A idéia de que o presidente Lula está tentando aglutinar em torno de seu segundo governo um amplo grupo de apoios políticos que pode ser comparável ao “centrão”, que atuou durante a Constituinte de 1988 para tentar conter a ação da esquerda na formulação da nova Constituição, mostra bem que as forças políticas conservadoras terão maior influência no Congresso que foi eleito a 1ode outubro.
O conservadorismo pode ser medido na ação conjunta de partidos como PSOL e PCdoB e legendas de direita que, unidos, tentam acabar com as cláusulas de barreira para deixar tudo como está.
Mesmo o PFL tendo encolhido sua bancada na Câmara, e tendo tido derrotas políticas importantes como a do grupo de Antonio Carlos Magalhães na Bahia e a dos Sarney no Maranhão, ainda disputa a presidência do Senado e, com 18 nomes, é o segundo partido com o maior número de parlamentares influentes nas decisões do Congresso na próxima legislatura, de acordo com um levantamento preliminar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) feito para O Congresso em Foco, um site especializado na cobertura do Congresso.
A influência dos pefelistas será sentida principalmente no Senado, onde disputam a indicação do próximo presidente da Casa contra a hegemonia do PMDB, que pretende reeleger o senador Renan Calheiros com a ajuda co Planalto e a adesão da senadora Roseana Sarney, fazendo com que o PMDB se torne a maior bancada do Senado.
O PFL tenta um acordo com o PSDB para fazer vigorar a tese de que a bancada eleita é a que conta. Além disso, sete senadores do partido integram a lista dos potenciais mais influentes.
Dois recém-eleitos, os deputados Cássio Taniguchi (PR), ex-prefeito de Curitiba, e Paulo Bornhausen (SC), filho do senador Bornhausen que abandonará a vida pública ao final do mandato, também estão nela.
Na definição do deputado federal Chico Alencar, um dos três deputados federais eleitos pelo novo PSOL, venceu “um centrão abúlico e prevaleceu o voto de mercado, contra o voto de opinião”.
O voto de opinião teria sido sacrificado nessa eleição tanto na esquerda quanto na direita parlamentar, onde o exemplo mais claro é o do deputado Delfim Netto, que não conseguiu se reeleger pelo PMDB.
Embora a bancada do PT tenha se mantido como a segunda maior da Câmara, será mais conservadora e adaptada às decisões do Palácio do Planalto.
Mas, também cresceram os votos para os pequenos e médios partidos de esquerda.
Um exemplo desse crescimento é o Partido Verde, que embora não tenha ultrapassado as cláusulas de barreira, passou de quatro deputados, em 2002, para 13, ganhando nove vagas na Câmara.
A votação do partido teve acrescentados 2.189.187 eleitores. Também tiveram boa votação o PSB, o PDT, o PPS e o PCdoB. Chico Alencar aponta o fato de que nos dez mais votados em todos os estados, aparecem pouquíssimos candidatos “ideológicos”, “doutrinários”, para reafirmar sua convicção de que a nova Câmara sera mais conservadora.
Ele cita uma expressão usada por Marx — “Poder dissolvente do dinheiro” — para dizer que ela está mais que atual. “Esse poder dissolveu, nas eleições, não apenas a votação dos candidatos de opinião em geral, mas os autênticos do PT em particular”.
Ele classifica de “impressionante o baque eleitoral da chamada esquerda petista, que já andava combalida desde a nossa saída”.
Cita o deputado José Eduardo Cardozo, ficou em 8ono PT, com 1/3 da votação que conquistara em 2002; em Minas, Paulo Delgado e Biscaia no Rio. Na análise de Alencar, venceu o “neo-PT da máquina eleitoral, nutrida por prefeituras como Niterói e Nova Iguaçu, e para candidatos da máquina federal”.
Também o PSOL, em sua primeira campanha eleitoral, não conseguiu eleger deputados como como João Alfredo (CE), Maninha (DF), Orlando Fantazzini (SP) e Babá, que apostou na troca do Pará pelo Rio.
No entanto, na projeção do Diap, 24 petistas estão entre os 100 parlamentares com maior potencial de influência no novo Congresso. Fazem parte da lista 28 congressistas recém-eleitos, alguns debutando e outros retornando à Casa, além dos 72 que estão no exercício do mandato. Dois exemplos típicos são a volta de Paulo Maluf (PP-SP) com um caminhão de votos, e o expresidente da Câmara Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), cassado em 1994 e que comprovou recentemente sua inocência no caso dos “anões do Orçamento”.
O deputado Arlindo Chinaglia, líder do PT na Câmara, é um nome forte para presidila caso haja um acordo com o PMDB para abrir mão de uma das presidências.
O ex-ministro Antonio Palocci (PT-SP) e Sérgio Carneiro (PT-BA), filho do senador eleito pela Bahia Durval Carneiro (PDT) e irmão do prefeito de Salvador, João Henrique, são dois novos líderes petistas. Dono da maior bancada no Congresso, o PMDB tem 15 nomes na lista dos potencialmente mais influentes.
A relação dos peemedebistas vai desde Michel Temer (SP), que luta para se manter na presidência do partido e uni-lo na adesão ao governo Lula, e Jader Barbalho (PA), que pode vir a ser o substituto de Temer na Presidência do partido ou ainda o candidate do PMDB à Presidência da Câmara, se não houver acordo com o PT. Exgovernadores eleitos, como Jarbas Vasconcelos (PE) e Joaquim Roriz (DF), são futuros líderes certos.
O PSDB, jogando com a possibilidade de eleger o próximo presidente da República, terá novos líderes como o ex-ministro Paulo Renato Souza (SP), na Câmara, e o ex-governador Marconi Perillo (GO), o mais novo campeão de votos no Senado.
O PSB, deve ganhar mais duas lideranças de peso: o ex-ministro Ciro Gomes (CE) e Ana Arraes (PE), filha do ex-governador Miguel Arraes e mãe de Eduardo Campos, eleito governador de Pernambuco.
Entrevista:O Estado inteligente
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