Oposição aumenta sua força e base vai cobrar seus votos com juros e correção Vitória é vitória, resultado dentro da regra e da ordem vigentes não se discute. Mas a votação apertada de Aldo Rebelo, a despeito do jogo para lá de pesado do governo para elegê-lo presidente da Câmara, não desenha o cenário favorável que a euforia da sofrida glória governista parece supor. O resultado mostra uma oposição forte como nunca se viu no Congresso nestes anos de reconquista democrática. Não há como falar em minoria quando o Senado é política e numericamente dominado pelos partidos oposicionistas que agora assumem o domínio de metade da Câmara, onde até a eleição de Severino Cavalcanti o governo reinava absoluto. Embora já sem o antigo vigor, continuou dando as cartas depois disso e, não por outro motivo, o Palácio do Planalto fez de tudo para que as CPIs da compra de votos e dos Correios fossem só de deputados e não mistas - da Câmara e do Senado -, como acabou acontecendo. Essa correlação se alterou e o novo perfil ficou exposto no placar do empate no primeiro turno e na contagem final de mais ou menos 3% de diferença do total dos votos. Isso no que tange aos números, porque há uma diferença mais ampla no que se refere ao conteúdo de um lado e de outro. A oposição mostrou firmeza e unidade. A aliança entre PFL e PSDB - com intenção explícita de antecipar movimento eleitoral de 2006 - foi acrescida da adesão da ala oposicionista do PMDB que, depois da rasteira dada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, na candidatura do presidente nacional de seu partido, Michel Temer, perdeu a cerimônia estratégica até então conservada no sal do cinismo e declarou guerra à ala governista. Essa tríplice aliança no dia-a-dia vai dar trabalho ao governo, que vai ser obrigado a negociar cada passo dentro da Câmara. E, se o cotidiano fosse dificultado apenas pela oposição, nem estaria tão mal. O problema mesmo será a chamada base aliada, cujo apetite, vimos mais uma vez agora, é amazônico. E ali, com o pessoal que traz o conceito do dito mensalão arraigado à alma, o negócio não é na base do discurso nem do debate: é no concreto, no toma-lá-dá-cá, no picadinho de todo dia, na pressão permanente e na possibilidade da traição latente ao menor sinal de contrariedade. Essa gente não vai dar trégua. Cobrará com juros e correção as promessas feitas para eleger Aldo Rebelo. Ainda mais agora que pôde medir o seu tamanho - graças ao teste propiciado pelas candidaturas de Luiz Antônio Fleury Filho e de Ciro Nogueira - e pesar a sua importância ante um PT enfraquecido (pelo próprio governo) e uma oposição fortalecida. Bumerangue Ainda que o novo presidente da Câmara pretenda mesmo pagar promessas de campanha com o abrandamento das penalidades dos mensalistas, o projeto é de difícil execução. Será estreitamente vigiado pela oposição e denunciado até por presunção de intenções heterodoxas. Se insistir e formar fileiras ao lado dos acusados, Aldo Rebelo contribuirá para dar à oposição as credenciais éticas que ela tanto busca para, no ano que vem, tentar derrotar o PT em seu antigo terreno. Quando recorre à fisiologia de olho apenas na vitória imediata, o governo ignora a força de um efeito bumerangue e acha que não acontecerá com ele a derrocada de imagem que atingiu outros partidos adeptos da mesma prática quando eram governos. Pode ser apenas conversa de oposição, mas muita gente boa no PFL e no PMDB se arrepende de ter pensado pequeno quando estava no poder porque hoje paga a conta do descrédito em função da prolongada submissão à lógica do benefício de curto prazo. Foice no escuro A briga no PMDB ficou feia de vez. O presidente do Senado, acusado de ter alimentado a candidatura de Temer à presidência da Câmara só para criar uma dificuldade a fim de vender posterior facilidade ao governo, foi recebido ontem por Temer com um lacônico "como vai o senhor" na cerimônia de filiação do ex-ministro do Supremo Maurício Corrêa. O presidente do PMDB considerou a presença de Renan Calheiros um acinte e anuncia que será pedida a expulsão dele do partido no domingo, durante reunião de pemedebistas promovida pelo governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, em Florianópolis. Novilíngua Aldo Rebelo não vê problema em presidir os processos de cassações, entre eles o de José Dirceu, tendo sido testemunha de defesa do ex-ministro da Casa Civil e eleito com apoio da esperança explicitada da absolvição dos ameaçados. Da mesma forma como o PT decidiu oficialmente que nada há de irregular no desvio do dinheiro (público) do Fundo Partidário para pagar passagem de avião às namoradas dos filhos do presidente Lula. No contexto É fato: o presidente do Senado almoçou ontem em seu gabinete duas enormes pizzas pedidas pelo telefone.
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Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, setembro 30, 2005
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