Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 11, 2006

As sete armadilhas que nos fazem engordar

7 armadilhas que
nos fazem engordar

O americano Brian Wansink, autor do livro Por
que Comemos Tanto?
, que acaba de ser lançado
no Brasil, concedeu entrevista exclusiva a VEJA.
Nela, indicou os erros mais comuns que levam
as pessoas a ganhar peso sem se dar conta


Camila Antunes


David Duprey/AP
Brian Wansink, professor da Universidade de Cornell: dezoito anos de estudo sobre as causas da obesidade

Wansink é professor de marketing da Universidade de Cornell, no estado de Nova York. Mantém há dezoito anos um laboratório de pesquisa em nutrição no qual promove jantares e encontros do tipo boca-livre para estudar os hábitos inconscientes que fazem uma pessoa comer mais e engordar. O professor Wansink adotou a política de não trabalhar diretamente para empresas alimentícias. Prefere compartilhar seu conhecimento com médicos, nutricionistas e psicólogos – alguns deles integrantes de seu grupo de pesquisa. Seu recém-lançado livro volta-se para o público leigo que se preocupa com a balança. "É possível perder 5 quilos em apenas um ano sem dieta", diz Wansink. Atente-se, pois, às sugestões a seguir – e aos erros comuns que nos fazem ganhar peso.

1ª ARMADILHA:
COMPRAR EMBALAGENS GRANDES

O experimento que provou que esse hábito engorda: Wansink convocou quarenta pais e professores para uma reunião de trabalho na qual assistiriam a um filme. Agradeceu a presença dos participantes distribuindo pacotes de confeitos de chocolate de 500 ou 250 gramas – bem maiores do que os vendidos em cantinas e padarias, que contêm 30 gramas. No fim da reunião, explicou seu verdadeiro intuito e pesou o que havia restado nos pacotes de chocolate. Os que receberam a embalagem grande comeram em média 137 confeitos. Os que abriram a embalagem pequena pararam no 71º confeito.

Sugestão do professor Wansink: preferir embalagens menores. "Especialmente no caso de guloseimas, é uma forma de dar um tempo para o cérebro calcular se queremos mesmo comer mais", diz. A sugestão vale também para demais alimentos a ser preparados em casa, como o macarrão. "Meus estudos sugerem que as pessoas comem 20% a mais ou 20% a menos sem se dar conta da variação. Por isso, precisamos de pacotes que nos sinalizem quanto devemos comer."

"Na minha casa não faltam balas e chocolates"

Montagem sobre fotos de Otavio Dias de Oliveira e Manoel Carvalho


A paulista Marta Andrade (foto ao lado), 34 anos, funcionária de uma administradora de crédito, freqüenta um supermercado atacadista onde os produtos são vendidos em embalagens maiores. "É mais cômodo porque me desloco menos vezes para fazer compras", afirma. O hábito de estocar comida faz com que sempre haja pacotes de doces disponíveis na despensa da casa de Marta. "Beliscar depois das refeições virou rotina", diz. Seus amigos se impressionam com a quantidade de guloseimas que ela come. "Felizmente não tenho tendência a engordar", afirma.



2ª ARMADILHA:
COMER MAIS, E RÁPIDO, PARA ACOMPANHAR O RITMO DAS
OUTRAS PESSOAS À MESA

O experimento que provou que esse hábito engorda: organizou-se uma série de almoços, em que os participantes comiam sozinhos, depois em grupos de quatro e de oito pessoas. Aqueles que comiam devagar quando estavam sós aceleravam o ritmo e comiam quase o dobro na companhia de colegas. Aqueles que já tinham o hábito de comer depressa continuavam mordiscando (pães do couvert) para acompanhar os outros.

Sugestão do professor Wansink: deve-se sentar perto de quem come devagar e tentar acompanhar o ritmo. "Outra tática é começar a comer depois de todos."

