Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 11, 2006

Miriam Leitão Boom virtual

Neste ano em que o crescimento do país foi murchando ao longo dos meses, há um setor que cresceu, até setembro, 53,73%. O item máquinas para escritório e equipamentos de informática — ou seja, os computadores — é responsável, sozinho, por quase 25% do crescimento da indústria registrado pelo IBGE em 2006. A explicação está principalmente no barateamento do produto, que hoje pode chegar a menos de R$ 1.000.

Só no terceiro trimestre deste ano, segundo a Abinee, associação que responde pelo setor, foram vendidos 2,157 milhões de computadores. No ano, deverão chegar a 8,3 milhões.

Há vários motivos para este aumento das vendas, que vem sendo considerado excelente pela indústria de computadores. O principal: o preço caiu muito, sobretudo com a MP que desonerou o produto; a chamada MP do Bem. No caso de um computador que custe abaixo de R$ 2.500 e de um notebook que saia por menos que R$ 3.000, não se tem que pagar o PIS/Cofins. Nestes produtos, isso significa 9,25% do seu preço final. Assim, a redução nominal é de quase 10%, mas, como no Brasil os impostos são em cascata, o desconto real acaba sendo maior. O câmbio, que tem prejudicado alguns setores, ajudou; com o dólar baixo, o preço dos componentes importados caiu. E, por fim, mas não menos importante, os fabricantes estão vendendo computadores com sistema operacional livre, como o Linux, o que barateia mais o produto.

Há também fatores que não se relacionam com o preço em si — mas com o pagamento. Juros mais baixos fizeram com que as prestações ficassem mais suaves. Os computadores abaixo de R$ 1.400 contam ainda com uma linha de crédito do BNDES, que faz com que o lojista repasse para o consumidor um crédito mais baixo.

Com essas facilidades para a compra, as classes de renda mais baixas têm ajudado na expansão pela qual o setor vem passando. Este ano, o total de computadores instalados no país deve sair de 18,3 milhões para 21,7 milhões: 3,4 milhões de computadores não serão para reposição, ou seja, serão em domicílios ou empresas em que não havia a máquina ou naqueles querem adquirir máquinas adicionais. O crescimento das vendas tem sido principalmente doméstico, o que é considerado um ponto positivo, pois pode representar um passo no caminho da tão falada democratização da informática.

O momento é tão bom que, quando perguntado sobre onde ainda há problemas, o diretor de informática da Abinee, Hugo Valério, tem dificuldade em dizer.

— Acho que a desoneração é sempre um ponto importante, porque, quando se desonera o produto, rapidamente se percebe o efeito. Por mais que se perca num primeiro momento, depois os impostos são compensados pela venda de mais produtos — comenta ele.

Hugo Valério aponta um outro fator que, acredita, tem ajudado: a atuação da Polícia Federal e da Receita. Ele acha que, com o combate à importação irregular, o consumidor tem ido para o mercado formal. Um dado: até 2004, 73% dos computadores tinham pelo menos uma peça vinda do mercado informal. Hoje, este número caiu para 45%.

— Com a máquina mais barata, o preço do produto formal ficou muito parecido com o informal — diz ele.

A internet, embora não seja o que garante o crescimento, é um importante incentivo. Na verdade, uma coisa puxa a outra. Com o computador, as pessoas querem ter acesso à internet; com a possibilidade da internet, as pessoas querem ter computador em casa.

— A classe C, famílias que ganham até mil reais, está procurando a internet para ajudar a executar um trabalho informal e também como um apoio na educação dos filhos — acredita o diretor de produto da Net, Marcio Carvalho.

O Vírtua, acesso de banda larga da Net, deve dobrar este ano o número de clientes, chegando aos 800 mil. Normalmente, antes de chegar à banda larga, o novo usuário da internet passa pela conexão discada.

O Grupo Telemar lançou este ano, em fevereiro, um pacote combinado de acesso discado à internet. De lá para cá, já são 400 mil usuários. O Velox, de banda larga, cresce 30% no ano e já tem 1,04 milhão de assinantes.

— A quantidade de computadores vai continuar crescendo. Hoje, do total de PCs, 59% já estão na classe C, D e E, assim a conexão discada, que é mais barata, deve crescer bastante no ano que vem — diz Flávia Bittencourt, diretora de marketing de varejo do Grupo Telemar.

Atualmente, 92% dos computadores das classes A e B têm acesso à internet. Nas classes C, D e E, o número cai para 65%.

O crescimento deste mercado é apenas o começo. Há, na verdade, um consumo reprimido no Brasil tanto em computadores, quanto em acesso à internet. Com juros baixos, rebaixa tarifária e incentivo ao consumidor de baixa renda, o setor pode sustentar esse crescimento.

Arquivo do blog