O Estado de S. Paulo |
12/11/2006 |
Está cada vez mais quente o debate sobre o câmbio. Os exportadores estão inconformados porque a valorização do real diminui as receitas em reais. O diretor da área financeira da Companhia Vale do Rio Doce, Fábio Barbosa, por exemplo, queixa-se de que essa política achata os lucros da empresa. Faltou reconhecer que a Vale está exportando US$ 8 bilhões por ano e concorre, assim, para a derrubada do dólar. E os líderes da indústria de transformação atribuem o dólar barato demais à baixa competitividade do seu produto diante do importado. No outro lado estão o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e alguns analistas que não encontram mágica a que recorrer para reverter as cotações do dólar. As divergências começam no diagnóstico. A maioria dos exportadores e dirigentes da indústria afirma que "o dólar está fora do lugar" porque os juros no Brasil são os mais altos do mundo e, nessas condições, ficam todos especulando. Trazem recursos para cá ou os deixam aqui para tirar proveito do retorno financeiro muito mais alto. E essa maciça entrada de dólares contribui - dizem - para a queda das cotações. Sexta-feira, o ex-diretor da área internacional do Banco Central Emílio Garófalo apegou-se a essa tese. Ela não responde a duas perguntas: (1) como essa especulação acontece sem entrada líquida de capitais financeiros?; e (2) por que a queda dos juros em nada menos que 6 pontos porcentuais (desde setembro de 2005) não concorreu em nada para reverter a situação? Na outra ponta estão aqueles para os quais a valorização do real tem outra causa principal: o enorme superávit comercial. No ano passado foi de US$ 44,8 bilhões e neste ano será de alguma coisa em torno dos US$ 46 bilhões. Se há essa enormidade de dólares entrando no País pela porta do comércio exterior, é óbvio que o mergulho das cotações da moeda estrangeira tem tudo a ver com isso. Esta não é mera questão quantitativa. O enorme saldo comercial é conseqüência de importante mudança estrutural do comércio no mundo, da qual as exportações brasileiras estão tirando proveito. É a China e uma dezena de potências asiáticas que estão se lançando no mercado global. Precisam de matérias-primas e produtos intermediários, que o Brasil vai tratando de exportar para eles. A Carta do Ibre de novembro, que a Fundação Getúlio Vargas acaba de divulgar, chama a atenção para isso. O segundo segmento de divergências está no receituário destinado a reverter a situação. Garófalo, por exemplo, quer que o Banco Central derrube imediatamente os juros (que não são a causa do problema) e, além disso, compre moeda estrangeira com redobrada agressividade. Como as reservas correspondem a posições em títulos da dívida americana, na prática recomenda que o Brasil, país pobre, empreste mais dinheiro para os Estados Unidos. No mais, se o Banco Central definisse como objetivo a desvalorização do real para R$ 2,50 por dólar, como sugere Garófalo, o mercado financeiro em peso se atiraria à especulação com câmbio. Outros empresários gostariam de que o governo instituísse um Imposto sobre Exportações que formasse um fundo destinado a compensar as empresas prejudicadas pela valorização do real. Rússia, Chile e Argentina mantêm um imposto assim, sobre exportações de petróleo, cobre e carne bovina, respectivamente. Seria exigir que produtores brasileiros de minério de ferro (olhem a Vale do Rio Doce aí), açúcar, suco de laranja, soja, café, veículos, etc., morressem com parte dos seus lucros de exportação... E não é preciso acrescentar mais nada para entender que a instituição de um imposto desses seria mais uma bobagem sem tamanho, porque desestimularia as exportações. Outra idéia seria incentivar importações para que cresça a demanda de dólares e as cotações se recuperem. Pelas razões conhecidas, a indústria tem horror a esse tipo de solução, porque imagina a enxurrada de mercadorias chinesas que acabariam por avançar sobre o mercado interno do produtor nacional. No mais, o ministro Guido Mantega tem razão quando adverte que não há muito o que fazer especificamente para puxar as cotações do dólar, além de criar condições para o crescimento econômico, que tratará de empurrar as importações. Mas há o que fazer para garantir mais competitividade para o produto brasileiro: é parar com a gastança federal, equacionar o déficit da Previdência, derrubar a carga tributária, investir em infra-estrutura... |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, novembro 13, 2006
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