Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 04, 2006

A tomografia no diagnóstico do câncer de pulmão

Imagem pode ser tudo

Estudo afirma que a tomografia é um
exame eficaz na detecção precoce do
câncer de pulmão. Mas essa conclusão
está longe de ser consenso


Giuliana Bergamo


Photodisc Royalty-Free/Getty Images

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De todos os tipos de câncer, o de pulmão é o que mais mata no Brasil. Estima-se que 80 000 homens e mulheres morram anualmente vítimas da doença. Esse cenário deve-se sobretudo ao diagnóstico tardio e à agressividade de alguns tumores. O mal costuma evoluir sem dar sinais de sua existência. Na maioria dos casos, quando os primeiros sintomas aparecem, o tumor já está em estágio avançado, disseminando-se para outros órgãos. Como forma de reverter esse quadro, um estudo publicado recentemente na revista científica The New England Journal of Medicine propõe tornar a tomografia computadorizada um exame de rotina para fumantes e ex-fumantes, já que 90% dos nódulos malignos de pulmão estão associados ao vício do cigarro. "Com essa medida, é possível flagrar tumores em estágios iniciais e evitar 80% das mortes pela doença", diz a radiologista americana Claudia Henschke, autora do trabalho e professora do Weill Medical College of Cornell University, em Nova York. Essa é a maior pesquisa já realizada sobre a importância da tomografia computadorizada na detecção precoce do câncer de pulmão.

Por três anos em média, a médica e sua equipe submeteram cerca de 30.000 voluntários a tomografias anuais. Todos eles apresentavam algum risco de desenvolver câncer de pulmão – a maioria fumava ou já havia fumado. Das 484 pessoas que, em algum momento da pesquisa, receberam diagnóstico positivo, 412 estavam em estágios iniciais da doença. Depois de se submeter a cirurgia para remoção do tumor, a maioria foi considerada curada. Apesar dos resultados positivos, a conclusão do estudo está longe de ser um consenso. Alguns especialistas defendem que, para confirmar o impacto do exame no aumento de sobrevida dos doentes, há necessidade de mais pesquisas. Eles argumentam que é preciso comparar dois grupos de pacientes – um que se submeta à tomografia anual e outro que não tenha nenhum tipo de acompanhamento, como ocorre atualmente na maioria dos casos. Só assim será possível analisar se a tomografia anual pode, de fato, reduzir as mortes por câncer de pulmão. Por falta dessas evidências, o exame ainda não é recomendado em larga escala.

Desenvolvida na década de 80, a tomografia computadorizada fornece imagens extremamente detalhadas do pulmão. Com o exame, é possível flagrar tumores com cerca de 2 milímetros de diâmetro. Mesmo assim, ele não dispensa a necessidade de uma biópsia, para confirmar a malignidade ou não dos nódulos encontrados. O método utilizado para a coleta da amostra do tumor varia conforme a sua localização, mas, em todos os casos, trata-se de um procedimento extremamente invasivo, com 5% de probabilidade de complicações. "Como não podemos expor os pacientes ao risco da biópsia desnecessariamente, a tomografia só deve virar exame de rotina se ficar comprovado que ela realmente salva vidas", diz o cirurgião oncológico Jefferson Gross, do Hospital do Câncer A.C. Camargo.

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