Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 23, 2005

CLÓVIS ROSSI Chances, só para os amigos

 folha de s paulo

SÃO PAULO - Cumprindo o que parece ser sua única função desde que a crise deixou o governo completamente atoleimado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz discursos cada vez mais incompreensíveis.
No mais recente "pronunciamento", o do 7 de Setembro, o presidente chegou a dizer que seu governo estava redistribuindo renda. Será que não há no Palácio pelo menos uma alma piedosa para dizer que a distribuição está de fato se dando, mas em favor da "pátria financeira"?
Como bem lembrou Gustavo Patú, nesta Folha, alguns dias depois, o que os credores da dívida brasileira recebem, graças aos obscenos juros praticados pelo governo, é 20 vezes mais do que vai para programas sociais.
É óbvio que não foi o governo Lula que inventou a igualmente obscena desigualdade brasileira. Não é, pois, o único culpado, mas é culpado, sim, de não ter nem mudado um pouquinho o quadro nem posto no horizonte algo que permita acreditar que mudanças haverá, no século 22 ou 23, mas haverá.
Ao contrário. O mais recente relatório do Banco Mundial deixa claro, conforme o relato de Fernando Canzian nesta Folha, que "o Brasil reúne quase todos os ingredientes possíveis (...) para continuar perpetuando essa situação" (estar entre os quatro países mais desiguais do mundo).
Note-se que o estudo não vem de uma dessas ONGs que se reúnem a cada janeiro para cantar que "outro mundo é possível". O canto dessa gente é sistematicamente desprezado pelas elites, das quais o PT e o próprio presidente passaram a fazer parte destacada. Dizem que são radicais.
Talvez sejam, mas e daí? Não é igualmente uma situação brutalmente radical estar entre os quatro países mais desiguais do mundo?
O Banco Mundial não pede o céu. Pede apenas "chances iguais a todos, independentemente de cor, raça ou nível social".
Pena que o governo do PT tenha dado chances apenas aos Delúbios, Valérios e Toninhos da Barcelona.

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