O GLOBO
Desde a semana passada, o mercado especula sobre a possibilidade de o Brasil ser promovido pelas agências de risco. Ontem, a Moody's falou claramente que o país pode ser elevado no ranking. E se for? Continuará sendo classificado como investimento arriscado e muito longe do nível que interessa — no qual estão México e Chile — que é o de um país "investment grade", ou melhor, um bom investimento.
Para a Moody's, o Brasil é B1. Isso significa que só na quarta mudança, depois de subir os degraus Ba3; Ba2, Ba1 e, finalmente, chegar ao Baa3, ele alcança o nível considerado bom investimento.
Chegar lá significa reduzir o custo de todas as empresas e do setor público brasileiros em suas captações no exterior.
O fato concreto é que os indicadores brasileiros melhoraram fortemente e, pela cartilha das agências, o Brasil já tinha que ter sido promovido. Mas continua tendo uma classificação pior que a do Peru e a da Colômbia.
Para a Moody's, a crise política tem atrapalhado. Mesma conclusão a que chegou o World Economic Forum, que jogou o Brasil a oito degraus abaixo na classificação de competitividade por causa da crise política. Esses rankings de competitividade são sempre bem discutíveis, com uma enorme dose de arbitrariedade de quem faz.
A Fitch, na terça-feira, disse que é a crise política o impedimento, mas não explicou muito bem o que isso produz na economia. O Brasil é um país há sete anos com superávit primário e metas cumpridas, com superávit em transações correntes há três anos, com um saldo de US$ 40 bilhões na balança comercial, no qual a dívida externa está caindo e que está pagando antecipadamente ao FMI, encerrando um longo período de monitoramento externo da economia.
Agências de risco olham esses dados objetivos. Mas, como os dados brasileiros estão muito melhores que o nível em que o Brasil está estacionado, os analistas estão usando argumentos subjetivos agora. É a tal coisa: ou eles mudam a metodologia de avaliação, ou promovem o Brasil.
Um argumento muito usado é que a divida brasileira é grande e a carga tributária é alta. São mesmo, mas o México disfarça ambas. O governo mexicano se financia pegando a parte do leão das receitas (não é do lucro, é das receitas mesmo) da Pemex. Assim é fácil reduzir a carga e a dívida. É o mesmo método usado pela Venezuela. A Codelco na China financia os gastos militares.
A Fitch fez uma lista dos riscos que poderiam afetar o Brasil: os preços das commodities estão altos, principalmente os de petróleo; há riscos de a China reduzir o crescimento; o Brasil enfrentará um ano de volatilidade eleitoral; os juros estão altos demais, reduzindo o crescimento e o país tem investido pouco em infra-estrutura.
Nessa salada feita pela agência, há problemas que se anulam. Se a China crescer menos, o petróleo cai, evidentemente. Mas, se a China parar de crescer, isso afeta não apenas os emergentes, mas a economia mundial. Afeta principalmente a China mesmo. Com a pressão demográfica que têm, com a multidão de pobres que têm, se eles crescerem menos será um grande problema. Na última vez que o crescimento caiu, entre 89 e 90, houve a explosão de manifestações que acabou no massacre da Praça da Paz Celestial.
O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, que está nos Estados Unidos, entre outras razões para mostrar às agências classificadoras a melhora nos números da economia brasileira, contesta todos os argumentos. Todos? Não; menos um. Nada quis falar sobre o fato de a taxa de juros ser muito alta no Brasil. Sobre o preço do petróleo, Levy disse que isso não afeta diretamente as contas brasileiras, porque o país é praticamente auto-suficiente:
— Além disso, o aumento do preço da energia cria novas oportunidades para o álcool e bioderivados, que ficam muito competitivos com o petróleo a US$ 60 o barril.
Levy não acha que a China vá parar de crescer, porque os últimos dados são de que o crescimento aumentou. Também disse que a eleição do ano que vem no Brasil não preocupa a maioria dos analistas:
— Os melhores analistas financeiros do país, alguns pouco afeitos à ribalta e com experiência em governo, e em dirigir grandes fundos, têm dito que os riscos de reversão na política econômica são muito pequenos — afirma.
Dos seus argumentos, o mais difícil de aceitar é o de que o Brasil está investindo este ano em infra-estrutura muito mais do que em anos anteriores:
— Estão sendo investidos R$ 7 bilhões nos transportes — garante.
Bom, então não se vê a olho nu nas estradas e portos do nosso Brasil sinal desta onda de investimento.
Há questões subjetivas e, sobre elas, pode-se discutir, mas o córner em que as agências de classificação de risco estão é que, objetivamente, o Brasil melhorou muito e tudo o que aconteceu, por parte delas, foi a melhora de um sinal aqui e ali: de negativo para neutro ou para positivo. Assim, o país continua no mesmo nível de risco de quando tinha indicadores bem piores.
DAS ARÁBIAS: o governo Lula completou, nas últimas horas, mil e uma noites no poder.
Entrevista:O Estado inteligente
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