O Estado de S. Paulo |
12/11/2006 |
A comparação entre as igrejas católica e evangélica pode não ser a mais adequada, mas reflete com clareza a intenção do PSDB de se aproximar do mundo real para corrigir seu rumo e se credenciar à volta ao poder, pretendida para 2010, com escala na eleição municipal de 2008. A primeira promete o paraíso após a morte e perde fiéis para a segunda, que prenuncia a conquista da bem-aventurança já, e ganha adeptos a mancheias. Guardadas todas as proporções, as devidas e as indevidas, é com base nesse critério de reaproximação com as demandas objetivas da sociedade que tucanos como Aécio Neves, Tasso Jereissati, José Serra e Fernando Henrique Cardoso acham que o PSDB deve conduzir uma completa remodelação, sem a qual, estão todos de acordo, perde de novo a eleição. Talvez não para o PT, para quem enxergam o mesmo desgaste sofrido por eles após oito anos de poder, mas para uma outra força política com capacidade de preencher o vácuo que, na opinião do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, surgirá por causa da "enorme expectativa criada por Lula e a sua impossibilidade de corresponder a elas". "A tarefa de quem perde uma eleição é continuar sendo o primeiro da fila como alternativa à próxima. Quem não trabalha para isso, termina substituído", diz Aécio Neves, que rejeita a idéia da formação de um novo partido, segundo ele de fato um tema de conversas entre tucanos insatisfeitos. No lugar de um novo partido, Aécio prefere o ressurgimento de um "novo PSDB", repaginado, com programa reformulado, discurso menos elaborado e mais referido nos anseios concretos da população, sem donos de feudos nem a primazia das "grandes figuras" que deram perfil ao partido. Os medalhões foram importantes, tiveram seu papel, mas hoje, na concepção de Aécio, só essas referências são insuficientes para levar o partido adiante. "É preciso descer do muro e do salto alto, traduzir de forma mais popular as idéias do PSDB e defendê-las de maneira afirmativa, como não fizemos nesta campanha com as privatizações e a estabilidade econômica, realizações nossas e em relação às quais ficamos como que envergonhados." Como, fazer, então, para "popularizar a agenda" e, como ele propõe, "tirar da cabeça das pessoas essa imagem de que o PSDB é um partido de elite"? Primeiro e óbvio passo, é deixando de ser elitizado mesmo, no sentido de partido de cúpula fechada. "Abrir o partido", na opinião de Aécio, não significa apenas dar espaço a representações de outros Estados, sem a concentração do comando em São Paulo. Quer dizer principalmente atrair novas lideranças, notadamente no Nordeste. Nem que seja preciso ir buscá-las em outros partidos. Mas, para que consiga atrair gente valorosa e disposta é preciso, antes, "fazer a lição de casa". Por exemplo, ir buscar em cada região os problemas que afligem a população local e transformá-los em bandeiras do partido, defendidas de forma simples, clara, consistente e assertiva. "Não dá para ficar só nas grandes teses, é preciso chegar perto das pessoas." Um caminho será a realização de seminários regionais ao longo de 2007, e convidar para a discussão não apenas políticos, mas gente das universidades, dos sindicatos, das associações de classe, das organizações não-governamentais, enfim, reativar a vida partidária como espaço de participação popular. "O grande problema dos partidos, à exceção antigamente do PT, é que eles não têm vivência fora das épocas eleitorais. Só têm como referência as disputas nas eleições e, nos períodos entre uma e outra, vivem exclusivamente da atividade parlamentar. A vida é muito mais rica e a política pode ser também." Essa falta de vivência, Aécio aponta, se refletiu no mau desempenho eleitoral. "Como é possível um partido que ocupou a Presidência da República durante oito anos, acabou com a inflação, patrocinou o acesso amplo à telefonia e à internet, ter 12%, 15% dos votos em alguns Estados? Alguma coisa está muito errada e precisa ser corrigida." Isso, na visão dele, é resultado da estagnação na renovação de lideranças. "Não proponho renegar as atuais, mas oxigenar o partido para possibilitar o surgimento de novas." A "ressaca eleitoral", para Aécio, não pode tomar conta do partido. "Senão, ele se esfacela." O revigoramento passa necessariamente pelo exercício contundente da oposição ao governo Lula. Mas não é ele mesmo um político ameno no trato com o governo federal? "Sou cordial, mas nem Lula nem o PT podem me subestimar, imaginando que sou cooptável ou que, por conta de um desejo de me candidatar à Presidência da República, vou brigar dentro do partido ou nutrir a esperança de ser o candidato apoiado pelo governo. Eu teria de ser o sujeito mais primário do mundo para pensar assim." Então, em resumo, no que deve consistir a "lição de casa" do PSDB? "Exercer a crítica para se firmar como alternativa ao PT, dar visibilidade às realizações dos Estados governados pelo partido e criar novas lideranças, apresentar à sociedade novos interlocutores." |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, novembro 13, 2006
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