O GLOBO
O relatório de inflação divulgado ontem trouxe uma longa lista de notícias boas: a inflação caiu, o país está crescendo, crescem as importações de bens de capital, a renda do trabalhador está em recuperação, o país vai aumentar as reservas cambiais pelo terceiro ano, mesmo pagando antes ao FMI. Vinda da área política, uma dúvida se dirige para o Banco Central: será que Henrique Meirelles vai se filiar hoje? No governo, a notícia é negada.
A um interlocutor que perguntou a ele ontem se, de fato, está pensando em se filiar a um partido político no prazo que termina hoje, Henrique Meirelles respondeu: "Há baixa probabilidade de eu me filiar a algum partido." Baixa probabilidade é alguma probabilidade. A outro interlocutor, mais para o fim da tarde, Meirelles disse que tinha recebido convites de vários partidos, mas que as possibilidades eram "remotas". Ainda assim, fica a dúvida: possibilidade remota é alguma possibilidade. Hoje é o dia decisivo. Se ele assinar um documento, tem que assinar dois: a ficha partidária e a demissão do Banco Central; não necessariamente nessa ordem. Filiando-se a qualquer partido, está, na prática, revelando ambições políticas para a próxima eleição e, neste caso, tem que deixar o cargo imediatamente. Política e Banco Central são incompatíveis.
No relatório de inflação do terceiro trimestre divulgado ontem, o BC projeta uma inflação abaixo da meta para este ano e para o ano que vem, no cenário de referência, ou seja, se não houvesse qualquer mudança nos juros, nem no câmbio. Portanto, não é que o Banco Central esteja projetando uma inflação abaixo da meta, está apenas dizendo que, se tudo permanecesse constante, ela ficaria abaixo. Mas ficaria bem abaixo da meta no ano que vem. O que é o mesmo que dizer que, sim, os juros vão continuar caindo. E é bom lembrar que os cálculos foram feitos com um dólar a R$ 2,35 e ele está em R$ 2,21.
No cenário que traça usando os juros e o câmbio projetados pelo mercado, a inflação no ano que vem fica na meta durante os três primeiros trimestres e no último fica um pouco acima, em 4,8% (a meta é 4,5%). O problema é que, neste cenário, o Banco Central projeta como inflação de preços administrados 6,7%. Ninguém está prevendo preços administrados tão altos, porque os IGPs estão beirando zero no acumulado do ano. Claro que nem só de IGPs vivem os preços administrados, mas, em grande parte, sim. O IGP-M divulgado ontem foi a quinta deflação seguida. No ano, está em 0,21%. O IPA-M, também no ano, está com uma deflação de quase dois pontos percentuais.
A dúvida no mercado é: tanta desinflação está sendo feita com o sacrifício do nível de atividade? O Banco Central garante que não no relatório, mas são muitos os economistas hoje convencidos de que os juros estão muito mais altos do que deveriam estar e que isso está reduzindo o ritmo de atividade.
— Este é um ponto hoje sem consenso no mercado. Na minha visão, é um meio-termo. O país está crescendo, sim, mas poderia crescer mais. Nossa previsão é de um crescimento de 3,5% este ano e neste mesmo nível no próximo. Mas o mundo está tendo um crescimento fantástico. A gente está fazendo parte de um movimento ou sendo puxado por ele? — diz o economista Luís Fernando Lopes, do Banco Pátria.
Guilherme da Nóbrega, da Itaú Corretora, diz que o relatório veio meio atrasado, porque só confirma o que, de certa forma, já estava posto pelo próprio Banco Central: que haverá novos cortes de juros. Ele acredita que será de 0,5% no próximo mês. O economista discorda da crítica sempre feita de que o BC é conservador. Acha que ele apenas segue o manual.
Há muita divergência a esse respeito. Economistas experientes acham que, na verdade, o BC foi muito além da conta na elevação dos juros.
— Ele parece tentar derrubar a inflação abaixo da meta e, se for isso, é um erro, porque o BC tem que mirar o centro da meta, mas lembrando que ela pode ser mais dois ou menos dois. Não é razoável arriscar ficar abaixo da meta no ano que vem a esse custo. Não podemos nos dar ao luxo deste juro real pelo preço pago em produto, em dívida/PIB e em risco percebido — comenta um economista.
É isto: juros tão altos reduzem o crescimento do PIB; o fato de estar crescendo este ano não é prova de que os juros foram inofensivos. Eles diminuíram o crescimento possível. Juros altos aumentam a relação dívida/PIB porque impactam negativamente os dois lados dessa relação, e isso tudo aumenta o risco percebido pelo investidor. Bancos Centrais perseguem a meta, mas não perseguem o objetivo de levar a inflação abaixo da meta. Pode acontecer, mas não pode ser o objetivo.
No texto do relatório de inflação, o BC defende como acertada a sua política. Logo no início, diz que "contrariando algumas análises prevalecentes, que antecipavam perda de dinamismo". De fato, o PIB do primeiro trimestre foi ruim, mas, no segundo, teve recuperação. O relatório contou uma boa história: o Banco Central inverteu a curva da inflação e levou-a para a meta. Mas parece claro, em alguns dados como o câmbio, que os juros já deveriam ter caído mais fortemente e há mais tempo.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
setembro
(497)
- A votação mais cara do mundo Bruno Lima Rocha
- LUÍS NASSIF Efeitos dos títulos em reais
- Batendo no muro LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Dirceu entre a inocência e a onipotência MARCELO C...
