Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 24, 2005

Diogo Mainardi Lulismo e malufismo

VEJA

"Não dá para entender a natureza malufista
do lulismo sem analisar o caso de Naji Nahas.
A sua especialidade é facilitar a passagem de
dinheiro do setor público para o setor privado.
E intermediar a passagem de dinheiro
do setor privado para os políticos"

Naji Nahas é a figura mais extravagante do lulismo. Não dá para entender a natureza malufista do lulismo sem analisar seu caso. Ao mesmo tempo em que é investigado pela roubalheira no túnel de Paulo Maluf, Nahas é investigado pela roubalheira na coleta de lixo de Marta Suplicy. O lulismo não existiria sem o malufismo. Um é cria do outro.

Em 1989, Nahas foi acusado de provocar uma quebradeira no mercado acionário. Inicialmente, condenaram-no a uma pena de 24 anos e oito meses de prisão. Depois de muitas idas e vindas, a questão ainda se arrasta nos tribunais. Em junho deste ano, o STJ considerou que o crime estava prescrito. Dois meses depois, os juízes voltaram atrás. Nahas não se abate. Continua a fazer negócios. O capitalismo brasileiro é parasitário. Depende da boa vontade política. A especialidade de Nahas é facilitar a passagem de dinheiro do setor público para o setor privado. E intermediar a passagem de dinheiro do setor privado para os políticos. Nahas vive dessa promiscuidade. Um dia alguém precisa escrever um estudo aprofundado sobre ele. É um dos personagens mais representativos dos últimos trinta anos da história nacional.

Uma fonte me contou que Nahas se aproximou de Lula em 2002, doando dinheiro à campanha presidencial. O dinheiro, segundo minha fonte, pertenceria ao príncipe Bandar. Deve ser mentira. Há muitos mitos em torno de Nahas. O fato é que Lula encontrou o príncipe Bandar duas vezes. O primeiro encontro, em junho de 2003, foi num jantar reservado na cidade francesa de Evian. O segundo encontro foi em fevereiro de 2004, quando o príncipe Bandar veio ao Brasil, para estudar a possibilidade de investir numa refinaria de petróleo, no Ceará. Nahas articulou os dois encontros. O príncipe Bandar é o embaixador da Arábia Saudita nos Estados Unidos. Foi o maior incentivador da guerra no Iraque. Prometeu segurar o preço do petróleo para garantir a reeleição de George Bush. Ele representa o contrário de todos os embustes que o lulismo sempre despejou sobre nós.

A batalha entre as operadoras de telefone está na origem do mensalão. Para abafar o caso, Lula precisa pacificar o setor. Nahas é sua melhor opção. Ele já conseguiu vender à Telecom Italia a cota de Daniel Dantas na Brasil Telecom. Agora o principal parceiro de Nahas, Delfim Netto, está intimando o Citibank a aceitar uma oferta semelhante, abrindo mão de um acordo altamente vantajoso com os fundos de pensão. Os fundos de pensão, por sua vez, terão de se contentar com uma oferta incomparavelmente pior. É o preço que Lula está disposto a pagar para tentar salvar o que lhe resta do mandato. Lula acredita que, com muito dinheiro, poderá calar a boca de todos aqueles que foram achacados pelo governo. Não vai dar tempo. Ele acaba antes.

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