"Janto antes de encontrar meus amigos"

O empresário Daniel Damaa (foto ao lado), 26 anos, costumava sair toda semana com amigos – muitos deles com sobrepeso – para pizzarias e churrascarias. Durante os encontros não contabilizava quanto comia, apenas acompanhava o ritmo do grupo. Quando percebeu que havia engordado e entrou num regime, pensou em cancelar as reuniões com os amigos. Mas ele encontrou uma solução melhor: passou a se alimentar antes de sair. Assim, chega à mesa sem fome e toma apenas um drinque. "Troquei cerveja por vinho, que é menos calórico", diz Damaa, que perdeu 25 quilos.


3ª ARMADILHA:
ENGANAR-SE COM O TEXTO
ESCRITO NAS EMBALAGENS

O experimento que provou que esse hábito engorda: ofereceram-se chocolates a um grupo de pessoas acima do peso, que poderiam comê-los à vontade, mas teriam de optar pela versão normal ou pela light (com calorias e gorduras reduzidas). Os que optaram pela versão mais saudável comeram 90 calorias a mais.

Sugestão do professor Wansink: não superestime os dizeres da embalagem. Um alimento pode ser pobre em gorduras mas rico em calorias. "O antídoto para uma pessoa não se enganar é ler a tabela nutricional, reparando na quantidade de gordura e nas porções."

"Comia produtos light e engordava"

A opção mais fácil de emagrecer, pensava a mineira Bianca Crisley Horsth (foto ao lado), 27 anos, seria comer produtos light – especialmente chocolates e sorvetes. Ganhou 12 quilos e procurou a ajuda de um endocrinologista. "Percebi que muitas opções ligth ou diet têm pouca diferença calórica em relação aos seus similares convencionais", diz.


Fotos Alfredo Franco, Gladstone Campos, Mari Queiroz e álbum de família


Marcelo Zocchio


4ª ARMADILHA:
EM RESTAURANTES, SER SEDUZIDO PELO PRATO MAIS SUCULENTO DO CARDÁPIO

O experimento que provou que esse hábito engorda: durante seis semanas, pesquisadores da Universidade de Cornell mexeram discretamente no cardápio de um restaurante. Trocaram, por exemplo, o nome "frango à parmigiana" por "maravilhoso frango à parmigiana da mamma". Convidaram, então, as pessoas que escolheram tal prato a avaliá-lo. Sistematicamente, os clientes que escolhiam o prato pelo nome sem graça consideravam-no apenas razoável – ao passo que os que comiam a receita da mamãe ficavam satisfeitos. Além disso, o prato com descrição incrementada teve 27% mais pedidos.

Sugestão do professor Wansink: as descrições sugestivas podem até beneficiá-lo, por criar uma expectativa positiva – que acaba correspondida quando o prato é bem preparado. "Mas quem tem o hábito de comer fora precisa pedir de vez em quando o básico, sem muito molho nem gordura."

"Quando o prato é bom, peço também uma sobremesa"

A estudante paulista Andrea Perroni, 21 anos (foto ao lado), sai para comer fora pelo menos duas vezes por semana. Gosta de experimentar temperos e molhos diferentes, especialmente da cozinha mexicana. "Sou atraída pelas descrições dos menus", diz. Os nomes e os detalhes sobre o prato, segundo ela, fazem com que haja uma predisposição a gostar mais da comida, antes mesmo de prová-la. "Se a comida for realmente boa, acabo estendendo um pouco a refeição, pedindo mais uma bebida e provando também uma sobremesa", afirma.


5ª ARMADILHA:
COMER ENQUANTO SE
FAZ OUTRA ATIVIDADE

O experimento que provou que esse hábito engorda: estudantes foram convidados para assistir a um programa experimental na TV e ganharam uma tigela de pipoca e um prato de cenouras baby. Houve duas sessões: uma de sessenta e outra de trinta minutos. Nas duas ocasiões, os alunos não pararam de comer até o programa terminar. Mas os que ficaram na sala por uma hora comeram 28% mais que os outros – não o dobro, como se podia esperar

Sugestão do professor Wansink: a distração de qualquer tipo faz com que esqueçamos quanto comemos e prolonga a refeição, mesmo quando não estamos com fome. "O hábito mais saudável é sentar-se à mesa e ter horário fixo para as refeições."