- ELIANE CANTANHÊDE Nova República de Alagoas
- CLÓVIS ROSSI O país do baixo clero
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO O ELEITO DE LULAL
- DORA KRAMER Agora é que são elas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Despudores à parte
- João Mellão Neto Como é duro ser democrata
- Roberto Macedo Na USP, uma greve pelas elites
- EDITORIAL DE O GLOBO Cidade partida
- MERVAL PEREIRA O gospel da reeleição
- Luiz Garcia Juiz ladrão!
- MIRIAM LEITÃO Políticas do BC
- Raça, segundo são João Jorge Bornhausen
- Cora Rónai Purgatório da beleza e do caos
- Fundos e mundos elegem Aldo
- EDITORIAL DE O GLOBO Desafios
- A Derrota Política do Governo!
- MERVAL PEREIRA Vitória do baixo clero
- MIRIAM LEITÃO Sem medidas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Atrasado e suspeito
- DORA KRAMER Muito mais do mesmo
- LUÍS NASSIF Indicadores de saneamento
- ELIANE CANTANHÊDE Vitória das elites
- CLÓVIS ROSSI A pouca-vergonha
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO NORMA ANTINEPOTISMO
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DESVIOS SEMÂNTICOS
- Aldo vence, dá gás a Lula e esperança aos "mensale...
- JANIO DE FREITAS Dos valores aos valérios
- EDITORIAL DO JB A vitória da barganha
- AUGUSTO NUNES Berzoini foi refundado
- Se não se ganha com a globalização, política exter...
- Fome de esquerda Cristovam Buarque
- A valorização do real em questão
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO A debandada dos p...
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Precisa-se de ger...
- Ineficiência fiscal e a 'Super-Receita' Maurício M...
- DORA KRAMER Adeus às ilusões
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO OS DEPUTADOS DECIDEM
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MAIS DO MESMO
- CLÓVIS ROSSI Cenas explícitas de despudor
- FERNANDO RODRIGUES Uma Câmara submissa
- ELIO GASPARI Bicudo foi-se embora do PT
- LUÍS NASSIF A discussão do saneamento
- "Upgrade" PAULO RABELLO DE CASTRO
- EDITORIAL DE O GLOBO Gastamos mal
- EDITORIAL DE O GLOBO Chávez fracassa
- No governo Lula, um real retrocesso HÉLIO BICUDO
- MIRIAM LEITÃO Das boas
- MERVAL PEREIRA A base do mensalão
- A frase do dia
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Desculpas não bastam
- Jóia da primavera Xico Graziano
- Oportunidade perdida Rubens Barbosa
- DORA KRAMER Com aparato de azarão oficial
- LUÍS NASSIF Os caminhos do valerioduto
- JANIO DE FREITAS Esquerda, volver
- ELIANE CANTANHÊDE Todos contra um B
- CLÓVIS ROSSI A crise terminal
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO FRAUDES NO APITO
- Diferença crucial RODRIGO MAIA
- EDITORIAL DE O GLOBO Dois governos
- Arnaldo Jabor Manual didático de ‘canalhogia’
- MIRIAM LEITÃO Além do intolerável
- MERVAL PEREIRA Espírito severino
- AUGUSTO NUNES Os bandidos é que não passarão
- A crueldade dos humanistas de Lancellotti Por Rein...
- O Cavaleiro das Trevas
- Juristas Dizem Que Declarações DE DIRCEU São Graves
- O PT e a imprensa Carlos Alberto Di Franco
- A outra face de Lacerda Mauricio D. Perez
- Reinventar a nação LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
- VINICIUS TORRES FREIRE Urubus políticos e partidos
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CHÁVEZ E A POBREZA
- AUGUSTO NUNES Os gatunos estão em casa
- MERVAL PEREIRA O fator Mangabeira
- João Ubaldo Ribeiro Mentira, mentira, mentira!
- MIRIAM LEITÃO Eles por eles
- DORA KRAMER Um perfil em auto-retrato
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Contraste auspicioso
- Gaudêncio Torquato O horizonte além da crise
- São Paulo olhando para o futuro Paulo Renato Souza
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MOMENTO IMPORTANTE
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DÍVIDA EXTERNA EM REAL
- CLÓVIS ROSSI As duas mortes de Apolônio
- ELIANE CANTANHÊDE Malandro ou mané?
- LUÍS NASSIF A reforma perdida
- Para crescer, é preciso investir em infra-estrutur...
- FERREIRA GULLAR Alguém fala errado?
- JANIO DE FREITAS Nada de anormal
- Lula também é responsável, afirma Dirceu
- Augusto de Franco, A crise está apenas começando
- Augusto Nunes Uma noite no circo-teatro
- Baianos celebram volta de Lula a Brasília
- Lucia Hippolito Critérios para eleição de um presi...
- MERVAL PEREIRA A voz digital
- MIRIAM LEITÃO O perigo é olhar
- FERNANDO GABEIRA Notas sobre os últimos dias
-
▼
setembro
(497)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA