Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, setembro 26, 2005

VINICIUS TORRES FREIRE Urubus políticos e partidos

FOLHA DE S PAULO
 SÃO PAULO - O PMDB e debates sobre reforma política são sinais típicos de que um governo definha. Quando a gente vê muito urubu, sabe que tem bicho morto ou lixão por perto.
O PMDB e os debates sobre reforma política se alimentam dos restos da ilusão de um governo, partido ou plano redentor e da crise subseqüente ao fiasco. O governo torna-se minoritário, há inflação ou desordem no mercado político? O PMDB infla e oferece préstimos, como agora.
Politólogos, politiquentos e demagogos em geral passam a discutir "reforma política". Querem partidos fortes e facilidade de formação de maiorias no Congresso. "Sem partidos fortes, não há democracia", diz o clichê.
Isto é, partidos disciplinados e que agreguem idéias e interesses sociais precisos. Trata-se de mais uma ilusão, mais uma macaquice política e teórica, como se o desenvolvimento de países centrais, ricos, pudesse se repetir sem mais por aqui.
Os partidos brasileiros até dispõem de anzóis sociais -âncoras seria demais. O PSDB é o partido "moderno": do grande empresário, tecnocrata e executivo, da classe média, da paulistocracia. O PT é ou era sua contraparte sindical. O PFL é a sublegenda atrasada dos tucanos, da oligarquia nordestina e de seus servos. Mas o partido maior mesmo é o Partido da Massa Disforme Brasileira, ou sua versão formal, o PMDB.
O PMDB é o MDB peneirado de tucanos e petistas, o restante de vários governos desastrosos eleitos no estelionato eleitoral de 1986. É a sublegenda do partido conservador de qualquer cidade, de muita elite municipal, da oposição conservadora ao representante local da ditadura e seus subseqüentes rearranjos .
O núcleo idológico-social de PSDB, PT e PFL é pequeno. Inflam ou desinflam de acordo com a oportunidade de poder que oferecem. Quem não se adapta fica no PMDB e nos satélites do mercado de varejo político.
Os partidos são regionais, caciquistas e clientes do Estado. Uma reforma "disciplinadora" tende a reforçar o caciquismo. Se o sistema partidário é uma geléia, a causa não é formal, legal. Entre outros tantos motivos, o sistema não tem espinha por faltar um partido popular de verdade.

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