Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 10, 2006

Míriam Leitão - Aécio: novo PSDB


Panorama Econômico
O Globo
10/11/2006

O governador Aécio Neves diz que houve equívocos na construção do PSDB e que o partido precisa se nacionalizar. "Não faz sentido que tenhamos tão pouca representatividade no Nordeste." Ele nega que pense em deixar o partido e diz que não está entre os que pensam em criar outra legenda. "O PSDB é minha trincheira." Aécio diz que é a favor de que continuem as investigações sobre corrupção no governo Lula.

Em entrevista que me concedeu ontem na Globonews, o governador reeleito de Minas Gerais, com 77% dos votos, analisou os erros de campanha, os equívocos do seu partido, criticou o governo Lula, e avisou que vai trabalhar pela nacionalização da sua legenda e pela produção de idéias e alternativas para o país.

Ele acha que o presidente Lula tem que ter consciência de que as reformas que pretende fazer devem ser feitas o mais rapidamente possível:

- A expectativa de poder consegue agregar mais do que o poder presente. O presidente Lula sabe que perde a cada dia que passa um pouco das condições políticas de fazer as reformas fundamentais de que o país precisa. Eu tenho uma posição muito clara a favor da reforma tributária e da reforma política. Apóio essas mudanças não apenas quando sou governo. Quem perde a eleição tem um papel: o de oposição, mas não podemos estar desconectados da realidade.

Perguntei ao governador se a frase sobre "a expectativa de poder" era alguma referência ao fato de que ele poderia ser candidato em 2010.

- O calendário dos jornalistas é diferente e nele 2010 vem logo depois de 2006, mas eu tenho responsabilidade com Minas Gerais, que tem sido um laboratório de políticas públicas. O setor público não precisa ser ineficiente. Com métodos, gerência, acordos de resultados, ele pode apresentar resultados expressivos. O desafio agora é consolidar o projeto gerencial moderno, ousado. Como dizia o doutor Tancredo, "uma candidatura presidencial tem que ter grande dose de naturalidade".

Aécio fez críticas ao caráter excessivamente paulista do PSDB, mas disse que os que apostarem em uma disputa entre ele e José Serra perderão.

- O PSDB precisa se nacionalizar, mas tendo uma forte base em São Paulo. O partido deve muito da sua história a pessoas como Montoro, Covas, Fernando Henrique, mas essa hegemonia de um estado não é boa para o partido. Temos que ampliar o partido para que não seja excludente. Não estou na corrente que fala em novo partido, mas, sim, num novo PSDB. Há lições aqui em Minas, onde, na eleição, houve resultado eleitoral isonômico em todas as classes sociais, em todas as faixas de renda, em todas as regiões.

O governador acredita que o grande desafio dos tucanos agora é elaborar, em seminários e estudos, novas propostas de políticas públicas. Diz que pretende viajar pelo país para incentivar o desenvolvimento dessas idéias. As mais importantes seriam "políticas indutoras de crescimento". Admite que um dos erros foi a timidez na defesa de idéias e propostas implementadas, como a privatização.

- Falamos timidamente das vantagens da privatização da telefonia, não falamos que o setor siderúrgico, a cada cinco anos, precisava do socorro do Tesouro para salvar as empresas da quebradeira.

Aécio disse que em 2002 os governadores posaram ao lado do presidente Lula como se houvesse acordo sobre mudanças para toda a Federação, e o governo acabou fazendo apenas a prorrogação da DRU e da CPMF. Desta vez, os governadores devem negociar um conjunto de idéias que possa ser levado ao Congresso, como de interesse dos estados. Uma reforma já madura é a de unificação da legislação do ICMS; outra idéia é a da transferência definitiva para os estados da responsabilidade pelas estradas federais junto com os recursos da Cide. O mais imediato seria a solução definitiva da Lei Kandir. Por ela, a União dá aos estados um ressarcimento pela desoneração das exportações. Mas o governador diz que, no começo, a lei cobria metade das perdas; agora cobre menos de 20%, e, por isso, todo o custo do aumento das exportações ficou nas costas dos estados.

- Há uma cesta de propostas que deveríamos apresentar para estancarmos essa concentração absurda, a mais perversa da nossa história, de recursos nas mãos da União. Temos que ser um país realmente federal. A maior raiz dos grandes problemas brasileiros está nesta concentração acoplada ao ineficiente, gigantesco e até criminoso aumento da máquina pública construída para atender a aliados e sujeita a todo tipo de desvios e de corrupção.

Ele diz que as denúncias de corrupção no governo Lula devem continuar sendo investigadas, e que isso não impede a atuação da oposição, junto com o governo, em outros assuntos. Aécio define como "assustadoras" as declarações de pessoas do governo no sentido de que "o debate da ética está exaurido".

- As gerações futuras não podem ter essa equivocada sinalização, é um risco para a democracia brasileira.

Acha, no entanto, que a investigação não pode impedir uma discussão conjunta em favor das reformas necessárias para o país voltar a crescer.

Arquivo do blog