O Estado de S. Paulo |
29/11/2006 |
O risco de alguma surpresa de última hora é mínimo. Na última reunião do Copom da primeira administração Lula, a ser realizada hoje à tarde, os juros básicos (Selic) deverão cair mais meio ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Se isso se confirmar, será um corte acumulado de 6,5 pontos porcentuais desde setembro de 2004, quando começou a atual fase de afrouxamento monetário. Se forem tomados os quatro anos do atual governo Lula, terá sido um total de 12,25 pontos de recuo, uma vez que, em janeiro de 2003, os juros estavam a 25,5% ao ano. Como a inflação brasileira deverá fechar o ano ao redor dos 3%, juros de 13,25% ao ano apontam para juros reais (descontada a inflação) em torno dos 10%, os mais baixos desde 2002. Apesar disso, convém não tirar o pé do chão firme. Esses juros básicos de 13,25% ao ano continuam muito elevados. Entre os países emergentes, só perdem para os vigentes na Turquia, hoje nos 19,50% ao ano. Em conseqüência dessa enormidade, as críticas contra 'os juros escorchantes' vão continuar por um bom tempo. Apesar disso, a tendência continua sendo de queda porque o único critério que o Banco Central utiliza para definir o tamanho dos juros é a meta de inflação. E a inflação não só está enquadrada com folga dentro da meta, como enfrenta outros fatores que a empurram para baixo, provavelmente com mais força do que os juros. O primeiro desses fatores é o dólar barato. Não fosse a agressiva atuação do Banco Central na ponta de compra, a cotação do dólar em reais estaria ainda mais baixa. O outro é o aumento da participação das importações no suprimento do consumo interno, elemento que precisa de mais análise. Há alguns anos, produto importado no Brasil quase sempre era sinônimo de mercadoria mais cara. Agora acontece o contrário. O dólar bem mais barato e, mais do que isso, os preços em dólares das mercadorias importadas da Ásia substancialmente mais baixos estão aumentando a competição no mercado interno e, assim, obrigando indústria e comércio a conterem os preços. Em princípio, essa situação deve persistir aqui e no mundo. O que poderia perturbar esse equilíbrio seria a eventual necessidade que os bancos centrais dos países ricos teriam de aumentar os juros de maneira a combater a inflação. Ainda ontem, Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos), partilhou com o público suas preocupações com uma inflação mais alta do que a que pode admitir. Ele observou que o núcleo da inflação americana continua alto demais, o que poderia sugerir necessidade de reforço nos juros. (Apenas para os iniciantes, o núcleo é a inflação expurgada dos preços dos alimentos e da energia, que, em princípio, não reagem ao mecanismo dos juros.) O mercado financeiro suspeita de que movimento equivalente possa ser feito pelo Banco Central Europeu. No entanto, mesmo que haja novo aumento dos juros externos, é improvável que reduzisse significativamente a atual abundância de recursos externos a ponto de provocar uma reviravolta nas cotações do dólar aqui no Brasil e, nessas condições, de aumentar a inflação, que, por sua vez, pudesse exigir nova carga dos juros. De todo modo, já não dá para sustentar que o crescimento econômico esteja emperrado apenas (ou principalmente) por causa desses juros. O PIB já avançou mais do que está avançando quando o preço do dinheiro estava bem mais alto do que esse aí. Durante muito tempo, os juros serviram como bode expiatório de tudo quanto de ruim havia na economia. Hoje, já não se repete a chamada TPC (tensão pré-Copom) de há alguns meses. E é o presidente Lula quem está advertindo que há bloqueios mais importantes a remover. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, novembro 29, 2006
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