Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 05, 2006

Alberto Tamer Europa cresce, EUA recuam


Enquanto a economia americana continua mostrando sinais de desaceleração, a União Européia confirmou, nessa semana, crescimento maior em razão de um aumento da demanda interna e inflação menor pelo recuo do preço do petróleo, que tem maior peso na zona do euro, pois é cotado em dólares.

A inflação caiu para 1,6% e o crescimento do PIB aponta para 2,5%, algo que não se via há quatro anos. O Banco Central Europeu (BCE) manteve na quinta-feira passada a taxa básica de juros em 3,25%, com o seu presidente, Jean-Claude Trichet, apressando-se a afirmar que não falará nada para prejudicar essa retomada européia. Vai manter a atitude de “forte vigilância”, uma afirmação interpretada pelos que observam de perto o BCE como sinal positivo diante da sua “extrema” vigilância no mês passado.

Poucos acreditam na mudança desse cenário nos dois últimos meses do ano, ou seja, a economia americana vai continuar recuando e a européia, avançando. Tanto o Banco Central Europeu quanto o dos Estados Unidos deverão manter as taxas juros, mesmo porque em ambos os casos as pressões inflacionárias estão contidas, com o forte recuo do petróleo para US$ 58.

A questão é saber se o crescimento europeu será suficiente para compensar a desaceleração americana. Mais ainda, esse novo desempenho da comunidade poderá ser mantido se os EUA continuarem a desacelerar? Um (a Europa) estará ajudando o outro (os EUA) ou ambos apenas se apóiam mutuamente no esforço para manter o crescimento atual?

EUROPA PODE IR SOZINHA?
“Apesar da desaceleração do crescimento americano, a economia européia continua indo adiante. Nós suspeitamos que robustas ordens vinda da Ásia, dos países exportadores de petróleo e dos emergentes estão contrabalançando as perdas nas operações transatlânticas”, afirma o economista do Bank of America, Holger Schmieding. Ou seja, para ele, a zona o euro poderá sustentar seu crescimento a despeito do desempenho americano.

O presidente do Banco Central Europeu é também dessa opinião. Ele lembrou que “a zona do euro exporta mais para a Grã-Bretanha do que para os Estados Unidos”. Assim, Jean-Claude Trichet prevê que um recuo de 1% do PIB dos Estados Unidos pesaria menos 0,2% na zona do euro.

Outros porém discordam. Entre eles, Ken Watter, economista-chefe para a zona do euro do BNP Paribas. “Acreditamos que a estimativa do BCE é pouco realista. Se o BCE aumentar os juros e os EUA continuarem a derrapar, haverá implicações significativas na zona do euro”, afirma ele.

Essa é também a opinião de muitos analistas europeus. Para eles, o surpreendente crescimento da zona do euro continua fortemente amarrado ao mercado americano. E o euro valorizado ante o dólar não ajuda muito. Pesam a favor da Europa uma expressiva recuperação da França e agora também da Alemanha, onde o nível de desemprego recuou de 11% da força de trabalho para 9%.

Fazendo um balanço das opiniões, constatamos que prepondera a tese de que, no médio prazo, o crescimento europeu, que é tão bem-vindo e tardou tanto, continua na dependência do crescimento e das importações americanas. Talvez ainda por mais dois meses a comunidade poderá expandir-se à taxa atual, mas isso não poderá ser mantido se a economia americana desacelerar mais. E o cenário, visto de Bruxelas, é de que, com perda do impulso do mercado imobiliário, os Estados Unidos não devem voltar a crescer mais de 3%.

ESTAMOS ACORDANDO?
O que ocorrer na Europa e nos Estados Unidos terá um peso especial para o Brasil, pois ambos representam cerca de 50% das exportações brasileiras e também ambos continuam mantendo uma política comercial protecionista. A Europa não se abre, aferrando-se a uma política agrícola comum que fecha as portas para qualquer liberalização do mercado mundial.

Quanto aos Estados Unidos, parece - por enquanto apenas parece - que o presidente Lula teria mudado de posição. Pensa em dar mais importância a eles dos que aos seus opositores. Pelo menos, o namoro com o generalíssimo Hugo Chávez parece ter sido posto em compasso de espera. A noiva venezuelana não gostou, mas o Brasil também não gostou do que ela andou aprontando nas sua viagens de forte agressão aos Estados Unidos.

Isso significaria uma vitória do ministro Luiz Fernando Furlan, no seu quase confronto com o Itamaraty e com forte ala do governo,incluindo a ministra Dilma Rousseff, que conseguiu nos afastar de um parceiro importante. A conseqüência foi esse soberano, mas improdutivo, isolamento do Brasil no cenário mundial. Furlan está tentando reatar os laços, indo aos EUA conversar com quem verdadeiramente pesa - e não é do Departamento de Estado, mas da área comercial.

Furlan só terá êxito, porém, se tudo o que disser e fizer não for desdito e desfeito, em seguida, pelo Itamaraty e outras áreas do governo que pontificaram nos últimos quatro anos. Aí é que iremos ver se, realmente, Lula mudou e vai livrar-se dos que o atrapalham.

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