quando for divulgado o crescimento do terceiro trimestre do ano: será menor do que se previa no começo do trimestre. O cálculo que o mercado financeiro fazia era de que, no terceiro trimestre, o país teria um bom crescimento, acima de 1%. As previsões estão muito dispersas; vão desde os 0,7% em relação ao segundo trimestre, feita pelo Bradesco, por exemplo, até os 0,2% do Credit Suisse. Mas todas as instituições reviram para baixo as projeções para o resultado que será divulgado esta semana. Para 2006, o mercado está prevendo um número abaixo de 3% de crescimento do PIB. O que houve no terceiro trimestre foi queda da produção do setor de extrativa-mineral - leia-se Petrobras, que representa 80% do setor. A estatal diminuiu a produção e refino de petróleo no período por problemas operacionais em algumas plataformas, mas, no quarto trimestre, a tendência é de alta na produção. Foi uma redução temporária. Houve queda também na produção de veículos; em parte, por causa da greve. Caiu forte, 13,6%, a produção industrial da linha marrom; a linha branca caiu 5,5%; e o setor de máquinas e tratores agrícolas, 11,8%. O ano não foi de todo mal, principalmente quando se olha o consumo das famílias. Cresceu muito durante 2006, ficando atrás só do movimento após o Plano Real, mas o comércio externo entrou com fator negativo na conta, diz o economista Nilson Teixeira, do Credit Suisse: - Como o que o PIB mede é o quantum (volume) das exportações, não consegue captar o aumento dos preços dos produtos exportados pelo Brasil. A previsão de Nilson é que o quarto trimestre vai ser melhor que o terceiro. E acha isso baseado em alguns pontos: em outubro, a produção de automóveis aumentou 14,2% em relação a outubro de 2005 e 10,4% em relação a setembro; houve aumento da expedição de papelão ondulado, um indicador de outros bens vendidos, de 6,6% em relação a outubro de 2005 e de 2% em relação a setembro; aumento da extração de petróleo. Além disso, ele acredita que o setor de varejo oferecerá ao consumidor condições mais favoráveis de crédito. Mas Nilson está imaginando um crescimento do PIB ainda menor que a média do mercado. Prevê 2,7%. Para um país que pensava crescer 4%, o resultado é um fiasco. Não adianta culpar só os juros. O Banco Central, criticado durante todo o ano - inclusive aqui -, foi mais conservador que poderia ter sido, como mostra a inflação bem abaixo do centro da meta de 4,5%, mas o BC entregou o que se pediu dele: uma inflação baixa, que ajudou a garantir o cenário econômico de tranqüilidade para a realização da eleição presidencial. O mundo inteiro cresceu muito mais, os países vizinhos têm números muito mais robustos de crescimento, e o Brasil continua na sua marchinha de sempre, entre 2% e 3% de crescimento. O quarto trimestre pode acabar sendo o período mais animado do ano, porque as encomendas do varejo para o Natal têm sido, nos últimos anos, realizadas mais em outubro ou novembro que em agosto e setembro, como anteriormente. Isso adiou um pouco os bons números de venda e produção que o Natal traz. A queda dos juros ao longo do ano permite que o governo se financie a um custo menor, e o tomador privado, também. As entidades empresariais têm divulgado índices mostrando otimismo dos empresários, como a CNI. Tudo indica um quarto trimestre melhor, mas, mesmo assim, nada altera o fato de que 2006 foi medíocre em termos de crescimento do PIB. A inflação teve uma alta agora, provocada pelo reajuste forte do preço dos ônibus em São Paulo e pela elevação do preço dos alimentos; por isso, nas próximas semanas, o Boletim Focus trará aumento nas previsões do mercado para o IPCA do ano. Nada que preocupe, porque não é tendência, é episódio. Os preços dos alimentos já voltaram a ceder e o reajuste dos ônibus está sendo absorvido. Com tudo isso, a inflação do ano ficará em 3,1% ou um pouquinho mais. O que preocupa no Brasil não é o risco de uma disparada da inflação, alta do dólar, alguma crise externa. Tudo isso está longe do horizonte das preocupações. O país já passou de US$80 bilhões de reservas, a inflação está abaixo da meta, e o dólar está fraco até demais. A preocupação é a área fiscal, pelo excesso de bondades concedidas pelo governo neste ano eleitoral. O país teve outro aumento de carga tributária e terá novo aumento no ano que vem. As reuniões da equipe econômica com o presidente Lula estão discutindo mais os aumentos de gastos que qualquer medida saneadora. O voluntarismo - convicção de que bastam medidas baixadas pelo governo para que o país volte a crescer 5% ao ano - indica que até o diagnóstico da situação econômica feita pelo governo é superficial. Tudo leva a crer que o Brasil continuará tendo anos como foi o de 2006: tudo joga a favor e, mesmo assim, o crescimento é medíocre. O mundo cresce, e o Brasil continua morno. |
Entrevista:O Estado inteligente
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