Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 23, 2005

Eta, governo medíocre! João Mellão Neto

 

O ESTADO DE S PAULO

A recente pesquisa CNI/Ibope representa a minha reconciliação com a opinião pública. Ela demonstra que o governo Lula, aos olhos da população, é avaliado, na média, entre regular e ruim. Este é o conceito que eu tinha desde o início.

Nunca acreditei que esse governo pudesse vir a ser melhor do que isso. No final de 2002, entre a eleição e a posse, quando me perguntavam o que esperava da futura gestão, eu respondia: mediocridade. As pessoas torciam o nariz.

No Brasil sempre prevaleceu a esperança sobre a experiência. O brasileiro é um povo cordial, ensinava Sérgio Buarque de Holanda. Cordial não no sentido de afável, mas no de que as nossas relações com o próximo e com a realidade são ditadas pelo coração. Somos emotivos e temperamentais.

Amamos e odiamos com a mesma intensidade. E, muitas vezes, nem sequer sabemos por que cultivamos um ou outro sentimento. Faz parte de nossa cultura incensar os novos governos. Atribuímos a eles qualidades e virtudes que não têm. Esperamos deles resultados que não nos podem proporcionar.

Desde que me entendo por gente, foi assim a cada novo presidente. Figueiredo, ao tomar posse, em 1979, era popularíssimo. Ganhou a alcunha de 'João do povo'. Sua incontinência verbal era vista como sinal de espontaneidade. Ele dizia que, para implantar a democracia era capaz de 'prender e arrebentar'. Apesar do evidente paradoxo - um autêntico democrata não prende nem arrebenta -, o povo achava graça. E, ao menos nos dois primeiros anos de governo, o João teimoso viveu a glória dos bem-amados. Ao final saiu amargurado, pedindo aos brasileiros que simplesmente o esquecessem. Foi sucedido por José Sarney, que, menos de um ano após a posse, foi endeusado ao lançar o Plano Cruzado. Todo mundo se dizia 'fiscal do Sarney'. Terminou seu mandato sob vaias.

Com Collor não foi diferente. No primeiro dia de mandato confiscou a poupança de todo mundo e - surpresa! - foi delirantemente aplaudido. Cometi o desatino, à época, de escrever um artigo questionando a necessidade e a eficácia de medidas tão drásticas. Recebi inúmeras cartas de leitores indignados, a mais delicada me pedia que deixasse o Brasil, já que eu não era um patriota... Dois anos e meio depois, Collor foi impedido, sob o repúdio geral da Nação. Itamar salvou-se do opróbrio popular graças ao Plano Real, ao qual era contrário, mas foi instado a fazer. Sucedeu-lhe FHC, o gênio da raça, que logrou manter-se popular por todo o seu primeiro mandato, mas caiu em desgraça logo após iniciar o segundo.

Moral da história: não é bom negócio criticar presidentes em início de governo. Mas eu sou teimoso. Venho apontando os erros e deficiências de Lula desde o primeiro dia de seu governo. E só agora, dois anos e meio depois, a opinião pública começa a me dar razão. Agora todos concordam que esse governo é medíocre e seu titular, um despreparado. Não me refiro aqui à questão moral. A indecência é por demais evidente.

Escândalos à parte, o governo é deficiente pelos próprios resultados administrativos que apresenta.

A começar pelo famigerado Fome Zero. O ambicioso programa, carrochefe do governo, foi lançado com espalhafato já no primeiro dia de mandato e se propunha a erradicar a fome no Brasil. Todo mundo achou altamente louvável, uma vez que Lula denunciou haver nada menos que 50 milhões de famintos no País. Não havia. Pesquisas posteriores do IBGE constataram que existiam muito mais obesos do que subnutridos no País. Não se falou mais no assunto e a meta caiu no esquecimento, não sem antes despender muitos bilhões de reais.

Todos acreditavam que os programas sociais seriam o ponto forte da gestão petista. Não foram.

Nada mais se fez do que unificar os programas de transferência de renda já existentes na administração anterior.

A política externa foi outro fiasco. Lula e seus diplomatas terceiro-mundistas pretendiam alçar o Brasil à condição de líder dos países em desenvolvimento. Dezenas de viagens foram empreendidas, concessões inexplicáveis foram feitas, dívidas de nações foram perdoadas, não se pouparam esforços para agradar aos países emergentes. Tudo em vão. Faltou perguntar aos demais chefes de Estado se estavam dispostos a aceitar a liderança do Brasil.Não estavam. E, assim, perdemos todas as disputas internacionais em que nos envolvemos.

No quesito eficiência administrativa, o desempenho do governo foi desastroso. Trocou-se o nepotismo pelo 'nepetismo'.

Dezenas de milhares de técnicos abalizados que ocupavam cargos de direção foram substituídos por cidadãos despreparados, cujo único predicado era serem militantes do PT. Como bons organizadores de passeatas não são necessariamente eficientes gestores administrativos, o resultado foi a paralisia total da máquina pública. Parte do superávit primário foi conseguida simplesmente porque os petistas não conseguiram aplicar de forma útil as verbas consignadas nos seus orçamentos.

Salvou-se apenas a política econômica, cujos resultados foram satisfatórios justamente porque o governo decidiu manter as metas e os critérios adotados na gestão anterior. O Brasil beneficiou-se da excelente conjuntura internacional, mas, mesmo assim, está crescendo a taxas inferiores às dos demais países emergentes. Nem é preciso falar dos escândalos para se chegar à conclusão de que esse governo é mixo mesmo. Basta analisar o seu desempenho.

O PT, pelo visto, é um caçador muito peculiar: atira na perdiz e acerta no perdigueiro. Haja mediocridade...

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