O Estado de S. Paulo |
10/11/2006 |
O presidente Luiz Inácio da Silva não quer fazer de seu governo uma "salada de frutas", disse isso a propósito de negar a intenção de formar o ministério sob o critério da mera partilha de cargos, misturando partidos e políticos aleatoriamente. Mas o andar da carruagem nesses primeiros movimentos para a organização do governo no segundo mandato indica que, se o presidente não impuser um freio de arrumação às demandas da "base", corre o risco de ver sua equipe ministerial transformada em algo assemelhado a uma sopa de entulho. A sede e a fome de seus aliados por cargos vêm produzindo cenas da mais absoluta ausência de compostura. Quatro partidos, o PMDB, o PP, o PSB e o PTB, já se manifestaram com gestos que transitaram da falta de modos ao total desrespeito ao País em geral e à figura presidencial em particular. O PMDB agride os fatos quando oficialmente simula indiferença por cargos, dizendo-se disposto a firmar com o governo um "acordo programático de compromisso com a governabilidade e o crescimento econômico", a fim de não parecer interessado numa "adesão fisiológica", enquanto no paralelo contabiliza os ministérios de sua preferência. O PP, por intermédio de seu líder, Mário Negromonte, faz saber que do alto de seus 42 deputados federais quer triplicar sua representação na Esplanada e aumentar de um para três os ministérios reservados ao partido. Até aí, mero desejo sem conseqüências. Mas o deputado faz ameaças: "É óbvio que ele", diz, referindo-se ao presidente da República, "não vai querer a base insatisfeita". Mesmo? Faltou explicar o que fará, então, a base com sua insatisfação se a decisão de Lula quanto à própria equipe vier a decepcioná-la. O PTB não pede, apresenta-se humildemente à "disposição da governabilidade", mas não se esquece de lembrar os grandes serviços (quais?) prestados pelo ministro Walfrido dos Mares Guia na pasta do Turismo, quando da oferta de fidelidade de "97% dos 23 deputados" federais eleitos pelo partido. O vice-líder do PSB, Beto Albuquerque, é mais incisivo ao pontuar as razões do "merecimento" de espaço maior: "Sempre fomos fiéis, elegemos 27 deputados e 3 governadores." E por aí vão se posicionando os aliados, uns mais tímidos, outros completamente à vontade - como o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que reivindica nada menos de 24 postos na administração federal - na cobrança da fatura pelo apoio à reeleição. Como se deles tivesse dependido a vitória de Lula. A nenhum deles ocorre e, diga-se, ao presidente tampouco, introduzir no cenário o essencial: a qualidade, utilidade e rumo do governo. Quais as tarefas que se dispõem a desempenhar, além da difusão da vaga idéia a respeito de um futuro próspero? Pelo visto até agora, nenhuma que não guarde relação com o atendimento de seus interesses individuais. Só mesmo um ambiente eivado de vícios e contaminado pelo menosprezo às necessidades objetivas da população admite uma discussão nesses termos: partidos que se consideram credenciados a assumir ministérios, referidos na fidelidade - vale dizer, submissão - ao governo, no tamanho das bancadas no Congresso e no número de governadores eleitos. Desde quando isso constrói alguma coisa para a coletividade? Desde nunca. E é por isso que, se continuar nesse ritmo, se não enquadrar esse pessoal, se não chamar seus aliados aos costumes, o presidente Lula voltará a se ver cercado por escândalos e governará na desconfortável situação de refém da fisiologia. No depoimento à CPI dos Sanguessugas, o ex-ministro da Saúde e deputado Saraiva Felipe deu uma aula a respeito disso. A certa altura disse que admitiu Maria da Penha Lino - elo confesso entre a máfia das ambulâncias e os parlamentares que vendiam emendas - por indicação do líder do PMDB na Câmara, Wilson Santiago, e que recebeu de seus pares "pedidos inviáveis às pencas, alguns até pouco republicanos". E ficou por isso mesmo. Nem demitiu Maria Penha até que a polícia descobrisse suas falcatruas nem disse palavra sobre "as pencas" de solicitações de natureza escusa até que a CPI lhe perguntasse. Pedidos aqueles que só foram feitos porque havia, e há, ambiente para tal. Na labuta Para todos os efeitos oficiais, o deputado Geddel Vieira Lima não postula abertamente a presidência da Câmara. Na prática, porém, trabalha intensamente. Tem feito contatos telefônicos Brasil afora, em busca de apoio inclusive de governadores e de ex-presidentes da Câmara aos quais ajudou e dos quais agora cobra a recíproca. Se não der, fica feliz com o Ministério das Cidades. Duas faces O presidente do Senado, Renan Calheiros, é outro que diz uma coisa em público e faz outra no particular. Nos microfones, defende que seu partido, o PMDB, pleiteie as presidências da Câmara e do Senado. No bastidor, trabalha pela permanência de Aldo Rebelo na Câmara para não pôr em risco sua reeleição no Senado. |
Entrevista:O Estado inteligente
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