o globo
Mangabeira Unger, do ponto de vista técnico, está sem filiação partidária para aceitar o convite de pequenos partidos para ocupar tempo na televisão, onde tem aparecido apresentado por Caetano Veloso, que o classifica de "o aventureiro do bem". É o caso do Partido Humanista da Solidariedade (PHS), de um grupo da Igreja Católica liderado pelo Padre Fernando Bastos D'Ávila, da PUC, comprometido com a doutrina social da Igreja.
Mas sua disposição é formalizar refiliação ao PDT, partido a que está ligado há 20 anos, para ser candidato a presidente da República. Professor-titular de direito da Universidade de Harvard, um dos mais jovens desde a fundação, no século XVII, e membro da Academia Americana de Artes e Ciências, Mangabeira faz cursos abertos sobre o pensamento social, econômico e político.
Não é um neófito na política. Trabalhou na construção do PMDB com Ulysses Guimarães, e é autor do manifesto de fundação do partido, que, segundo ele, deveria ser uma aliança dos liberais-progressistas com a esquerda independente, projeto que começou a ser inviabilizado, na sua avaliação, quando o grupo de Tancredo Neves desistiu do PP e voltou ao PMDB. "Aí começou o lento processo de desfiguração do partido, até chegar hoje a que é, uma massa inorgânica". Foi então que Mangabeira foi para o PDT. "Eu não acreditava no PT, via nele um partido que representava uma confederação de interesses corporativistas, a minoria organizada do povo. E o partido de Brizola me parecia que mantinha um vínculo com a tradição trabalhista brasileira e com o grande enigma do país, que é essa maioria desorganizada".
"Depois de muitos episódios de engajamento frustrado na política brasileira, me convenci da necessidade de me expor e de passar para a linha de frente, e não apenas atuar por meio de outros", diz Mangabeira, frisando ironicamente: "Descobri o óbvio, que o outro é o outro. E algo menos óbvio, que é mais fácil mudar um país do que mudar uma pessoa".
Ele diz que não tem ilusões sobre as dificuldades. "Não sou político, falo com sotaque estrangeiro, sou desajeitado, mas acho que o povo brasileiro é singularmente despido de preconceitos e que o país tem fome de alternativa". Quanto ao acentuado sotaque, Mangabeira diz que "alguns acham que é um obstáculo terrível, e praticamente excludente, e outros acham que não tem importância alguma, e que o povo passa por cima disso". Mangabeira diz que tem esse sotaque porque passou a infância fora do país, e não vai se render por conta disso: "Vou lutar. E seu meus concidadãos julgarem que não presta alguém que fale com sotaque, então aceitarei o julgamento".
Ele aborda esse assunto diretamente nas palestras que faz pelo país, e já cunhou uma explicação agressiva: "Digo que falo com sotaque, mas, ao contrário dos homens que vêm dirigindo o país, eu não penso com sotaque". Mangabeira tem uma maneira curiosa de enfrentar a questão: "Nós estamos emergindo como país numa fase caracterizada pelo poder hegemônico dos Estados Unidos. Se há alguém preparado no Brasil para liderar nossa afirmação nacional face aos Estados Unidos sou eu, que conheço intimamente os Estados Unidos, conto entre meus alunos com figuras da elite empresarial e política e culturais".
As viagens que faz pelo país têm dois objetivos práticos: dialogar com as bases do PDT, e ocupar espaços na mídia local. "Estou me dirigindo à pequena minoria politizada do país, que está separada da maioria por um fosso imenso. Meu trabalho é de fé, para depois ganhar os instrumentos para me dirigir àquela massa do outro lado do fosso. Vejo que há muito calor, sobretudo dos jovens. Centenas de jovens se apresentam para trabalhar como voluntários". Mangabeira diz que quem não gosta do que está fazendo, acha que é "uma espécie de Antonio Conselheiro, messiânico, romântico". Quem gosta, o considera "um D. Quixote, e que minha iniciativa, embora muito difícil, é benéfica ao país, pois vai ajudar a qualificar o debate".
Ele acha que estão subestimando um paradoxo de nossa política presidencial: uma pessoa pode tornar-se conhecida em poucas semanas de campanha presidencial. E o eleitorado brasileiro, ao contrário do americano ou europeu, não é avesso ao risco, pelo contrário. Seus erros históricos têm sido erros de excesso, e não de falta de audácia.
Mangabeira está convencido de que o eleitorado está procurando uma alternativa, "buscando a porta de saída, e as luzes estão apagadas". Por isso ele acredita que o PDT o escolherá, e não ao senador Cristovam Buarque, como candidato a presidente: "Ele me parece um homem de bem, mas seria um disparate o PDT adotá-lo como candidato. Ele insiste em que não precisa mudar nada no modelo econômico, foi ele que propôs que o Malan continuasse a ser ministro no governo do PT, foi ele que lutou a favor da reforma da Previdência, e assim por diante".
Mangabeira diz que o PDT apoiar Cristovam Buarque "seria lutar pelo quarto mandato do Fernando Henrique Cardoso".
A tarefa do PDT, para ele, é demonstrar ao povo brasileiro que "existe uma alternativa, que é moderada, sóbria, factível, mas contrastante com o rumo dominante". O cerne dessa alternativa seria "a democratização das oportunidades econômicas e educativas", e um "enquadramento dos interesses financeiros e sua subordinação aos interesses do trabalho e da produção". Ele fala em "enfrentamento com os credores da dívida interna", sabendo que causará polêmica, mas adianta que "não precisamos nem devemos fazer uma moratória unilateral. Mas se precisarmos fazê-lo, não será o fim do mundo. Aí estão a Argentina e a Rússia para demonstrá-lo".
Entrevista:O Estado inteligente
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