Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 13, 2005

MIRIAM LEITÃO Fim do ciclo

Fim do ciclo

Por um ano, a taxa de juros subiu; no último mês ficou parada, e esta semana começará a cair. A alta dos combustíveis não muda a perspectiva de queda da taxa de juros. Mesmo com o aumento da gasolina, a pesquisa Focus mostrou ontem a 17 semana seguida de queda da previsão de inflação. Poderá a taxa de juros cair muito num quadro de incerteza política?
A curto prazo, não haverá contaminação entre uma coisa e outra. Os juros precisam cair por três motivos: primeiro, a política monetária já fez seu trabalho de reduzir a inflação e fazer as expectativas convergirem para a meta. A previsão da pesquisa feita com 100 instituições financeiras mostrava ontem uma expectativa de IPCA de 5,2% (a meta é de 5,1%). O segundo motivo é o nível de atividade: ainda que o PIB do segundo trimestre tenha mostrado bons números, os dados da produção industrial de julho, apresentados na semana passada, indicaram que o ritmo da economia está se desacelerando fortemente. Agosto será melhor, mas o sinal amarelo acendeu. A terceira razão é que a taxa de juros está subindo em termos reais porque a queda da inflação tem sido forte. (Veja no gráfico abaixo.)


Os índices mensais podem ser maiores nos próximos meses. O mercado reduziu de novo para 0,25% a previsão do IPCA de setembro, mas outubro deverá ser um pouco maior — eles apostam em 0,4% — porque terminará o período de bons preços dos produtos hortifrutigranjeiros, que têm derrubado o item alimentação. O Itaú, no seu informativo semanal, diz que, mesmo com a alta dos combustíveis, sua previsão de IPCA para o ano é de 5,3%. Está mais pessimista que a média do mercado e, ainda assim, em somente 0,2 ponto percentual acima da meta. Pelo Itaú, a previsão do IGP-DI do ano é de 1,8%. Um IGP-DI assim indica preços de tarifas bem mais confortáveis para o bolso do consumidor e menos pressão na inflação de 2006.

Os dados da pesquisa Focus de ontem podem não ter trazido a revisão da previsão considerando os aumentos dos combustíveis, mas os bancos e os analistas que já o fizeram dizem que o reajuste não altera a convicção de que a inflação está convergindo para a meta. Isso não mudará com o novo aumento de combustível.

A economia vai bem e, depois de um ciclo de ajuste da política monetária excessivamente longo, agora começa um período de queda gradual das taxas. O mercado prevê que o ano terminará com a Selic a 18%, o que significa 1,75 ponto percentual de queda em quatro meses.

A pergunta que não quer calar é: e a política? Numa semana que começa com várias ansiedades, fica claro, de novo, que política e economia dançam juntas em ritmo diferente. Como são um par indissolúvel, há sempre temores de que uma influencie a outra negativamente.

A idéia de uma economia blindada completamente — que passa pela crise política sem ser afetada — é balela. Existe, sim, um processo de aperfeiçoamento da economia nas últimas duas décadas que, como disse a reportagem de capa da revista "Veja", reduziu o tamanho do Estado, abriu o país, estabilizou a economia e deu passos importantes na área fiscal. Mais aberto, mais competitivo, o Brasil pôde aumentar suas reservas, o volume do comércio exterior, reduzir a dívida e diminuir as vulnerabilidades. Isso faz diferença, mas não se deve desprezar o efeito de uma economia internacional em forte crescimento.

A imunidade não existe. A crise já está cobrando uma parte da conta: este ano poderia ter sido o melhor do governo Lula e o país vai crescer menos que os vizinhos e menos que o mundo. Uma virada na situação internacional certamente nos afetaria mais agora do que antes da crise política.

Há um problema nos dois calendários; político e econômico. Daqui para a frente, seria hora de derrubar os juros consistentemente, mês após mês. Por outro lado, setembro, outubro e novembro serão meses decisivos porque serão concluídos vários processos em andamento no Congresso, de apuração e cassação de mandatos. Serão meses tensos, com dias muito tensos. Os juros poderiam cair mais fortemente não fosse a crise política.

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