Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 08, 2006

Míriam Leitão - Simples e errado



Panorama Econômico
O Globo
8/11/2006

Nas últimas horas antes das eleições de ontem, o presidente Bush resumiu seu discurso: "Votar no Partido Democrata é votar por aumento de imposto. Votar no Partido Republicano é votar por redução de imposto." A verdade é bem mais complicada que isso, mas eleição é época de construir idéias simples, que normalmente estão erradas. Quando se desarma o palanque, é preciso desarmar junto as idéias simplistas.

O presidente Lula disse ao GLOBO que o país estava preparado para crescer sem reformas e sem corte de gastos. E agora o governo está estudando reformas e corte de gastos para garantir o crescimento futuro. Durante a campanha, o presidente Lula repetiu a idéia de que, no primeiro mandato, tinha feito as bases da casa, e agora levantaria as paredes. Ao longo da campanha, foi se animando e, no fim, já estava dizendo que tinha feito bases e paredes, e agora precisava pôr o telhado. Simples, fácil de entender e errado.

Há muito a fazer ainda nas bases para fincar as fundações que permitirão o crescimento futuro. Muito já foi feito, de fato, pelo governo Lula e pelos governos que o antecederam. O processo de reformas no Brasil está correto; o que está errado é o ritmo. Ele tem ido lento demais. Abriu a economia, venceu a superinflação, privatizou, liberou o câmbio, estabeleceu metas de inflação, aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal, provou que a mudança de governo não significa mudanças radicais nas bases da economia, respeitou a autonomia do Banco Central. Mas há uma lista enorme de tarefas não feitas. O interessante é que as mudanças aconteceram de forma coerente e em governos diferentes, de partidos adversários.

As metas de inflação são uma política bem-sucedida que passou pelo teste da mudança de governo. Agora, de novo, elas estão enfrentando o teste dos que pensam que existe uma idéia melhor, a de estabelecer uma meta de crescimento.

O Banco Central cuida da moeda. Usa a política monetária contra a inflação, mas não garante crescimento. Se garantisse, o país estaria embalando um bom crescimento a essa altura porque, nos últimos meses, a taxa de juros caiu seis pontos percentuais. E vai continuar caindo. A maioria dos analistas do mercado financeiro, inclusive, aposta em nova queda de 0,5 ponto percentual na última reunião do Copom do ano. Claro que juros muito altos impedem crescimento, mas a estrutura do crédito no Brasil faz com que decisões do Banco Central não tenham a mesma repercussão no ritmo da produção do que em outros países.

Se o governo decidir dar ao BC duas metas - a de inflação e a de crescimento - ele acabará falhando em uma delas. Para crescer mais e de forma sustentada, como o Brasil inteiro sabe, é preciso garantir que a inflação esteja sob controle. Mas não basta isso. O governo tem de investir e criar condições de que o setor privado invista.

É uma boa idéia, a do presidente Lula, de aproveitar o embalo da eleição que lhe renovou o mandato e o ânimo para pedir a todos os ministros que façam uma lista do que cada setor pode fazer para alavancar um crescimento maior. Não há uma maravilha curativa, mas haverá certamente várias pequenas ações - e algumas grandes reformas - que podem destravar o caminho do crescimento.

Pode parecer mantra de jornalista de economia, mas o governo tem de cortar gastos de custeio para que tenha espaço para investir mais. Nos últimos anos, o governo cortou no investimento para aumentar o consumo. Os gastos do governo estão crescendo acima do crescimento da receita e do aumento do PIB.

Não há uma medida única que garanta o crescimento brasileiro. Se fosse simples, já teria sido feito, afinal, há 20 anos, o Brasil cresce menos que o mundo; nos últimos 10 anos, cresceu a metade que o mundo cresceu. A hora é de arquivar as idéias simplistas - como a de ter uma meta de crescimento - e retomar o esforço de fazer o dever de casa.

As novas universidades públicas


O diretor de Desenvolvimento da Educação Superior, Manuel Palácios, mandou um e-mail dizendo que as novas universidades no governo Lula já saíram do papel. "Todos os novos campi universitários têm projeto acadêmico, professores concursados, edificações em construção ou em processo de licitação pelas universidades responsáveis por sua implantação. Há alunos em sala de aula na quase totalidade das novas unidades acadêmicas, com poucas exceções."

Entre as novas universidades, Palácios destaca a Universidade Federal do ABC, contra a qual, na opinião dele, há "preconceito". Diz que ela tem um projeto inovador na área de tecnologia, 100 professores aprovados em concurso público, laboratórios desenhados para atender à demanda da indústria, numa área de intensa atividade industrial, e que os 1.500 alunos aprovados já estão em sala de aula. Eles terão três anos de formação básica inicial, que dão direito ao bacharelato em ciências e tecnologia.

Tomara que dê certo, e que o dinheiro, que tem sido insuficiente para as universidades existentes, seja o bastante para cobrir os custos de todas as novas unidades criadas.

O MINISTRO Sérgio Rezende está numa alegria só. Abriu uma proposta de fornecer subvenção do governo para projetos de inovação, e choveram propostas: ao todo, 1.075 projetos que superam, em muito, a oferta de recursos. O que o deixou mais satisfeito foi que 69% das propostas vieram de pequenas empresas com até R$2,4 milhões de faturamento anual.

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