Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 13, 2005

Luiz Garcia Gerontocriminologia

o globo



Rezemos para que seja apenas coincidência o fato de que grande parte das manchetes dos próximos dias será dedicada às estripulias — e talvez, espera-se, desventuras — de dois septuagenários. Não temos tido grandes êxitos na redução dos índices de delinqüência infanto-juvenil, muito menos na repressão aos crimes de jovens adultos. Alguém acha que a sociedade está preparada para fazer face à delinqüência geriátrica em larga escala?


Alguns dirão que duas andorinhas não fazem verão. Tomara. Mas é bom rezar para que os imbróglios envolvendo Paulo Maluf e Severino Cavalcanti sejam mesmo situações isoladas, uma coincidência etária que não anuncia o advento de novo pesadelo. Mas seguro morreu de velho (algo me diz que esse não é provérbio adequado) e é bom autoridades e estudiosos se prepararem para uma multiplicação de severinos e malufs, principalmente se ambos escaparem, ilesos ou quase, das acusações que enfrentam.

Se a vida e principalmente a lei não ensinaram a um septuagenário que é mau negócio, além de crime, receber mensalinhos de concessionários de serviços concedidos pelo Estado, ou acumular fortunas secretas no exterior — numa ilha no Canal da Mancha, por exemplo — por que continuar a dar duro depois dos 40 ou dos 50? É esse o recado que os nossos dois setentões, se formalmente declarados culpados, estarão mandando aos seus contemporâneos e aos um pouco mais moços.

Se o pai escapar de mais esta, de que forma estará ganhando a vida Maluf Júnior quando chegar aos 70? Especialmente levando-se em conta o know-how já adquirido na gerência dos dólares e euros paternos? E o filho de Severino, estará ensinando sua própria prole a ganhar a vida por mérito pessoal ou em posição conquistada com pedido político? E quantos dos companheiros de geração dessa dupla não estarão procurando seguir-lhes o exemplo?

Se por acaso existe uma gigantesca conspiração de políticos injustos, maldosos policiais e cruéis procuradores, Maluf e Severino merecem pedido de perdão em praça pública. Sendo outra a realidade, é vital que a idade não lhes sirva de álibi ou atenuante. Porque a sociedade, já se defendendo em tantas frentes, com certeza não terá como enfrentar ondas de desafio à lei pelos da terceira idade. Tremo só de pensar: quadrilhas de delinqüentes senis? A gang de cabelos acaju enfrentando a máfia dos carecas?

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