Cooptação fisiologista mostra que políticos não apanharam o suficiente com a crise O resultado do primeiro turno da eleição para a presidência mostrou uma Câmara dividida entre dois grandes blocos adversários, numericamente equilibrados e politicamente definidos, pólos de poder em cuja órbita gravitam satélites de convicções flexíveis. Foram 135 os chamados votos "soltos" - considerando as candidaturas de Alceu Collares (PDT), Luiz Antônio Fleury (PTB) e Ciro Nogueira (PP) - , disponíveis para as negociações dos candidatos do governo e da oposição que se enfrentariam a partir do início da noite. A despeito do empate, decepcionante e inesperado para os governistas depois que o Palácio do Planalto resolveu girar a manivela da fisiologia, dando de ombros para o debate ético subjacente à crise, o resultado definitivo era absolutamente imprevisível e, de certa forma, indiferente para quem vê o jogo de fora. Tenha sido eleito Aldo Rebelo ou José Thomaz Nonô, até pela paridade de forças exibida no primeiro turno, nem governo nem oposição teriam chance ou respaldo para se sobressair de forma muito acentuada sobre o adversário. Ao governo não será permitido dar as cartas nem impor o abrandamento nos processos de investigação em curso; tampouco a oposição, se ganhar, estará autorizada a usar a presidência com o fito de criar problemas ao governo. A eleição de um ou de outro deixa de fora do cenário o fator de imprevisibilidade contido em candidaturas novidadeiras. Severino bastou e ontem a Câmara rendeu-se à evidência de que brincadeira tem hora. Desse ponto de vista, o mais superficial, esteve tudo até muito bem ajeitado e o respeitável público poderia mesmo respirar aliviado não fossem os meios e modos adotados para conquistar votos. A rapidez com que o Palácio do Planalto se realinhou à bancada do mensalão ao ponto de o presidente da República sentar com o réu confesso Valdemar Costa Neto, para negociar e levar à sua sala deputados integrantes da lista de cassações, é por si o resultado de um exame de corpo de delito. Mostra que o PT cometeu o que se convencionou chamar eufemisticamente de "equívocos", plena e moralmente respaldado pela convicção do governo do que seja o relacionamento entre forças políticas. Explica também porque o presidente Luiz Inácio da Silva até hoje não fez autocrítica, não apresentou escusas nem apontou responsáveis pelos "equívocos": ele simplesmente não achou que houvesse algo de errado no fato de o PT dar dinheiro (vá lá, para financiar campanhas) aos partidos em troca de suas presenças na base de apoio no Parlamento. Tanto é assim que fez de novo e agora já sem nenhuma cerimônia: liberou dinheiro de emendas parlamentares ao Orçamento e o ministro do Planejamento foi para a televisão dizer que atendeu a pedido do ministro da Articulação Política; prometeu a devolução de cargos tomados dos partidos em função das denúncias de corrupção; acenou com R$ 1 bilhão em verbas do Ministério dos Transportes; mergulhou na lama para ganhar alguns instantes de fôlego com a cabeça de fora do lamaçal. A oposição tampouco foi vestal na busca dos votos. Não tinha nada a oferecer no tocante a benesses estatais, mas usou e abusou da lógica da fisiologia para pescar na seara governista. Dizendo aos mensalistas de espírito que a eleição de um oposicionista manteria o governo sob estresse constante e, desse modo, seria mais fácil fazê-lo ceder a cada necessidade parlamentar. Por esse raciocínio, eleito Aldo Rebelo o Planalto não estaria obrigado a cumprir as liberações prometidas. Ou seja, em matéria de lógica aplicada à conquista de votos numa disputa parlamentar, governo e oposição continuam na mesma, se equivalem, não aprenderam coisa alguma com a crise. Perdem, com isso, muito da autoridade para defender a votação às pressas de alterações na legislação eleitoral ou propor mudança na Constituição para postergar os prazos, sob o argumento de que não é possível enfrentar uma eleição no ano que vem com as mesmas regras que sustentam as deformações do sistema. Uma falácia, aliás, pois na origem da crise não estão as leis mas as condutas agora repetidas numa demonstração de que o mundo político não apanhou o suficiente na crise. Negócio fechado O vice-presidente da República, José Alencar, disse a Anthony Garotinho que o presidente do Senado, Renan Calheiros, assegurou ao presidente Lula que o PMDB não terá candidatura própria em 2006. Sendo assim, Calheiros ocuparia a vice na chapa da reeleição. Por causa dessa combinação, explicou Alencar a Garotinho na noite de terça-feira, ele desistiu de se filiar ao PMDB. Em minutos, Garotinho contou a história aos companheiros de ala oposicionista, que resolveram declarar guerra a Calheiros. A primeira batalha foi o duro discurso de Michel Temer ontem contra o presidente do Senado. DNA A decisão do PSOL de não votar, alegando falta de legitimidade na eleição da Câmara, remete à recusa do PT de votar no Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves em 1985.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, setembro 29, 2005
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