Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 08, 2006

Merval Pereira - Atrás do crescimento

É bom mesmo que o segundo governo Lula coloque como prioridade o crescimento da economia, que nestes quatro primeiros anos cresceu em média 2,7% ao ano, mantendo o baixo índice da última década, que foi de 2,9%. No momento em que o governo federal retoma a discussão sobre o crescimento, que foi um tema do início do primeiro governo, os analistas internacionais já discutem se chegou a hora de tirar o Brasil da lista dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e renomear o grupo para Rics. O estudo da Goldman Sachs de 2004 identificava esses quatro países como as futuras potências emergentes do mundo, indicando que, se o Brasil mantivesse um crescimento médio de 3,5% do PIB, nos próximos 30 anos seria a quinta maior economia do mundo.

Se isso ocorrer, o Brasil vai ultrapassar a Itália em 2025; a França em 2031; e Inglaterra e Alemanha em 2036. Mas, entre 2001 e 2005, o crescimento da economia brasileira foi em média 2,2%, correspondendo a apenas um quarto do crescimento médio dos Rics, que foi de 8,9%.

As condições para que as previsões se realizem pressupõem estabilidade econômica, e isso o Brasil não teve nas últimas décadas, mas começa a ter com a manutenção das linhas principais do mesmo modelo econômico desde o Plano Real.

Por isso, seria importante que o governo, mais uma vez, se entendesse sobre as normas gerais que devem ser seguidas pelo programa econômico do governo. A idéia de que um segundo mandato significará um "cavalo-de-pau" na economia não ajuda a manter a impressão de estabilidade conquistada nos últimos anos.

Para confirmar que as previsões que fizeram estavam acuradas, os analistas da Goldman Sachs pegaram os mesmos parâmetros e fizeram projeções para os quatro países de 1960 a 2000. O Brasil foi o único dos quatro cujos resultados na vida real não bateram com as projeções. A média de crescimento nesse período, por exemplo, deveria ter ficado em 6% pelas projeções, e na realidade foi de 4,5%.

Ao contrário do que o presidente Lula dizia na campanha eleitoral, dificilmente o Brasil já está preparado para um crescimento de 5% ao ano, embora esse seja um objetivo alcançável em médio e longo prazos, se forem tomadas as medidas necessárias ao aumento do investimento e feitas as reformas estruturais, como na Previdência.

A discussão sobre qual o limite do potencial de crescimento do país vem de longa data, e o ainda deputado e talvez futuro ministro Delfim Netto anda defendendo a tese de que é uma bobagem achar que nosso limite esteja entre 3% e 4%, como parece ser a visão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Um crescimento acima desses níveis forçaria os limites da capacidade instalada da economia, provocando inflação, na visão desse grupo. Meirelles já se pronunciou corajosamente sobre nossas potencialidades, afirmando sem receios: "O Brasil não é um tigre asiático".

Também o empresário Jorge Gerdau, outro ministeriável no segundo governo Lula, afirmou em discurso para empresários, diante do presidente Lula, que o crescimento desejável para o país deveria ser do nível de 7% ao ano, obrigando o presidente a descer do palanque da reeleição e admitir que o crescimento sustentado a esse nível só será alcançado em gerações.

Quando tomou posse como ministro da Fazenda, não foi por acaso que Guido Mantega prometeu levar a economia "até o limite do seu potencial de crescimento". A taxa média de crescimento brasileiro dos últimos 55 anos é de 5,2%, mas Henrique Meirelles lembra que a história recente só traz más notícias: de 1990 a 2003, o crescimento médio foi de 1,8%; de 1980 a 2003, 2%.

Mas já teve crescimentos sustentados de níveis asiáticos: de 1950 a 1959, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de 6,12%; e de 1970 a 1979, de 8,78%. O maior crescimento foi de 13,97% em 1973, no auge do "milagre econômico", quando estava no comando da economia justamente Delfim Netto, que hoje parece ser o guru do crescimento do governo Lula. Mas, nessa época, a taxa de investimento era de cerca de 30% do PIB, sendo que cerca de 10% por conta do governo. Hoje, o grau de investimento público está em torno de no máximo 2% do PIB.

Ao analisar o crescimento de nossa renda per capita, o empresário Paulo Cunha mostra num estudo que, até 1980, o Brasil cresceu mais que a média mundial: de 1900 a 1980, a renda per capita brasileira cresceu em média 3,04%, enquanto a renda mundial cresceu 1,92%. O período de maior crescimento foi o de 1950 a 1980, quando o país cresceu em média 4,39% sua renda per capita, para um crescimento médio mundial de 2,83%. Nesse período, o Brasil figurou entre os dez países mais dinâmicos do mundo.

A partir daí, tivemos uma redução de 90% do ritmo de crescimento per capita - de 4,39% para 0,43% de 1980 a 2004. Os cinco países que respondem por 25% do aumento das exportações mundiais - China, Coréia do Sul, Taiwan, Irlanda e México - crescem a renda per capita entre 6,5 e 8,7 vezes o crescimento mundial.

A exceção é o México, que, apesar de ter ampliado suas exportações, com a entrada no Nafta, e de ter alcançado o grau de investimento das agências de classificação de riscos, por ter reduzido a dívida externa, controlado a inflação a cerca de 3% ao ano e ter uma taxa de juros real de 4% ao ano, não consegue crescer, com uma média similar à do Brasil: cerca de 2,5% nos últimos quatro anos. As reformas estruturais, que tanto lá como cá continuam empacadas, são fundamentais para permitir um crescimento sustentado.

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