Os industriais voltaram, ontem, a criticar o que consideram uma desvalorização "excessiva" do dólar e cumprem o papel deles de defender um real menos valorizado, que ajuda os exportadores. O coordenador da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, disse que a trajetória cambial pode tornar gravosas as decisões de investimento dos exportadores.
Mas cabe registrar também a advertência de especialistas em câmbio, como a do ex-diretor da Área Internacional do Banco Central Emílio Garófalo. Em vez de julgar ótima a desvalorização, como o Ministério da Fazenda preocupado em combater a inflação, Garófalo alerta: "Em excesso, o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Se o dólar continuar em queda e começar a afetar as exportações, as empresas que vendem lá fora e também aqui dentro podem elevar os preços internos para compensar as perdas com a comercialização no mercado externo."
Até agora, o comportamento das contas externas é favorável e não parece prejudicar a política antiinflacionária. O superávit comercial é projetado em mais de US$ 40 bilhões neste ano. E os fluxos de capital, ou seja, a captação de recursos externos, têm sido tão positivos que o chamado risco Brasil caiu a 345 pontos básicos, ontem cedo, ante 354 pontos básicos, segunda-feira.
Mas algumas mudanças relevantes tenderão a ocorrer, nos próximos meses, à medida que se acentuem duas tendências opostas: juros básicos mais baixos no Brasil, determinados pelo Copom, e mais elevados nos Estados Unidos, fixados pelo FOMC. Com isso é possível que haja menos capitais disponíveis em 2006.
Por ora, o dinamismo da economia global e os elevados preços das commodities ajudam o Brasil a apresentar uma boa performance externa, apoiada, neste ano, por fatores inéditos, como a auto-suficiência em petróleo. Mas, para não perder o superávit na conta corrente, cabe continuar melhorando a competitividade dos bens exportados, se não for via câmbio, pela desoneração tributária.