O Congresso em ação a partir de fevereiro tem sinais misturados: levantamento do site Congresso em Foco mostra que, ao mesmo tempo em que 64% dos que concorreram à reeleição na Câmara tiveram sucesso, o que indica renovação inesperadamente pequena, 59 envolvidos em escândalos não se reelegeram, enquanto outros 55 obtiveram êxito. Mas, entre os 151 deputados que não se reelegeram, a grande maioria não estava envolvida em qualquer delito. E alguns que se destacaram pelo trabalho no combate à corrupção, como o presidente da CPI dos Sanguessugas, Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), e o deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), relator do processo de cassação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), não foram reeleitos.
A tendência a acatar as condições do Planalto nas negociações políticas, a pretexto da governabilidade, é uma marca da próxima legislatura, e o deputado Miro Teixeira, um dos potenciais líderes do futuro Congresso, acha que não há razão para tanta amabilidade política.
Baseia-se na vitória democrata nas eleições dos EUA, que não provocou em nenhum grupo político o receio de que não haverá governabilidade nos últimos anos do governo Bush. “O que é necessário é discutir programas e projetos de interesse do país, e a governabilidade estará dada, sem que seja necessário dividir cargos no governo”, ressalta.
O PT, apesar de todos os escândalos, foi o partido com maior número de votos para deputado federal este ano.
Apesar disso, foi a legenda que perdeu o maior número de votos em comparação com as eleições de 2002 — nada menos que 2.104.221 de votos.
O número de votos válidos para a Câmara cresceu 5,7 milhões de uma eleição para outra, e o PT manteve o título de mais votado na Câmara, com a preferência de 13.989.017 de eleitores, 15,01% do total de votos válidos, aumentando em dois os lugares que ocupa.
Em 2002, a legenda teve 18,39% do total de votos válidos e elegeu 91 deputados.
Embora o PT ainda tenha se mantido como a sigla com o maior número absoluto de votos na legenda, o partido perdeu, em comparação com a eleição anterior, o apoio de 144.572 eleitores para a Câmara dos Deputados. Se em 2002 José Dirceu foi o segundo deputado mais bem votado do país, com 573 mil votos, e o mais votado do PT, o campeão de votos este ano foi o baiano Walter Pinheiro, da esquerda do partido, com 200.894 votos.
Mesmo assim, menos da metade dos votos de Dirceu.
Terceiro entre os campeões de voto quatro anos atrás, com 303 mil votos, o deputado José Eduardo Cardozo foi apenas o 35odos 70 deputados eleitos por São Paulo. Apesar de uma destacada atuação na CPI dos Correios, obteve agora menos da metade de sua votação em 2002, renovando o mandato com 124.409 votos.
O mais bem votado entre os petistas paulistas foi o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, com 177.056 votos, o 15 amais votado pelos paulistas.
Os votos da esquerda ficaram mais divididos nestas eleições.
Embora sua votação de 1.149.619 dos votos válidos tenha ficado aquém das expectativas, o estreante PSOL conquistou três vagas na Câmara para três ex-petistas: Chico Alencar (RJ), Luciana Genro (RS) e Ivan Valente (SP).
O PFL teve a segunda maior queda em sua votação na Câmara.
Os 11.706.253 (13,45%) de votos em 2002 minguaram para 10.182.308 (10,9%) este ano, diferença de 1.523.945 votos.
A redução foi mais danosa para pefelistas que para petistas.
Enquanto o PT perdeu oito cadeiras, em relação às eleições de 2002, o PFL perdeu 19, reduzindo de 84 para 65 o número de seus representantes.
O partido, porém, saiu-se vitorioso no Senado, com a eleição de seis senadores, o que pode lhe garantir a condição de presidir a Casa, tendo 18 ou 17 integrantes, dependendo das negociações e do critério adotado, pois a senadora Roseana Sarney deixou a sigla e deve ir para o PMDB, que foi, entre as grandes siglas, a que se deu melhor nesta eleição. Com 13.580.517 de votos (14,57% dos válidos), os peemedebistas elegeram 89 deputados, 14 a mais do que nas eleições de 2002. Além disso, o partido recebeu 1.888.991 de votos a mais para deputado que quatro anos atrás, garantindo a formação da maior bancada da nova Câmara.
Apesar de terem recebido, em valores absolutos, mais votos do que em 2002, os tucanos também viram sua participação no bolo geral diminuir, de 14,24% para 13,61% dos votos válidos. Os 12.691.043 de votos recebidos este ano — 217.300 a mais do que há quatro anos — foram suficientes para eleger 65 deputados federais, cinco a menos do que nas eleições passadas. Os tucanos, no entanto, apresentaram evolução num quesito até então dominada pelo PT, a dos votos em legenda. O PSDB teve o maior aumento no número de votos de legenda, com 597.929 a mais do que em 2002.
A condenação do sociólogo Emir Sader por ter injuriado o senador Jorge Bornhausen, chamando-o de “racista” e “assassino de trabalhadores”, entre outras acusações, continua gerando discussões. Como contraponto, correm na internet dois exemplos de situações semelhantes em que não houve a mobilização da classe intelectual. O geógrafo e intelectual de esquerda Demétrio Magnoli está sendo processado pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que se considerou injuriado por Magnoli, que, criticando a política de cotas nas universidades, o chamou de ministro da Cota Racial. E o também sociólogo Francisco Oliveira, fundador do PT, é processado por Delúbio Soares por críticas que fez quando da revelação do mensalão, e ninguém saiu em sua defesa.
Parece que no caso de Sader há uma questão que está mobilizando as pessoas, como bem escreveu o Verissimo: o juiz da 11aVara Criminal de São Paulo, Rodrigo César Muller Valente, além de condenar Sader à pena de um ano de reclusão, transformada em trabalhos comunitários, cassou-lhe o direito de ser professor da Uerj, por entender que ele se utilizou do cargo para injuriar Bornhausen.
Essa cassação é que está revoltando os intelectuais, e parece mesmo um castigo excessivo.
Essa parte da condenação certamente merece ser revista em recurso.
Entrevista:O Estado inteligente
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