"Precisei desligar a TV para emagrecer"

A exemplo de sete em cada dez brasileiros, a baiana Jutânia Muritiba da Silva (foto ao lado), 44 anos, gosta de comer em frente à TV. "À tarde, abria um pacote de biscoitos, ligava a TV e só parava de mastigar quando o programa que estava vendo chegava ao fim", diz. Como vinha ganhando muito peso, tentou várias dietas – mas só obteve sucesso quando cortou esse hábito. Hoje Jutânia faz três refeições e come uma fruta no lugar do lanche da tarde. Ao longo de nove meses, seguindo recomendações médicas, ela já perdeu 8 quilos.


Alfredo Franco


6ª ARMADILHA:
USAR PRATOS E COPOS PARA
MEDIR COM QUE QUANTIDADE
SE FICARÁ SACIADO

O experimento que provou que esse hábito engorda: dois grupos de voluntários serviram-se num bufê de sorvetes. Um deles recebeu taças pequenas e o outro, taças grandes. As pessoas que usaram as taças maiores colocaram quase 60% mais sorvete do que as que usaram as menores. A diferença representa 250 calorias.

Sugestão do professor Wansink: pratos e copos variam muito de medida, por isso não são bons parâmetros para saber com que quantidade se ficará satisfeito. "Recomendo a regra do meio prato: reserve metade do espaço para legumes e verduras. Para não perder a conta na bebida, sugiro usar copos altos e largos, evitando assim repeti-la."

"Aprendi a compor o meu prato"

Há dois meses, o arquiteto paulista Mário Brandão, 36 anos (foto ao lado), procurou a ajuda de um profissional para conseguir emagrecer. Depois de descrever seus hábitos alimentares, o médico detectou um dos motivos principais por que engordava: a falta de medida sobre quanto colocar no prato. "A única referência que eu tinha era o tamanho do prato. Ia enchendo-o com o que eu achava mais apetitoso", diz o arquiteto, que almoça diariamente em restaurante a quilo. Como parte do processo de reeducação alimentar, que o fez perder 12 quilos, Brandão aprendeu a medir suas porções e a servir salada no mesmo prato do arroz e feijão.


Marcelo Zocchio


7ª ARMADILHA:
MANTER GULOSEIMAS À VISTA NO
ESCRITÓRIO OU NA SALA DE CASA

O experimento que provou que esse hábito engorda: dois grupos de secretárias receberam potes cheios de bombons – a diferença é que para um grupo a bonbonnière era de vidro e para o outro, opaca. Ao fim de uma semana, as profissionais que podiam ver os bombons pelo vidro haviam comido cerca de 70% mais que as outras participantes do estudo. Nutricionistas da equipe de Wansink estimam que as secretárias poderiam engordar 10 quilos em um ano caso mantivessem o hábito de comer chocolates à tarde.

Sugestão do professor Wansink: mantenha a tentação distante pelo menos 2 metros ou dentro de uma gaveta. "Se o alimento não está visível, não desperta o desejo de comê-lo. E, se temos de levantar para buscá-lo, também perdemos a vontade."

"Tomava um café e não resistia aos biscoitos"


Fabiano Accorsi

O carioca Orestes Carvalho, analista de sistemas de 56 anos (foto acima), participava de uma "vaquinha" entre os funcionários para comprar biscoitos. "Colocamos uma bandeja ao lado da cafeteira, num corredor onde eu passo o tempo todo. Viciei-me em café com bolacha", diz. Carvalho percebeu que estava exagerando quando teve de mudar o buraco do cinto, que estava apertado. "Parei de contribuir para o rateio e estou me controlando para não engordar mais", afirma.



Montagem sobre fotos Getty Images/Royalty-Free

Com reportagem de Marcos Todeschini

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