Editorial |
O Estado de S. Paulo |
30/11/2006 |
Desde que se noticiou, há duas semanas, que o presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, havia colocado o cargo à disposição do presidente da República por pressão de setores do PT interessados em tornar a mídia estatal dócil aos interesses do governo - o que ele nega, convincentemente -, o jornalista e estudioso do ofício não perde oportunidade de se manifestar sobre o que entende serem os objetivos e limites dos órgãos de comunicação vinculados ao Estado. Suas idéias não poderiam ser mais bem-vindas neste país em que os governantes de turno, com raras exceções, costumam achar que a mídia oficial existe para estar a seu serviço - e não da sociedade, que em última análise a sustenta. Exemplo dessa preocupação foi a fala de Bucci na abertura do I Fórum Nacional de TVs Públicas, promovido pelo Ministério da Cultura. Ele tornou a expor a sua antiga convicção, decerto fortalecida por sua experiência no Planalto, de que "o sistema estatal de comunicação não precisa ser governista - e não deve ser". Contrariando a noção convencional que separa a mídia em estatal, pública e privada, permitindo deduzir que a primeira deve mesmo funcionar como correia de transmissão das verdades do oficialismo, Bucci insiste em que também o aparato de mídia ancorado no Estado precisa ficar "livre das contingências partidárias que naturalmente têm ensejo no núcleo de um governo". Seria o ideal se essa fosse a característica da Radiobrás, criada pelo presidente Geisel em 1975 para operar as emissoras de rádio e TV do governo federal e que, em 1988, na administração Sarney, absorveu a Agência Nacional do getulismo. Conglomerado com duas agências noticiosas, cinco estações de rádio e duas de televisão, que se define como "empresa pública de comunicação", responde à Secretaria de Comunicação do Governo, cujo titular tem status de ministro e trabalha no Palácio do Planalto. Na gestão Bucci, a Radiobrás ressaltou que a sua razão de ser é veicular "com objetividade informações sobre Estado, governo e vida nacional". A linha que distingue essas três categorias é tênue por definição. E tanto mais tênue será quanto menos nitidamente demarcada estiver a distinção entre as esferas pública e particular na cultura de um país - como ainda é, em larga medida, o caso brasileiro. Desse ângulo, a concepção defendida por Bucci representa um avanço mensurável pelas resistências que desperta. A julgar pelos comunicólogos do PT, para compensar a presumível hostilidade da "imprensa burguesa" ao governo Lula, a Radiobrás deveria divulgar os atos da administração, os (inesgotáveis) discursos de seu chefe e os fatos de interesse geral de forma a gerar, ampliar e consolidar o apoio popular ao esquema petista de poder. Ou seja, para todos os efeitos práticos, descarte-se a objetividade em favor do proselitismo. Na presidência da Radiobrás, Bucci tentou percorrer, nem sempre com êxito, como admite, o caminho oposto, para ao menos atenuar o seu caráter de "mídia chapa-branca". Em 2003, por exemplo, um protesto de 20 mil servidores contra a reforma da Previdência, em Brasília, acabou ignorado pela agência de notícias da estatal e convertido, na Voz do Brasil, em mera entrega de uma proposta ao governo para o setor. Foi o que o levou a iniciar uma reforma radical no programa. Aliás, ele considera um anacronismo injustificável numa democracia a existência de "uma cadeia nacional de uma hora todos os dias nesse formato, com transmissão obrigatória por força de lei", como reiterou semana passada em entrevista ao Observatório da Imprensa na TV. Na mesma ocasião, cometeu a heresia de dizer que "a Radiobrás não tem atribuição legal de fazer serviço de porta-voz, de assessoria de imprensa, de propaganda de governo (porque) essas atribuições pertencem aos organismos da administração direta". Isso significa que o jornalismo praticado na estatal deve obedecer aos mesmos padrões de separação entre publicidade e noticiário, e entre informação e opinião, metas constitutivas da imprensa livre. Incidentalmente, Bucci é partidário da tese de que "só há um jeito de corrigir problemas da liberdade de imprensa: é com mais liberdade de imprensa". Permaneça ele ou não na Radiobrás, esse é o espírito que precisa deitar raízes na empresa - e no governo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, novembro 30, 2006
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